segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Uma profissão em apuros


A crise econômica gera impactos por todos os cantos.

Gera impactos, inclusive, em profissões que até pouquíssimo tempo navegavam em mar de tranquilidade, como as engenharias, por exemplo. Alavancada pelo aquecimento da atividade econômica nos últimos anos, a área prosperou: com estímulo à produção e o incremento da infraestrutura nacional, foram formados e recrutados milhares de profissionais em construção civil, energia, petróleo e gás.

 No meio do caminho, porém, a desaceleração econômica, agravada por denúncias de corrupção, afastou investimentos, paralisou obras e arrefeceu o mercado de trabalho.
De 2003 a 2013, o contingente de engenheiros empregados formalmente no país passou de 146,1 mil para 273,7 mil - uma alta de 87,4%, superior ao crescimento do emprego formal como um todo no período, de 65,7%. "Junto com o crescimento do país, as oportunidades para os engenheiros apareceram: houve mais possibilidades de emprego e mais procura por profissionais", afirma Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros.
Depois de uma década de evolução favorável do emprego, o mercado de trabalho começou a desacelerar. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o saldo de postos de trabalho passou de 7 mil em 2012 para 2,8 mil em 2013. No ano passado, a conta ficou negativa, com perda de 3,1 mil postos de trabalho na engenharia. Em São Paulo, maior mercado da área, foram feitas, de janeiro a maio, 1,1 mil homologações de engenheiros - 58% mais do que no mesmo período do ano passado.
A retração econômica foi agravada pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga corrupção em contratos da Petrobras. Sem fôlego financeiro, diversas empreiteiras envolvidas no esquema foram aos tribunais, paralisaram obras e demitiram milhares de funcionários. Com a Lava Jato e o ajuste fiscal, que levou ao atraso dos repasses do governo às empresas, 232 construtoras entraram em recuperação judicial de janeiro a setembro deste ano.
A promessa de uma carreira bem-sucedida levou muitos indecisos a escolher a engenharia nos últimos anos. Com a escassez de vagas, porém, muitos engenheiros estão partindo para outras áreas ou montando negócios próprios.
O cenário de retração só deverá melhorar se o governo conseguir equilibrar as contas e garantir investimentos nas áreas que mais solicitam engenheiros, como vinha ocorrendo nos últimos anos.
Os esforços de ajuste fiscal apontam para este caminho. Contudo, a estrada é longa. E bastante sinuosa.
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