sexta-feira, 18 de junho de 2010
Uma hipótese para a chatice dessa copa
O gol parece ter perdido importância enquanto meta do futebol. Neste aspecto, a primeira rodada da Copa do Mundo da África foi decepcionante. Trata-se da competição com a menor média histórica de gols por partida. Até quarta-feira, 16, no jogo da Espanha, cada disputa havia tido média de 1,56 gols. A título de comparação, a Copa de 1990 – até então a mais magra de todos os tempos – viu as redes estufadas pelo menos 2,21 vezes por jogo.
Trata-se de um número muito inferior ao obtido nas disputas das primeiras copas mundiais. A competição que obteve o melhor saldo médio por jogo foi a de 1954, com impressionantes 5,38 gols por partida. Parece, inclusive, uma tendência do futebol contemporâneo o resultado cada vez mais tímido. Os últimos cinco torneios tiveram média de gols baixa: em 2006, foram 2,30 por partida; em 2002, 2,52 bolas tocaram a rede por dentro.
Dados estatísticos são fascinantes. Mas exigem cuidado. Podem induzir a erro ou a leituras equivocadas. Mas tudo indica que a característica primordial que transformou o futebol em esporte de massas parece ter ficado no passado. A perda de relevância do volume de gols em detrimento do resultado tem moldado os times e a mentalidade dos jogadores. Talvez seja o tempo de se decretar o fim dos atacantes como os conhecemos.
Seria muita presunção de minha parte reduzir a queda de rendimento do ataque ao atual contexto histórico. Sabe-se que o mundo ainda sente os efeitos da crise financeira que devastou as nações em setembro de 2008. Os países europeus ainda sentem as dificuldades resultantes do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. Há, de maneira geral, um comportamento cauteloso por parte dos governos e das empresas em relação ao comportamento dos mercados.
Talvez esse cuidado seja associado também em outros campos de atividade humana. O futebol apresentado até o momento na Copa da África sugere uma relação entre o comportamento defensivo dos jogadores e a baixa média de gols no torneio. Poucas vezes o principal palco do futebol experimentou times tão defensivos. Predomina o esquema tático 4-4-2 em boa parte das seleções; em outros casos, como a Suíça, apresenta variações como 4-4-1-1.
Carlos Alberto Parreira disse, certa vez, que o sistema 4-4-2 é o que traz mais equilíbrio, com boa distribuição na retranca e nas posições intermediárias; o ataque tende a ser feito não mais por pontas de ataque, mas por meias e laterais que avançam cada vez mais. Não há, no futebol contemporâneo, muito espaço para o jogador posicionado na banheira. Todos são obrigados a recuar e a participar da distribuição de passes. Predomina entre os técnicos uma preocupação cada vez maior em não abrir espaço para talentos individuais; fala-se em coletividade.
Admitir o aspecto coletivo amplo no futebol cria uma situação interessante. Se o time vai bem, o mérito é da equipe; se vai mal, é responsabilidade de fulano ou beltrano. A coletividade tende a ser seletiva no futebol. Portanto, é curioso que o sistema tático privilegie uma suposta unidade enquanto as responsabilidades são individualizadas.
Ainda assim, craques como Messi, Rooney, Cristiano Ronaldo e Drogba continuam como principal referência da equipe. Se falham, o time perde rendimento. A dependência dos astros para a obtenção de resultados cria um ambiente de pressão em que se joga pela vitória. Perde-se, assim, a espontaneidade que caracterizou os primeiros 50 anos do futebol profissional.
Não é difícil, portanto, compreender porque os jogos da Copa da África são tão modorrentos e cansativos. Sem o jogo espontâneo, a técnica predomina sobre a criatividade. A excessiva preocupação em evitar a derrota faz com que os times tenham um futebol mais circunscrito no meio do campo, dependente do contra-ataque.
Não faço coro à reduzida leitura marxista de que a economia seja decisiva sobre os comportamentos. Citei deliberadamente a crise financeira exatamente por isso. Há intensa produção econômica no mercado emergente; há novas forças, novos caminhos. O que me parece cada vez mais óbvio – assumo o risco aqui – é que as seleções tradicionais – assim como os países de democracia madura – passam por uma crise geral de identidade.
O cenário atual sugere que dificilmente haverá espaço para um novo Pelé ou Maradona nas seleções nacionais clássicas. Novas potências surgiram no futebol – a exemplo dos mercados econômicos internacionais. O trabalho tático exaustivo tem produzido resultados ao mesmo tempo em que produz contradições históricas. Afinal, que imaginaria um dia o futebol brasileiro tão na retranca? Talvez – e acredito piamente nisso – o novo campeão mundial seja exatamente o que seguir na contramão dessa tendência, com maior atenção ao ataque.
Victor Hugo Lopes.
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Tens razão chega de tantas asneiras, chatices.É mesmo uma desinteria de cerebral. vassalo
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