Há
uma semana, a presidente Dilma estava no chão, e a caneta de Eduardo Cunha,
presidente da Câmara dos Deputados, cheia de tinta para assinar o ato que
autorizaria a abertura do processo de impeachment contra ela.
Esta
semana começa depois de mais um movimento abrupto da gangorra do poder: agora é
Eduardo que está no chão, atingido por novas denúncias de roubalheira. E Dilma
posa de vencedora.
Amanhã
fará uma semana que Dilma perguntou a sindicalistas reunidos por Lula para
escutá-la em São Paulo: “Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia
limpa suficiente para atacar a minha honra? Quem?”
Entusiasmada
com os aplausos que recebeu, chamou o impeachment de “golpismo escancarado”, e
seus adversários de “moralistas sem moral”.
De
fato, são “moralistas sem moral” os políticos que tratam Eduardo com brandura,
interessados apenas em que ele ceda às pressões e ponha para tramitar na Câmara
o processo de deposição da presidente reeleita há menos de um ano.
Mas
serão “moralistas com moral” aqueles que igualmente tratam Eduardo com
brandura, empenhados apenas em que ele desista de derrubar Dilma?
Na
condição de investigado, Lula desembarcou em Brasília para ser ouvido por
procuradores da República.
Aproveitou
a viagem para negociar com Eduardo o fim do impeachment em troca da salvação do
mandato dele, ameaçado de ser cassado pela Câmara.
E da
boa vontade da Justiça quando fosse obrigada a julgar Eduardo por corrupção,
lavagem de dinheiro e sonegação de impostos.
Como
Lula, sem ser um amoral, poderia garantir a Eduardo que deputados ligados ao
governo negarão seus votos para cassá-lo?
Como
Lula, sem ser um amoral, poderia prometer que o governo empregará toda a sua
força para que Supremo Tribunal Federal absolva Eduardo dos seus crimes? Ou
pelo menos para que não lhe aplique duras penas?
Diante
da mesma plateia de sindicalistas que recepcionou Dilma em São Paulo, Lula
justificou as “pedaladas fiscais” do governo que resultaram na rejeição de suas
contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União.
E o
que disse? Que o governo foi obrigado a pedalar para não deixar sem dinheiro o
Bolsa Família e demais programas de assistência aos mais pobres.
Mentiu
– o que não pega bem para um moralista com moral. Para um sem moral não faz
diferença.
As
pedaladas tiveram a ver com despesas feitas pelo governo para além do que o
orçamento permitia. Com isso, desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Quem
desrespeita lei incorre em crime. Não vale a desculpa imoral usada por Dilma de
que governos anteriores procederam assim também.
Quanto
à pergunta que ela fez aos sindicalistas: “Quem tem força moral, reputação
ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra?”
Há
muita gente que tem, sim. Talvez falte motivo para o ataque. Em compensação, há
motivos de sobra para que se ponha a conduta de Dilma em dúvida.
É
provável que ela não tenha roubado. Mas que sequer tenha visto que roubavam?
Seu sucessor
no Ministério das Minas e Energia é suspeito de ter roubado. Sua sucessora na
Casa Civil, de tráfico de influência.
Como
mandachuva na Petrobras, aprovou negócios que envolveram propinas. E viu a
empresa submergir em um mar de lama.
Dinheiro
sujo financiou suas duas campanhas.
Se
tudo isso a surpreendeu, por carecer de competência não tinha condições de
presidir o país. Não tinha mesmo.
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