Não há um único assunto
relevante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo de qualidade. Os temas
das nossas conversas são, frequentemente, determinados pelo noticiário e pela
opinião dos jornais. A imprensa é, de fato, o oxigênio da sociedade. As redes
sociais reverberam, multiplicam, agitam. Mas o pontapé inicial é sempre das
empresas de conteúdo independentes. Sem elas a democracia não funciona.
O jornalismo não é antinada.
Mas também não é neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está
vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é,
ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana,
respeito às minorias, promoção da livre-iniciativa, abertura ao contraditório.
Por isso os jornais são fustigados pelos que desenham projetos autoritários de
poder. O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas
com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada
e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
As redes sociais e o
jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo
comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera
pública, de mobilização do cidadão. Suscitam debates, geram polêmicas, algumas
com forte radicalização, exercem pressão. Mas as notícias que realmente
importam, isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não
de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, e
sim de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade,
algo que está na essência dos bons jornais.
A confiança da população na
qualidade ética dos seus jornais tem sido um inestimável apoio para o
desenvolvimento de um verdadeiro jornalismo de buldogues. O combate à corrupção
e o enquadramento de históricos caciques da política nacional, alguns sofrendo
o ostracismo do poder e outros no ocaso do seu exercício, só são possíveis
graças à força do binômio que sustenta a democracia: imprensa livre e opinião
pública informada.
Poucas coisas podem ter o
mesmo impacto que o jornal tem sobre os funcionários públicos corruptos, sobre
os políticos que se ligam ao crime, que abusam do seu poder, que traem os
valores e os princípios democráticos. Os jornais, de fato, determinam a agenda
pública e fortalecem a democracia. Políticos e governantes com desvios de
conduta odeiam os jornais. Mas eles são, de longe, os grandes parceiros da
sociedade, a âncora da democracia.
Navega-se freneticamente no
espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Fica-se
refém da superficialidade e do vazio. Perde-se contexto e sensibilidade
crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade.
Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário
personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente
demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e
qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem. É preciso recuperar,
num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e o fascínio
do jornalismo de sempre.
Jornalismo sem brilho e sem
alma. É uma doença que pode contaminar redações. O leitor não sente o pulsar da
vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar
os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo vigor à
reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, ético. É preciso contar
boas histórias. É preciso ir além do factual, contextualizar, aprofundar.
A fortaleza do jornal não é dar notícia, é se adiantar e investir em análise, interpretação e se valer de sua credibilidade. Não é verdade que o público não goste de ler. Não lê o que não lhe interessa, o que não tem substância. Um bom texto, para um público que adquire a imprensa de qualidade, sempre vai ter interessados.
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