sexta-feira, 25 de junho de 2010

Indústria sente os reflexos da má qualidade do ensino público



Existem áreas que são cruciais para o desenvolvimento de um país. Dentre elas, está a educação, considerada como prioridade número um pela maioria das fontes de pesquisa e informação que se presta a levantar os aspectos que corroboram para se chegar a sociedades mais prósperas e de melhor qualidade de vida. No Brasil, consensualmente, todos a apontam como sendo a base para o crescimento. A educação é também um dos temas mais frequentes do discurso político e, nas empresas, encabeça a maioria dos projetos de responsabilidade social corporativa.
No entanto, um paradoxo se interpõe entre o discurso e a realidade em nosso país. Apesar de sua importância, a educação é a área que menos recebe atenção do governo. Em relação às demais profissões, a de educador se apresenta como a mais desvalorizada. Os professores, por sua vez, figuram entre os profissionais de pior remuneração no mercado de trabalho.
Devido a essa situação de descaso, que se arrasta há anos no Brasil, a profissão de mestre está na lanterninha dos sonhos de qualquer recém-formado. Como a carreira não oferece nenhum atrativo, ninguém quer ser professor por aqui. É possível antever que nos próximos dez anos vão faltar professores. E aí, as conseqüências serão ainda mais danosas, do que as que já enfrentamos em muitos setores de nossa economia, a exemplo da indústria, onde a falta de mão de obra especializada reflete bem a má qualidade do ensino público. Empregos existem, mas não há profissionais para contratar.
Segundo o Índice de Competitividade Mundial, lançado em maio, o Brasil subiu duas posições no ranking, passando a ocupar o 38º lugar. O crescimento da produtividade empresarial e a geração de empregos foram determinantes nesse resultado. A pesquisa foi desenvolvida pelo International for Management Development, em parceria com a Fundação Dom Cabral, responsável pelos dados brasileiros. Foram analisados 58 países e monitorados 331 indicadores quantitativos e qualitativos.
O estudo mostra que o Brasil ganhou posições na categoria "eficiência dos negócios", tornando-se mais competitivo, mas perdeu duas posições no quesito educação, ficando no 53º lugar. Em outra pesquisa, que culminou com o Relatório de Competitividade Global 2009-2010, publicado pelo World Economic Forum, o Brasil também melhorou seu desempenho no que tange à competitividade. Mas o que chama a atenção, tanto num documento quanto no outro, é o fator educação e a má qualidade do ensino público brasileiro.
Ao analisar os resultados do Relatório de Competitividade Global 2009-2010, o sociólogo e consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI) José Pastore comentou, à época: “Olhando da perspectiva do que falta ao Brasil para chegar ao nível da China (29ª posição), do Chile (30ª), da República Checa (31ª), da Tailândia (36ª), da África do Sul (45ª) ou da Índia (49ª), há que se examinar os indicadores que compõem o índice de competitividade”.
No caso do Brasil, diz ele, “o obstáculo que salta aos olhos é a precária qualidade da educação fundamental”, ligada à má qualidade dos professores, coordenadores e diretores de escolas, cuja grande maioria se forma nos cursos de pedagogia, avaliados negativamente pelo próprio Ministério da Educação (MEC). Em um universo de dois mil cursos, apenas nove obtiveram a nota máxima (5).
A conquista no ranking da competitividade pode estar ameaçada, já que não existe mão de obra especializada para atender a crescente demanda registrada na indústria. De acordo com sondagem realizada pela CNI, a falta de trabalhador qualificado passou de segunda para primeira preocupação dos empregadores neste começo de ano, comparado ao último trimestre de 2009. Nos últimos três meses de 2009, o primeiro lugar era ocupado pela elevada carga tributária.
É preciso que os governantes tenham determinação e vontade política para mudar esse quadro. Hoje, os professores lutam para fazer valer o piso salarial nacional para toda a categoria, no valor de R$ 1.312,00. Ainda assim, há municípios em que nem mesmo o piso está assegurado. Dar condições dignas de trabalho aos professores, passa pela valorização salarial, e é isso que a sociedade espera dos gestores públicos. Precisamos mudar o olhar em relação à educação e exigir o cumprimento de uma política educacional que valorize a qualidade e o aprendizado.

Orizomar Araújo Siqueira.

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