Instituições detém boa
parte das riquezas do mundo.
Não é de se estranhar que o Bradesco
tenha fechado o segundo trimestre de 2015 com lucro líquido de 4,47 bilhões de
reais; o Santander também manteve o mesmo ritmo de crescimento e lucrou a
bagatela de 1,675 bilhão de reais e; o Itaú//Unibanco que no primeiro trimestre
de 2015 havia conferido lucro de 5,73 bilhões de reais amplia seus ganhos, para
o trimestre seguinte, para 5,98 bilhões de reais.
É surpreendente no que o sistema
bancário se tornou no Brasil, de outro modo, uma galáxia econômica descolada do
mundo da produção e da economia real. Uma espécie de “leviatã econômico”
operante a partir de leis próprias e de notável autonomia.
Fruto desse movimento é o atual e
glorioso instante pela qual passa a banca brasileira. Não casualmente, em
pesquisa publicada no Jornal Folha de São Paulo (FSP) a Consultoria Economatica
irá demonstrar que no quesito “lucratividade” os bancos brasileiros se situam
entre os cinco principais do continente americano, com exceção do Canadá (JP
Morgan, Bank of America, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco); no item
“rentabilidade”, a banca brasileira ocupa, nada mais, nada menos, do que a
primeira e segunda posição (Banco do Brasil, Bradesco, American Express,
Santander e Itaú).
A definição de rentabilidade,
segundo a Economatica, é dada por um indicador desenvolvido por analistas
financeiros e denominado de “Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido” ou
simplesmente “ROE”. Rentabilidade, segundo esse critério, diz respeito ao
crescimento auferido por determinada instituição a partir somente do patrimônio
ou de ativos que dispõe sem ter que fazer novos investimentos.
É muito estranho que os preços das
commodities tenham se desvalorizado significativamente no mercado
internacional, sobretudo, a partir da redução das demandas chinesas; que, da
mesma forma, a indústria brasileira tenha ampliado sua capacidade ociosa e
expressão desse processo é a quantidade de demissões já ocorridas e o “quantum”
de férias coletivas já realizadas em 2015 e; finalmente, e não menos
importante, a fuga dos capitais de curto prazo do País (FSP/Mercado,
10/10/2015) onde, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), o
“estoque de investimento estrangeiro caiu 30% no terceiro trimestre” irá
demonstrar o próprio grau de vulnerabilidade da economia brasileira e, mesmo
assim, o setor bancário avança batendo recordes de lucratividade e se afirmando
como principal setor da economia brasileira.
Ainda no gigantismo das finanças
bancárias do Brasil, é preciso considerar que o atual quadro de lucratividade
dos bancos por aqui operantes é a expressão contemporânea de amplo movimento
não só econômico mas também, e sobretudo, político e que garantiu todas as
condições para tal crescimento.
A mesma Economática e que realiza
suas pesquisas, sobretudo a partir das movimentações das principais empresas
que realizam investimentos na Bolsa de Valores divulgou, ainda em 2014, que o
maior lucro da série histórica das empresas de economia aberta seria exatamente
do Itaú/Unibanco e que ocorrerá livre e célere em pleno ambiente de crise
internacional seguido, de novo, pelo Bradesco que, à altura, abocanhara 4,24
bilhões de lucro líquido.
O que se percebe é um cenário que
afirma a plenos pulmões, a tese marxiana de que os capitais tendem a se
concentrar e esse processo é intensificado, sobretudo, em períodos de crise,
tal qual a que estamos imersos.
De outro modo é fundamental
compreender a própria composição orgânica desses capitais para, em seguida,
identificar sua lógica e tendência na feitura e refeitura de crises e que,
nesse sentido, passa a ser a principal instituição para o próprio equilíbrio
desses “continentes de dinheiro”. Enfatizo, de novo e desta maneira, que a
crise, juntamente com o protecionismo e a especulação em níveis e escalas
planetárias se firma como instituição decisiva e determinante da muito moderna
economia contemporânea.
Dessa forma, a ideia ultraliberal da
“ordem espontânea” entusiasticamente propugnada por Frederick Hayek, “por não
conceber o mercado como entidade concreta” (Ricardo Feijó) cai inteiramente por
terra. O mercado, sobretudo, o mercado global ganha corpo, forma, substância e
densidade, retratada principalmente no sistema bancário que substituiu os
Estados nacionais na condução de políticas econômicas, na feitura de políticas
públicas e na reinvenção do próprio conceito de economia que é, desta maneira,
trespassada pela mais tresloucada sanha especulativa já vista na história do
pensamento econômico.
Mercado? Estamos desta forma, nos
referindo a um seleto grupo de não mais que mil empresas, sobretudo, bancárias,
e que detém mais de oitenta por cento das riquezas do mundo. Aliás… O que é
mesmo economia?
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