Eduardo Cunha, com a ajuda de seu séquito, conseguiu a
aprovação na Comissão de Constituição e Justiça, do Projeto de Lei de sua
autoria, que estabelece penas para quem induzir ou orientar gestantes à prática
do aborto. Se a lei for publicada, sem dúvida, dificultará o aborto legal. O atendimento
às vítimas de violência sexual ainda não tem votação na Câmara dos Deputados.
O projeto prevê punições a quem ajudar, medicar, induzir ou
instigar gestantes a praticar aborto. O projeto suscitou discussões acerca do
uso da pílula do dia seguinte. A bancada religiosa considera a pílula abortiva.
Frente à atitude da comissão só posso pensar que, para eles, só
existe o pecado do sexo. Tenho a nítida sensação de termos voltado ao tempo das
fogueiras da inquisição. Eduardo Cunha deve ter feito sexo sem proteção e só
para procriar. Não sei quantos filhos ele tem, mas devem ser muitos, por que
ele, assim como todo mundo, não segura essa força indomável que é a prática
sexual comum a todos os seres vivos.
Roubar não deve ser pecado para esse cristão devoto, que usa a
Bíblia de forma fundamentalista, com o intuito de ludibriar a opinião de quem
tem vidas de verdade para viver. Há quem se importe com a opinião de figurões
podres de ricos, moradores de mansões, donos de frotas de carros de luxo e que
costumam enganar o trânsito a bordo de helicópteros. Eles vivem às custas da
legiões de seguidores cegos pelo medo do fogo do inferno.
Quem quiser ver o que acontece com uma multidão aterrorizada
pela presença do demônio vá até o YouTube e procure por vídeos que mostram
pastores e pastoras semeando medo e fazendo os fiéis acreditarem que eles têm o
poder de expulsar o diabo de dentro deles. E mais, pode-se ver também a forma
canalha com que arrecadam dinheiro com promessas de prosperidade.
Os católicos há séculos colocam suas vidas nas mãos do Papa,
que, junto com o alto clero, ditam como se deve viver. Já vi mulheres
recusarem-se a tomar anticoncepcionais por causa da proibição do Papa, assim
como assisti à desgraça de muitos, por não terem coragem para uma separação. O
senso crítico, a consciência do próprio corpo nunca foram pontos apreciados
pelas igrejas, que preferem manter seus fiéis cheios de pecado, por que a culpa
os faz submissos e o medo os faz abrir as carteiras.
As ciências avançam e conseguem realizar sonhos. Cirurgias
devolvem a visão, acabam com obesidades, extraem tumores, esquadrinham com
precisão o interior do nosso corpo, permitem que muitos tenham filhos. Mas a
preocupação do obscurantismo está naqueles óvulos fecundados e congelados, que
jazem dentro de recipientes e que, se usados, poderiam servir para estudos mais
avançados. Quem sabe quantos sonhos eles poderiam proporcionar no futuro. A
ética na manipulação da vida deveria ser a preocupação dos cientistas e não a
intromissão de religiosos sem noção do que estão fazendo.
Uma comissão cujos protagonistas são notórios corruptos não
deveria ter nosso aval para mexer com o que temos de mais nobre, que é a
sexualidade. Somos a nossa sexualidade, em tudo o que fazemos. Quem eles pensam
que são para sugerir que o SUS não deva atender a mulheres que precisam de um
aborto legal, uma conquista que levou anos sendo discutida, estudada e que
finalmente é algo concreto.
Ninguém gosta de aborto, nem as mulheres que o fazem. Mas
sabemos que existem descuidos. Aborto sempre é algo radical, cheio de
sofrimento. Não conheço ninguém que seja a favor do aborto, mas muitos são a
favor da descriminalização, por que devemos sair das sombras da hipocrisia, já
que a prática é uma realidade. A assepsia é vendida a quem tem dinheiro e os
germes dos instrumentos clandestinos são usados para quem não pode pagar. Quem
morre de infecções pós-aborto são mulheres pobres.
O que estão querendo empurrar-nos é a ideia de que no dia
seguinte a uma relação sexual já existe uma gravidez, um feto, o que é uma
deslavada mentira. Querem vender a ideia de que a pílula do dia seguinte é
abortiva, quando ela só é eficaz se usada dentro de três dias. Durma-se com um
barulho desses!
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