segunda-feira, 7 de junho de 2010

Futebol e política



Este ano promete ser festivo e agitado. Além de copa do mundo tem eleições. Mas vale salientar que os brasileiros, mesmo a despeito da carranca e da teimosia de Dunga, preferem de longe o futebol à política, cada vez mais repetitiva e inócua. Dunga é deveras chato – andar de orangotango, cabelo de porco espinho e cara de Schwarzeneger. Mas política anda mais intolerável ainda, se bem que fundamental.
É de se perceber que o primeiro semestre de cada ano é mais pródigo em acontecimentos e feriados, para a felicidade de nosso povo afeito às comemorações e às folgas. No serviço público, chegamos a criar um novo instituto, passível de ser denominado “emendação”, qual seja o ato de transformar um dia útil em inútil quando certo feriado cai na terça ou na quinta feira. Feriado caiu na terça, emenda-se com a segunda; caiu na quinta, emenda-se com a sexta.
No segundo semestre parece que tudo se aquieta, exceto nos anos de eleições, quando a mídia só fala em tendências e os candidatos vociferam os lugares comuns à procura de votos dos eleitores desinformados, acostumados principalmente com a mediocridade da programação televisiva. Chega a enjoar. Mas não desdenhemos: o processo é mais importante do que a copa.
Quanto à copa do mundo, penso que nossa burocrática e esforçada seleção poderá até chegar ao título. Se assim acontecer, teremos títulos de mais para futebol de menos, pois a arte e a improvisação andam cada vez mais rarefeitas sob a camisa canarinho. Quanto aos adversários, além da unânime Espanha, tenho receio de duas outras: Inglaterra e Costa do Marfim. A primeira porque há tempos não reunia tantos jogadores de boa qualidade, a começar pelo perigosíssimo Roney. A segunda porque parece chegar a hora de uma seleção africana colocar a mão na taça, e Costa do Marfim é a mais apta.
Se para os brasileiros, no futebol manifesta-se o patriotismo, na política resta o conformismo, mesmo com os discursos vazios, o pipocar dos foguetes, os enjoativos jingles, os maquiados rostos dos candidatos, todos sorridentes (não se trata de sorriso comercial, mas eleitoral). O brasileiro é antes de tudo um conformado, acostumado a olhar para trás na hora de escolher os novos mandatários, já que para frente não costuma mirar nada mesmo. Para um povo sem metas, resta escolher as alternativas nas prateleiras do passado.
O patriotismo brasileiro é sempre manifesto no futebol. Lembro-me de, quando criança, no pequeno grupo escolar do interior, todos nós tínhamos que cantar o hino nacional antes das aulas. Hoje isso só acontece no início das partidas de futebol e durante o recebimento de medalhas olímpicas, mesmo assim com os espectadores tirando titica do nariz ou coçando alguma parte do corpo. Capaz que a maioria não sabe se o “berço esplêndido” fica antes ou depois do “retumbante”. Fico pensando: cada um de nós deveria aproveitar as bandeiras verde-amarelas que sobram da copa e conduzi-las até a eleição como uma atitude de amor pelo Brasil, a exigir mulheres e homens públicos que se comprometam ao menos com a educação das crianças e dos jovens.
Futebol e política têm mais a ver do que imagina nossa vã filosofia.

Idelmar de Paiva.

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