Carta de um eleitor brasileiro aos políticos em tempos de eleições

Sem brio na cara, estou aqui novamente para votar em você de novo, que mesmo mentindo, roubando, me traindo, enriquecendo ilicitamente, projetando propinas e votando sempre contra os meus direitos. No entanto sou um eleitor “sadomasoquista” em tempos de eleições, tenho que votar em você mais uma vez, tenho que te enriquecer mais um pouco, tenho que continuar te proporcionando o luxo em que vives.
Sou grato a você meu político querido, porque em troca do voto, você sempre me dá uma cesta básica, cem reais de boca de urna, camiseta para mim e para meus familiares – onde tem estampado sua bela fotografia –, um par de botinas, gasolina para encher o tanque do meu gol 98 no dia da eleição – o que me proporciona visitar a casa de meus inúmeros amigos e parentes –, quando adoeço você me arruma consultas médicas e se precisar até cirurgias, e veja o quanto você é bonzinho: na eleição passado perdi os dentes porque não tinha dinheiro para obturá-los, e você tão bondosamente me deu até mesmo a dentadura que estou usando.
Sou um eleitor de memória curta, sofro de amnésia, uma doença crônica da qual a maioria dos eleitores são portadores, pois não tenho muito tempo para esse negócio de política, não. Trabalho o dia inteiro e chego á noite em casa querendo mais é descansar. Por isso nos encontramos sempre somente de quatro em quatro anos, isso secretamente na cabine da seção eleitoral. Deixo você livre, leve e solto os quatro anos, não sei dos seus projetos, não acompanho de que lado você fica nas votações do parlamento em que você se encontra, para te ser sincero nem lembro do seu nome direito, nem o seu partido e nem tão pouco acompanho os seus pronunciamentos, pois isso é coisa de gente desocupada que não trabalha e por isso sobra tempo para ficar fiscalizando a vida dos políticos.
Ouço todas as eleições vocês falarem em educação, isso me lembra que esses dias agora meus filhos estão sem aulas, porque os professores estão em greve por causa de um “teto salarial”, que é direito dos professores e não sei porque o governo não lhes pagam, devem ser porque trabalham pouco, sei lá, não tenho tempo de ir na escola não, não sou professor e quem tem obrigação de ensinar são eles lá, os professores, as coordenadoras e os diretores. No entanto acho que eles deveriam ganhar um pouco melhor, porque vocês políticos ganha tão bem, enquanto eles, coitados, vão de mal a pior.
Ouço, nessa época agora de eleições, vocês também prometerem melhorias nos ônibus, isso é bom mesmo, porque de manhã pegar ônibus é um sufoco, eu mesmo moro no entorno de Goiânia, saio de casa às cinco da manha todos os dias e pego um ônibus lotado. Desço no terminal que, de manha e de tarde, parece um formigueiro de gente, um empurra-empurra na hora de entrar no ônibus, um corre-corre para achar lugar para assentar, na maioria das vezes vou e volto em pé, pendurado nos ferros, parecendo macaco nas jaulas, fico pensando o que as empresas de ônibus fazem com tanto de dinheiro que entra de passagem todos os dias.
Ouço vocês também agora falar em saúde pública, isso é interessante porque sou funcionário do Estado e tenho o Ipasgo, engraçado que todos os meses a contribuição do Ipasgo é descontada dos nossos pagamentos e ouço os médicos reclamarem que estão com os seus repasses atrasados. Inclusive esses dias atrás, fui levar meu filho no pediatra, e ele me disse que não atenderia mais o Ipasgo, porque estava atrasando muito. Que pena, pra onde será que vai o dinheiro que o Ipasgo desconta todos os meses dos nossos vencimentos?
Além do mais, vocês também nessa época falam em segurança, moradia, emprego, mas passadas as eleições nada muda. Mas olha esse ano, vou precisar de novo daquele dinheirinho de boca de urna, para mim e para minha família, inclusive meu filho já fez dezesseis anos e já vota, tirou o título agora e também quer ganhar um dinheirinho extra no dia eleição. Até o dia da eleição.

Assinado: José Brasileiro.

Giovani Ribeiro Alves.

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