No dia 2 de novembro, as Igrejas Cristãs fazem memória do
Dia de Finados. No sincretismo que se tornou nossa cultura popular,
infelizmente, em muitos casos, ao invés de alimentar a lembrança carinhosa
daqueles que já partiram, passou-se a cultuar os mortos. Esta não é uma atitude
que encontra respaldo no Cristianismo.
O Cristianismo explica a morte como o fim de uma caminhada
terrena: "És pó e ao pó voltarás". Terminada esta jornada, é tempo de
ressurreição (assim como Jesus). A volta do espírito para Deus. Mas o que
deveria ser comemorado passou a assimilar influências de outros credos e
converteu-se numa despedida triste e dolorosa. Mais ainda: buscar por todos os
meios reencontrar aquele que já partiu ainda nesta existência.
Muito comum, inclusive, assustar crianças com a
possibilidade de que, quase sempre no escuro da noite, apareça alguém, algum
fantasma para assombrar. Ora, como dizia meu pai, o seu Manoel, "devemos
ter medo dos vivos, não dos mortos. Os vivos podem nos causar mal, os mortos
não o fazem mais!".
Uma amiga contou que toda a vez que vai a um velório faz
uma breve oração pelo morto, pedindo por seu descanso, e vai cuidar dos vivos.
Assim como no caso de pessoas doentes, muitas vezes
esquecemos de que o doente quase sempre já está sendo cuidado, faltando cuidar
daqueles que cuidam dos doentes. O mesmo se dá quando uma família sofre uma
perda: o pranto e a atenção é para quem já não está mais ali e se esquece dos
que ficaram, da sua dor, do seu desamparo e sentimento de solidão.
Confesso que a morte nunca me assustou. Fiquei contente ao
ouvir do papa Francisco pensamento parecido: assusta sofrer até chegar à morte!
Mas é a única coisa certa enquanto existimos: um dia todos nós haveremos de
morrer. Como se diz: ninguém fica para semente! O padre Ademar, numa Celebração
da Saudade, disse que acompanhou muitas pessoas em seu derradeiro instante. A
regra geral era que, aqueles que souberam organizar sua vida, sua
espiritualidade, chegam ao fim em paz, dispostos a reencontrar com o Criador.
Já aqueles que não souberam fazer o mesmo se mostram ressentidos, assustados,
em pânico diante do que pode lhes acontecer.
Este é um bom momento para repensar relações. Ninguém vai
a um enterro para "prestigiar" o morto. Este já não tem mais como
aceitar as supostas homenagens. Faz-se melhor se formos dar a nossa
solidariedade aos parentes, amigos e conhecidos que o prezavam. Só então faz
sentido pensar em Finados: um bom tempo para cuidar dos vivos!
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