A capacidade de um país andar mais rápido
depende da qualidade de seus líderes, perfis que abrem caminhos e desfazem
obstáculos com sua condição de atrair, comover, inspirar, entusiasmar as
plateias e mobilizar as massas. No passado, os rastros das grandes lideranças
deixavam se ver nas trilhas abertas para libertar seus países da opressão e da
miséria.
Eram tempos da política elevada ao altar da
alta expressão. Atores políticos se revezavam na missão de debater, nas
réplicas e tréplicas, argumentos e fundamentos sólidos do pensamento. O
rebaixamento da qualidade na maneira de operar a política tem muito a ver com a
crise da democracia representativa em todos os quadrantes. Nas últimas três
décadas, o mundo foi arrastado por uma carga monumental de eventos, cujos
efeitos se fizeram sentir nos instrumentos da representação: arrefecimento das
doutrinas, pasteurização dos partidos, perda de força dos parlamentos e
desengajamento das massas. Essa teia de situações contribuiu para a crise
global de governabilidade.
Importantes mudanças passaram a balizar as
frentes sociais e política. Uma nova consciência se instalou no meio de muitas
sociedades. Partidos tradicionais, nascidos e desenvolvidos a partir de
discursos assentados em eixos doutrinários - conservadores e liberais, de
direita e esquerda - perderam substância com o declínio das ideologias e a
extinção das clivagens partidárias, amparadas no antagonismo de classes. A
expansão econômica e a diminuição do emprego no setor secundário em proveito do
setor terciário estiolaram a força das estruturas de mobilização e negociação.
Novos movimentos se formaram e os grupamentos corporativos cresceram na esteira
de uma micropolítica voltada para a defesa pragmática de setores, regiões e
comunidades.
Nessa moldura, a democracia representativa
passou a ser também exercida pelo universo de entidades intermediárias, com
forte prejuízo para a instituição política tradicional. Não é à toa que os
nomes de candidatos prevalecem sobre partidos.
Emergem, nesse cenário, lideranças menos carismáticas, mais técnicas, com preocupações estratégicas que se repartem em algumas esferas: a estabilização macroeconômica; os programas de desenvolvimento e os ajustes fiscais; as redes de proteção social e as políticas públicas de saúde, de educação e segurança. Nos últimos tempos, o combate à corrupção assumiu prioridade.
Nesse terreno não vicejam mais líderes
carismáticos e populares. Por aqui, Lula é o último líder de massas de um ciclo
que se esgota com a intensificação da crise política. Na verdade, Lula se
apresenta como a última instância produzida por um processo de acumulação de
forças, que, há três décadas, vem operando sobre a esfera social, juntando
ações coletivas e públicas, demandas por direitos e movimentos cívicos,
canalizados com força a partir da Constituição de 88.
A corrupção deslavada, que deixa a cara do
país mais parecida com uma gigantesca delegacia de polícia, está levando de
roldão atores políticos para o lamaçal. A era Lula está no fim.
Desaparecendo o formato carismático e
populista, teremos de conviver com grupos de políticos treinados nas artimanhas
da articulação e dos entreveros partidários. Os brasileiros começam a não
enxergar mais aquela aura que envolvia seus ícones e heróis, o líder
glorificado, admirado por todos.
Não
há mais quadros que mereçam a admiração e o engajamento entusiasmado. É assim
que o Brasil vai enxertando em sua galeria lideranças sem massas. Ou massas sem
líderes.
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