O aproveitamento da água do
esgoto e a dessalinização produzem metade da demanda do recurso no país.
Medidas produzem uma Catareira ao ano.
O agricultor Igal Aftaby, 55, acorda às 5h
todos os dias para trabalhar em sua plantação de romãs - vista de cima, é um
pontinho verde no meio do deserto de Neguev, em Israel. Uma década atrás nada
crescia ali. "Rezávamos por cada gota", diz ele, debaixo de um sol de
mais de 40 graus. "Agora, temos água para cultivar o que queremos.
Pretendo começar a plantar uvas."
O esgoto captado nas casas de todo o país passou a ser usado na
produção de água de reuso - são 450 bilhões de litros por ano, que abastecem metade
das plantações. A medida faz parte de um conjunto de ações que, em menos de uma
década, tirou Israel, um país com 60% de seu território formado por deserto, da
crise hídrica.
Para suprir o déficit, o país passou a produzir artificialmente
quase metade de sua demanda, seja dessalinizando a água do mar ou tratando
esgoto. É o equivalente a mais de um sistema Cantareira (900 bilhões de litros)
ao ano. A produção anual de Israel é de quase 2,2 trilhões de litros.
De soluções administrativas sem custo às mais caras,
especialistas israelenses afirmam que várias opções poderiam ajudar o Estado de
São Paulo a resolver a falta de água em médio prazo. Responsável por 58% do
consumo, a agricultura toma cada vez menos água potável em Israel - o país
trata 86% do esgoto, usado na irrigação a um preço três vezes menor.
Além disso, foram construídas quatro usinas privadas de
dessalinização e há uma quinta a ser inaugurada. Em sistema de concessão, a
água é revendida ao governo por US$ 0,57 (cerca de R$ 1,78) a cada mil litros -
valor considerado baixo.
Abraham Tenne, da Autoridade Hídrica de Israel, visitou o Brasil
recentemente e diz que São Paulo teria opções mais baratas antes de apelar para
a dessalinização - o investimento para uma usina pode chegar a US$ 450 milhões
(R$ 1,4 bilhão), fora o consumo de energia.
"Também é preciso evitar contaminação dos rios, para não
ter de gastar muito para descontaminá-los", diz Tenne. Segundo ele,
delegações brasileiras e israelenses têm conversado sobre eventuais parcerias
na questão hídrica.
Israel fez do preço uma ferramenta para forçar a economia. No
auge da crise, entre 2008 e 2009, o subsídio foi drasticamente reduzido e a
tarifa foi aumentada em 40%.
Hoje, a população de Israel paga em média o equivalente a US$
2,30 (ou R$ 7,20) a cada mil litros, com aumento de acordo com a faixa de gasto
--em São Paulo, também há tabela progressiva, mas o preço básico para uso
doméstico é de R$ 2,06 por mil litros.
O uso doméstico per capita no país é de cerca de 230 litros por
dia - maior que o dos paulistas (188), mas menor que o dos cariocas (253).
Campanhas, aumento do preço e distribuição de aparelhos que diminuem o gasto
nas torneiras resultaram em queda de 17% no consumo.
Uma das apostas para manter essa tendência é transformar as crianças
em vigilantes da água. "Quando seus filhos pedem para você fechar a
torneira enquanto ensaboa os pratos, você faz isso", afirma Uri Shor,
porta-voz da autoridade hídrica.
Várias escolas também tentam envolver os alunos nos esforços
para economizar. Com ajuda das crianças, o professor Ohad Reimer, 34, opera um
sistema de cisternas que abastece as descargas da escola em Revohot, uma pacata
cidade perto de Tel Aviv.
"Crescemos
preocupados com água, mas as crianças de hoje sabem muito mais do que sabíamos
na época", diz Reimer. Na cidadezinha de casas com grandes jardins, parte
dos alunos já criou sistemas de reuso, aproveitando água do chuveiro para as
plantas.
Folhapress.
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