Cada pessoa é uma história, ou melhor,
carrega em si muitas histórias. Misturam-se e juntam-se não só os genes de
gerações passadas, mas também as experiências vividas, sofridas, choradas e
felizes das muitas pessoas das diversas famílias anteriores. Ao longo dos anos
que antecederam a vinda de alguém, as mudanças que pouco a pouco alternaram não
apenas a forma, mas o jeito de ser para tudo aparecer como aparece um dia. E
cada indivíduo se organiza de maneira distinta e diferente, se reinventa em
cada momento e em cada movimento.
Nas famílias existem linguagens peculiares,
únicas, eficientes, as quais mantêm os laços sólidos nos processos da
comunicação ou mesmo deixam que tudo caminhe por si só, distanciando cada um do
núcleo familiar.
Existem muitas composições familiares e
hoje todas são visíveis e mais transparentes. Se tornaram assim pela própria
necessidade de aceitação pelos outros e pela sociedade. Somos seres que
necessitamos do olhar do outro, da aprovação dos outros para que haja um espaço
amplo e aberto para um bom e saudável desenvolvimento.
Esta pluralidade muitas vezes provoca
inquietações em outros núcleos mais conservadores, pois frente aos desiguais e
diferentes há uma desacomodação, um caminho desconhecido que desestabiliza o
que parece que está andando certo. Então acontecem as discussões intermináveis
do que é certo e do que e errado, atrapalhando consideravelmente o
desenvolvimento das relações mais adequadas entre as pessoas. Discussões permeadas
por preconceitos, por princípios religiosos rígidos e não por princípios
sociais que visem ao ser humano.
Desta forma, com os preconceitos ativados,
acontecem as violências, pois não há aceitação das diferenças e se luta
insanamente por modelos únicos, desconsiderando que as pessoas são sempre seres
que se formam de múltiplas maneiras e não existe uma forma universal de ser ou
constituir família.
Assim, quando no espaço familiar deveria
existir afeto, apoio e segurança, vemos incessantemente as agressões e
violências contra seus próprios membros acontecerem diariamente e
constantemente. O lugar do afeto se torna o lugar da destruição. Crianças se
acanham e tentam se esconder com medo; mulheres se submetem aos maus-tratos,
perdendo a dignidade e os homens se tornam os demônios aterrorizadores, mas
também são uns trapos humanos, envolvidos com drogas e álcool. Isso tudo na
grande maioria dos casos.
Incansavelmente precisamos estar atentos às
famílias, lutar para que nesse espaço cresçam crianças mais saudáveis; que as
mulheres sejam mais respeitadas e elas próprias se tratem com carinho; que os
homens não temam tanto o que não podem controlar e que as relações entre todos
seja um caminho para o bom desenvolvimento das diferentes pessoas que
compartilham alguns pontos comuns em suas histórias e formam uma família. Que
nessa construção das novas famílias seja sempre aproveitado o bom que se herdou
e se possa modificar o que precisa ser melhor. Tudo se reinventa, desde que
deixemos fluir nossa capacidade para nos vincular.
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