Voto é uma palavra cuja sua etimologia está
ligada à religião; do latim, votum, é um substantivo que se origina do verbo
vovere, que significa prometer. Daí o voto de castidade, voto de pobreza. Uma
promessa feita em nome da fé, oferecer algo em troca da graça divina.
Foi na Inglaterra, no século 16, que a
expressão adquiriu seu significado moderno de sufrágio.
Existe uma posição que defende o voto
facultativo como sendo uma modalidade eleitoral mais democrática, em relação ao
voto obrigatório.
O voto apenas como direito, não como dever.
Pois bem, indo para a seara da realpolitik, é fácil perceber os vários
malefícios desta pseudoliberdade. O voto facultativo restringe o processo
eleitoral a um seleto grupo, pois não é difícil de imaginar que as atuais
promoções contra a política iriam se intensificar, para aumentar o nível de
descontentamento popular e assim diminuindo a participação.
Com um
eleitorado menor, os interesses da classe trabalhadora seriam os mais
prejudicados, pois atualmente, mesmo sendo maioria numérica, são eleitos,
majoritariamente, representantes das elites. Com uma participação menor, isso
se intensificaria severamente.
O voto obrigatório faz com que, em algum
momento, o eleitor pense na melhor escolha a fazer, mesmo que de dois em dois
anos, mesmo que acabe escolhendo mal, mesmo que escolha o adversário de classe
como representante, sempre existe a possibilidade de acertar ou de corrigir o
erro na eleição seguinte.
No voto facultativo, uma opção errada pode
inibir ou desestimular a participação no próximo pleito, não contribuindo para
aperfeiçoar a sua escolha. Pode-se correr o risco, também, da legitimidade das
escolhas ser questionada, por falta de representatividade.
As eleições para a definição dos novos
conselheiros tutelares foram uma demonstração de que em eleições facultativas a
força do poder econômico atua com muito mais vigor. Não são raras as denúncias
de compra de votos e candidatos que disponibilizam transporte para eleitores,
sem contar fraudes de toda ordem.
Todo voto é uma relação de interesses. Quando
se opera um pagamento pelo voto e existe um aceite, significa que o acordo está
selado ali naquela transação, desautorizando quaisquer cobranças póstumas.
Não desejo fazer juízo de valor nas ações em
si, mas sim, em relação à legislação que é conivente com o abuso do poder
econômico, e se tem algo pouco democrático, é o dinheiro.
Evidente que as pessoas reclamam de ter a
obrigação de votar, não enxergam na política um motivo interessante para sair
de casa, exatamente no seu dia de descanso da vida estafante do mundo do
trabalho. Mas em época de eleições a discussão política se coloca em evidência,
mesmo por aqueles que não a fazem em outros períodos e ela pode ser pedagógica.
Na última reforma eleitoral quase todas as
providências foram para diminuir o papel da política nas eleições. Até mesmo as
propagandas nos espaços públicos foram limitadas, em nome de um difuso conceito
de "limpeza visual". Não é o voto facultativo que atesta o quão
democrático é um modelo de escolha dos representantes, ele é só mais uma estratégia
de quem prefere secundarizar ou quem sabe criminalizar a política, que é a
única linguagem da democracia.
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