Amar é... dar coisas caras de presente?

Muita gente por aí gostaria de ganhar um presente caro no dia dos namorados. Acessórios, celulares, uma bolsa Louis Vuitton. Bem, o presente mais importante que eu recebi na minha vida foi um par de lentes de contato velhas com um bilhete em que estava escrito: “Para que você possa se ver com a mesma beleza com que te enxergo.”
Se você acha que esse presente é sem valor, definitivamente não é para você que eu estou escrevendo esse texto. Nesse momento, eu estou escrevendo para você que sabe que os melhores presentes não podem ter valor nenhum.
Parece estranho eu estar falando disso, mas é que o dia dos namorados está chegando e me deixa um pouco intrigado como o comércio se movimenta por agora. Nos últimos dias, vejo meus amigos e amigas pensando ou perguntando pros outros quais as melhores opções de presentes: um tênis de marca, uma blusa de marca, uma calça de marca, um relógio de marca, uma joia de marca. Como se a palavra “marca” tivesse se tornado sim um adjetivo e fosse a maior qualidade que qualquer presente poderia ter.
Posso dizer por mim que sempre achei meio vulgar a necessidade de presentear com coisas que tivessem algum valor material claro. Para mim, quando você pensa que só pode presentear alguém caso o presente custe muito, você simplesmente não conhece o outro. Como não sabe realmente aquilo que pode agradar à pessoa com quem está, você compra algo caro que na sua cabeça diz: “ei, pelo menos eu me esforcei”.
Um relacionamento, qualquer relacionamento, tem que ser construído com lembranças. Por isso acredito muito mais em presentes que contribuam para a história do casal. Vale a pena ir atrás do primeiro vinil da banda favorita. Ou procurar na internet a primeira edição de um livro de que a pessoa goste. Vale a pena fazer reserva em um restaurante que seja importante para vocês e não que seja importante para os outros. Vale sim a pena acender velas pela casa, contratar uma massagem em um SPA legal, comprar um DVD de que os dois gostem, cozinhar algo diferente, comprar bombons. Não existe presente perfeito e alguns desses que eu falei podem, sim, custar muito. A questão é que o custar não pode nunca ser mais importante do que a lembrança afetiva.
Se você é o tipo de pessoa que se chateia quando seu namorado ou namorada te dá um papel de bala daqueles breguinhas em que vem escrito uma mensagem amorosa; se você acha careta ganhar um bombom de vez em quando ou acha ridículo que alguém vá numa floricultura e compre uma rosa ao invés de um buquê imenso; talvez você precise repensar sua vida amorosa e seus valores.
Lembra daquele tênis que você ganhou? E aquela blusa de marca? As joias você não perdeu, mas trocou de namorado e teve que dar para uma prima. Chegou onde eu queria?
Tem alguma coisa que já te deram que fez você pensar “Nossa! isso é minha cara”?
Talvez eu faça você perceber a diferença entre estar com alguém que te dá valores e alguém que te dá valor. É, aquela típica história clichê do cara que nunca está em casa, não lembra a data de aniversário do filho e quando a mulher pede divórcio ele diz:
– Mas eu te dei tudo isso e você ainda reclama!
É por essas e outras que a menina bem nascida deixa o namorado rico e vai morar na periferia com o Zé Ninguém.
– Maria Estela, minha filha, você não foi criada para isso. Seu noivo te dá de tudo. Te deu joias, viajou com você. O que esse rapaz aqui te deu?
E Maria Estela responde com a lucidez dos burros apaixonados:
– Um papel de bala escrito “amar é...”.
É claro que depois de um mês passando fome Maria Estela irá voltar, pois o clichê nos diz que o amor sai pela janela quando a necessidade entra pela porta. Mas pode ter certeza de que ela irá guardar o papel de bala na bolsa Louis Vuitton.

Caetano Mondadori.

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