Vivemos, nos tempos atuais, uma crescente
crise de gratuidade e alteridade. Cada vez mais, cada um concentra-se em seu
interesse e assim vai-se embora a gratuidade; e concentrando-se em seu
interesse não se pensa mais no outro e assim vai-se embora a alteridade.
Vive-se com interesse e age-se para si mesmo! Sem gratuidade e sem alteridade
instaura-se o inferno; com gratuidade e alteridade consolida-se o céu. Inferno
é ausência de gratuidade e alteridade. Céu é presença de gratuidade e
alteridade.
Ilustrando as afirmações acima, o conto
oriental a seguir, simbolicamente é plástico: "Um dia, um mandarim partiu
para o Além. Primeiro chegou ao inferno e viu muitas pessoas, sentadas à mesa
em frente de pratos com arroz; mas todas morriam de fome, porque tinham
pauzinhos com dois metros de comprimento e não podiam servir-se deles para se
alimentarem. Depois foi para o céu e também lá viu muitas pessoas sentadas à
mesa diante de pratos de arroz; todas estavam alegres e gozavam de boa saúde
porque também elas tinham pauzinhos com dois metros, mas cada um servia-se
deles para alimentar aquela que estava sentada à sua frente".
A civilização dos nossos tempos, se não
inverter, urgentemente, a direção rumo à gratuidade e alteridade, cada vez mais
ela vai-se infernizando. E as consequências do inferno que estamos,
infelizmente, construindo, já são sentidas palpavelmente: pessoas fragilizadas,
famílias desunidas, comunidades egoístas, sociedades violentas. Viver juntos e
pautar a vida com interesses próprios e ações egoístas é infernizar tudo.
Mas a humanidade foi criada para o céu.
Nossa índole humana é constituída pelo relacionamento e um relacionamento
gratuito e áltero. E quanto mais gratuidade e alteridade, mais nos tornamos
"celestes": somos mais imagem e semelhança de Deus. Viver juntos e
pautar a vida sem interesses e ações egoístas é celestiar tudo.
Infernizar-se ou celestiar-se: eis a questão!
Infernizar-se ou celestiar-se: eis a questão!
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