Com a
justificativa de que “a legalização do aborto vem sendo imposta a todo o mundo
por organizações internacionais, inspiradas por uma ideologia neomalthusiano de
controle populacional”, o Projeto de Lei, que prevê alteração no atendimento a
mulheres vítimas de violência sexual, foi apresentado à Câmara dos Deputados.
Na
verdade, o enfoque do projeto é antes ideológico e não uma preocupação
verdadeira com a saúde pública. Tanto assim, que o fundamento central do autor
do projeto foi uma suposta necessidade de o País reagir contra uma política de
controle populacional, imposta pelos Estados Unidos e outros, aos países
subdesenvolvidos. E sobre a saúde da mulher, qual o argumento utilizado?
Nenhum.
Inconteste
que qualquer debate que envolva a regulamentação do aborto será sinônimo de
polêmica. Assim, o sinal amarelo de alerta acendeu no último dia 21, após a
aprovação, na Câmara dos Deputados do texto, do Projeto de Lei 5069 de 2013 que
propõe, também, a alteração da redação do inciso IV, do art. 3º, da Lei nº
12.845/13, adotando uma nova terminologia em substituição ao termo
“profilaxia”, bem como a definição do que vem a ser “violência sexual”.
Além de
modificar a lei atual sobre o tema, a proposta também torna crime uma prática
que hoje é uma contravenção - o anúncio de meios ou métodos abortivos - e pune,
como crime, quem induz, instiga ou auxilia em um aborto, com agravamento de
pena para profissionais de saúde, que podem chegar a ser detidos de 1 a 3 anos.
Sem
dúvida, a comercialização ilegal de substâncias abortivas deve ser combatida.
Mas, há um mercado de outros produtos e medicamentos traficados e vendidos,
ilegalmente, que deveriam estar na mira dos parlamentares, se a finalidade
fosse cuidar da saúde da população.
Vale
ressaltar que, em 2013, as mulheres passaram a ter a garantia de que o
atendimento seria “imediato e obrigatório” para questões de aborto, em todos os
hospitais do SUS, com a aprovação da lei 12.845. Essa norma assegura
atendimento médico a mulheres vítimas de violência sexual. A lei remete a uma
profilaxia da gravidez – o que sequer corresponderia a um aborto tecnicamente,
se for considerado o fenômeno da nidação, como o início de uma vida.
Sob o
aspecto da saúde e políticas públicas, não se poderá abandonar o conceito da
prevenção e educação, quando possível. Na maioria das vezes, a opção pelo
aborto decorre da falta de planejamento da gravidez, associada a fatores
sociais como ignorância, planejamento familiar, escassez de recursos e grande
número de filhos. Não informar à mulher seu direito ao aborto legal, em caso de
violência sexual, seria um atentado a todas as normas que dispõe sobre o
direito legal à informação e fere a autonomia do paciente.
A
controvérsia quanto ao aborto reside no fato de que o direito à vida não é
absoluto. Para alguns, o Direito Constitucional (e natural) à vida do feto
precisa ser respeitado. Para outra corrente, a mulher ou a menina faria jus ao
direito à dignidade humana, ao direito de escolha.
Ocorre
que não houve qualquer parlamentar que apresentasse dados estatísticos, para
uma discussão fundamentada do tema. Sequer foram apresentados números que
justifiquem o entendimento da bancada evangélica e católica no sentido de que
houve aumento de abortos (ou da profilaxia da gravidez), em razão da
facilitação oferecida pela Lei 12.845/2013. Ora, a redução de danos, enquanto
política pública, não pode ser atacada com a desculpa de que seja um aborto
“disfarçado” ou uma tática de controle populacional. Tampouco, o aborto legal
precisa de mais entraves, tais como o boletim de ocorrência ou o exame de corpo
de delito.
Ausentes
esses dados, poderia ter sido citado pelos parlamentares, por exemplo, que em
abril de 2005, a Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que o número de
casos de gravidez não intencional ou indesejada foi estimado em 87 milhões por
ano, em todo o planeta. Mais da metade dessas mulheres (46 milhões por ano)
recorreu ao aborto induzido, sendo que 18 milhões o fizeram sem condições de
segurança. Anualmente, por volta de 68 mil mulheres morrem no mundo, em
consequência desses abortos desassistidos. Quantas dessas mulheres são
brasileiras?
Seria
desejável que algum dos parlamentares apresentasse a experiência de outros
países que conseguiram reduzir o número de abortos e de morte de mulheres com
políticas públicas de assistência à mulher, antes e após o aborto. No entanto,
tais constatações, que serviram de base para a aprovação da Lei 12.845, parecem
não ter mais importância para aqueles que, em 2013, aprovaram, por unanimidade,
o então Projeto de Lei da Câmara (PLC) 3/2013.
É
imediato e importante que o tema seja encarado de forma a garantir o respeito à
saúde da mulher, independentemente, da situação, pois sua dignidade está
comprovadamente afetada pelos fartos casos de abortos clandestinos,
esterilidade pela perda do útero, traumas psicológicos irreversíveis, por
condições degradantes dos locais, e a morte de muitas mulheres.
A
regulamentação do aborto deve ser discutida fora de qualquer âmbito religioso
ou de interesses meramente partidários de alguns grupos. Trata-se, sem dúvida,
de uma questão de saúde pública.
O tema
precisa ser enfrentado em conjunto com os profissionais da saúde, a sociedade
organizada e os legisladores. O auxílio do Estado é fundamental para reduzir as
mortes, as lesões físicas e morais, resultantes do aborto desassistido. Salvem
a dignidade das mulheres!
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O problema não é nem legalização ou permissão para aborto, numa ou outra circunstância. O importante não acontece, a assistência médica em caso de aborto legal, ilegal, ou um aborto natural.
ResponderExcluirO que falta no pais não é legalização disso ou aquilo é falta de assistência médica de ponta a ponta e em todas as circunstâncias. Liberar o aborto irá propiciar a prática por médicos e pessoal da área médica de serviços abusivos, de custo baixo em clinicas não preparadas para eventos maiores, é o que está acontecendo com a cirurgia plástica, se faz em qualquer ambiente e muitas vidas tem sido ceiradas por profissionais inesperientes e inescrupulosos.
O problema não é nem legalização ou permissão para aborto, numa ou outra circunstância. O importante não acontece, a assistência médica em caso de aborto legal, ilegal, ou um aborto natural.
ResponderExcluirO que falta no pais não é legalização disso ou aquilo é falta de assistência médica de ponta a ponta e em todas as circunstâncias. Liberar o aborto irá propiciar a prática por médicos e pessoal da área médica de serviços abusivos, de custo baixo em clinicas não preparadas para eventos maiores, é o que está acontecendo com a cirurgia plástica, se faz em qualquer ambiente e muitas vidas tem sido ceiradas por profissionais inesperientes e inescrupulosos.