A era tecnológica trouxe uma leva de
ferramentas para a comunicação e relação. Nestas ferramentas, é possível que
escolhamos aquilo que o outro verá e saberá de nós. As informações são
selecionadas, as fotos, muitas vezes, editadas. A nossa identidade é
"enfeitada" muito mais de acordo com aquilo que queremos ser do que
com aquilo que realmente somos em nossa complexidade. Com isso, algumas
vivências ou conteúdos que expressam coisas das quais não nos agradam mais, ou
das quais pensamos que não irão causar uma boa impressão, são facilmente
excluídas ou escondidas.
Muitas vezes, viver este cansativo esforço
de mostrar sempre nossa versão mais bonita, mais forte e sábia, que muitas
vezes é apenas inventada, acaba fazendo com que esqueçamos que somos ainda
seres humanos. Quer dizer, ninguém é realmente perfeito, ninguém é bonito o
tempo todo, e todos nós iremos cometer erros em algum momento de nossa vida.´
Talvez esse seja o nosso melhor lado, pois é a
partir da fraqueza que encontramos e compreendemos o nosso próprio crescimento.
De nada adianta publicar uma frase de efeito, ou um texto filosófico, se você
mesmo não internalizou e refletiu sobre a própria experiência.
Não obstante, é nessa tentativa extrema de
se mostrar perfeito ao mundo que os julgamentos também acontecem. Aquele que se
desviar um pouco do esperado por determinado grupo, ou mesmo que cair na
infeliz ideia de não pensar e reler várias vezes o comentário antes de enviar,
pode ser "apedrejado" virtualmente. O paradoxo atual é que ao mesmo
tempo que se deve estar exposto o tempo todo, se deve fazê-lo dentre
expectativas dos demais, dentro dos padrões esperados. Viramos personagens de
nós mesmos.
É nessa realidade que se esquece de uma das
maiores lições da vida que é simplesmente amar-se por aquilo que se é. Isso
inclui o passado, os erros, as fraquezas e imperfeições. Não me refiro a
amar-se de modo cego, sendo conivente com aquilo que não nos é saudável. Mas
amar-se no sentido de aceitar aquilo que se é, pois é na aceitação que se
encontra a possibilidade de mudança e de crescimento. Cada um de nós, ao
decorrer das próprias vivências, evolui e muda. Essas mudanças, geralmente, nos
fazem pessoas mais maduras, mais fortes. Embora o passado não nos represente
mais, temê-lo tão pouco auxiliará em sua compreensão.
Poder amar a si mesmo, dentro de tudo o que
isso pode envolver, é aceitar quem somos e quem nós fomos, para então descobrir
o que fazer com essas questões, escolher o caminho para quem iremos ser. Mais
importante do que desgastar-se para parecer bom, é estar consciente no
aqui-agora, consciente de si mesmo e disposto para a vida. ´
Não precisamos desperdiçar nossas
oportunidades de crescimento para agradar terceiros, o nosso desenvolvimento
pessoal é um dever nosso com nós mesmos, embora esse exercício traga
consequências maravilhosas nas relações sociais - e, acredite em mim, essa
evolução trará efeitos muito mais duradouros e prazerosos do que uma foto
bonita ou uma bela frase de efeito nas redes sociais.
Por mais legal que seja receber curtidas
nas redes sociais, as oportunidades da vida estão aí para que você possa curtir
e aprender com você mesmo. Ser amigo virtual de alguém não exige satisfações,
principalmente quando são vazias. Você não precisa publicar aquilo que você não
é, ou viver aquilo que você não é. A grande questão é que é só a você mesmo que
deve satisfações. Trabalhe nesse exercício de se conhecer e de amar a si
próprio. Em sua essência, o amor próprio é silencioso, mas refletirá em todas
as instâncias da sua vida de forma positiva.
É a
partir dele que você conseguirá, mesmo sem saber, compartilhar com todos os seus
amigos o seu melhor lado de ser.
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Belo texto. Na verdade ai mora um perigo muito grande, essa falsidade em sorrir, mesmo contra sua própria vontade. A sociedade, hoje em dia, impõe uma constante felicidade e isso se estende ao mundo virtual, Facebook é uma vitrine de sonhos. Pessoas perfeitas, vivendo suas vidas perfeitas. Refeições perfeitas, viagens, baladas. A melhor versão, de pessoas fracassadas. Talvez, por não sabermos mais viver e sentir a melancolia, as próximas gerações se tornem alienadas, protegidas da verdade.
ResponderExcluirEnfim, o seu blog é provocante, lembro-me de acessá-lo há muito tempo atrás e, agora, retornando ao diHITT, te encontrei novamente. Meus parabéns,
Abraço!
Emerson Teixeira Lima ( http://cronologiadoacaso.com.br/ )