quarta-feira, 27 de maio de 2015

Entre caixas de leite e melancias quadradas...

Outro dia, participei de uma atividade que me fez refletir sobre nossa atual maneira de pensar e considerar as coisas. O tema a ser discutido era sobre descobertas, invenções e inovações do homem. A primeira pergunta foi: “Quais foram as principais descobertas ou invenções do Homem?”, a maioria das respostas foi relacionada a “internet”, “computador”, “eletricidade”. É claro que o desenvolvimento tecnológico, a internet e os computadores, foram e são importantes. Mas e se não tivéssemos o fogo, a roda, a matemática, a linguagem ou o papel, essas outras invenções existiriam?
Outra pergunta foi: “O que vocês acham mais inovador, uma melancia quadrada ou esta caixa de leite achocolatado com baixo teor de gordura?”. Percebi que fazia muito sentido as pessoas responderem sobre a melancia, considerando que vivemos em uma sociedade baseada na imagem. Super valorizamos como as coisas se parecem, o que tem por trás disso, ou o processo que levou ela a se parecer com o que ela é, é bem menos interessante. Além do mais, os produtos inovadores, diferentes, são completamente mais atraentes do que aqueles já ultrapassados e incansavelmente vistos, como uma banal caixa de leite. 
Precisei explicar minha opinião, já que fui a única a responder que era o leite.
Defendi que o processo realizado para que a melancia ficasse quadrada, era simplesmente colocá-la em uma caixa durante o seu crescimento. Contudo, para que o leite ficasse como consumimos hoje, precisou passar por um processo muito mais apurado. Desde sua coleta até o tratamento recebido em uma fábrica, para mudar a sua estrutura, como o colesterol. Além do mais, o achocolatado é adicionado, e também vem dentro de uma caixa (ambos invenções do homem). Ou seja, numa simples caixa de leite achocolatado de baixa gordura, temos uma infinidade de processos e invenções do homem, enquanto que, no caso da melancia quadrada, a grande revolução é a caixa que a melancia é posta, o resto segue como o processo normal de crescimento da fruta.
A questão principal que tento trazer aqui, nada tem a ver com melancias ou caixas de leite, mas com a forma como as coisas são pensadas e vistas. O quanto ainda somos, mesmo tão modernos, limitados em nossos pensamentos. Deixamos de lado a história das coisas, esquecemos todo o processo de evolução da qual passamos para ser o que somos hoje, para ter o que temos hoje. E, me permitindo ampliar o assunto, muitas vezes utilizamos dessa “linha de pensamento”, com as outras pessoas e com as outras áreas da nossa vida. Acredito que essa seja a parte mais preocupante. Portanto, me parece sempre válido reavaliar.
 Às vezes pensamos coisas do tipo: “Se eu sair de casa sem o celular vai ser um problema!”, mas não percebemos que um sorriso, ou um “boa tarde” para as pessoas do trabalho serão mais significativos do que estar com o celular; que aquele amigo ou colega com a qual se está discutindo, ou a família, que muitas vezes é rejeitada, mesmo cheia de defeitos, também farão muito mais falta do que um celular.
Refiro-me aqui, sobre uma visão social, vivida em diferentes intensidades, mas que é encontrada, cedo ou tarde, no discurso de qualquer pessoa. Evidentemente, focamos mais, em nosso cotidiano, no que nos é novidade. Hoje as pessoas passam mais tempo nas redes sociais, do que nas rodas de chimarrão, por exemplo. Ou seja, não foram os meus colegas que me surpreenderam, pois eles são apenas a parcela de uma totalidade. Com certeza, essa visão está em todos nós, por estarmos em uma sociedade capitalista, expressa e individualista.
Sugiro a nossa reflexão e que possamos diariamente nos perguntar: Hoje estou optando por melancias quadradas ou por caixas de leite achocolatado de baixa gordura?


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Um comentário:

  1. Concordo em gênero, número e grau com a autora do artigo.

    As pessoas em geral não tem o costume e refletir, pensar, analisar. É somente quando se faz um reflexão como esta que se chega à conclusão de que, conforme citado, passamos a valorizar o não óbvio que está oculto.
    E essa nossa deficiência vem desde a nossa infância, nas escolas. As crianças não são ensinadas a pensar. Apenas decoram , sem entender o real significado do que "aprendem".

    Excelente artigo!

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