sexta-feira, 4 de junho de 2010

Casanovas e botos tucuxis do serviço público



O ambiente da cidade de Veneza do século 16 era muito austero em razão do enorme poder que exercia a Igreja e a inquisição em toda a Itália. Entretanto, a moral daquela época é contraditada pela vida do mais conhecido conquistador da história: Giácomo Casanova.
Filho ilegítimo de uma jovem atriz e de um nobre da corte de Veneza, Michel Grimari, dono do Teatro San Samueli, onde sua mãe passara a atuar. Poucos sabem, mas o jovem bastardo teve um início de vida eclesiástico – este é seu lado menos conhecido. Casanova ficou mesmo famoso pela sua inata habilidade de conquistador. Pasmem: em plena inquisição, ele saía pelos conventos a conquistar freiras inocentes e garotas de família à espera de um bom partido. Teve muito sucesso nas suas empreitadas, pois, além de sedutor, tinha dotes físicos, carisma e encanto. E, haja fôlego: gabava-se de, ao longo de sua vida, ter dormido com quase 150 mulheres!
Para Casanova, “o casamento é o túmulo do amor”. Dizia ele também que “eu amei, fui amado, minha saúde era boa, eu tinha uma grande quantidade de dinheiro, eu era feliz e confesso isso para mim mesmo.”
Entre nós existe, não uma realidade, como a do “Conquistador de Veneza”, mas uma lenda muito conhecida lá no Amazonas: a do boto tucuxi. Diz essa lenda que o boto assume a forma humana para assim seduzir e engravidar as mais encantadoras donzelas.
Assim, houve um tempo em que, quando aparecia uma “donzela embarrigada”, os amazonenses diziam tratar-se de uma das seguintes hipóteses: ou era obra do boto tucuxi, ou então de um famoso político amazonense, que ficou conhecido pelo número de amantes que tinha. Falo do ex-governador, já falecido, Gilberto Mestrinho, que por muitos anos, mandou no Amazonas.
Digo isso porque da história de Casanova e da lenda do boto tucuxi sobressai sempre o talento da sedução, o que não deixa de ser uma arte. O que certamente não é uma arte são os falsos casanovas e botos tucuxis – desprovidos de charme, mas com poder para beneficiar donzelas em troca de inconfessáveis favores – que habitam o serviço público. Confesso que convivi com alguns desses personagens, um tanto calvos e eretos como se um lorde inglês fossem, cujos cabelos brancos denunciam que sua era de Casanova há muito já passou. O encanto que pensavam ter não passava de ilusão; uma ilusão que se desvanece ante a perda desse poder escuso. O mundo mudou, pois, com a profissionalização do serviço público, não haverá mais espaço para esses casanovas que, em vez do resultado do trabalho, procuram premiar o lado infeliz e mal resolvido que existe dentro deles mesmos.


Salatiel Soares Correia.

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3 comentários:

  1. E Para os falsos casanovas isso hoje é assédio moral.

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  2. Isso mesmo , assedio moral, e que sejam punidos!

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  3. Infelizmente esse procedimento ridículo ainda é utilizado por alguns imbecis.

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