Que moléstia contamina o olhar de quem está
no poder em nosso grande e pobre país? Como se não bastasse o Legislativo zoar
de nossa cara, o Poder Judiciário, detrás de suas recorrentes frases de efeito,
legisla em causa própria justificando as maiores injustiças. Os olhos
ofuscados, uma boa dose de vaidade e altos salários imerecidos, não os permitem
acercar-se das diferentes realidades brasileiras, aquelas que ardem em nossa
carne, que os cheiros nos invadem, que perturbam nossos sonhos e planos.
O
seu conhecimento das leis não tem serventia quando se presta para o exercício
da eloquência cínica que encobre a ausência do senso de justiça, âmbito humano
que parece muito distante de algumas das suas decisões. Quando Luiz Fux
autorizou o pagamento do auxílio moradia para juízes, de acordo com a lei, foi
absolutamente injusto e imoral.
Do platô onde vive, certamente não consegue
enxergar o que seria justo. Deboche e cinismo! Talvez seja melhor guitarrista
que juiz. Agora, Lewandowski apronta um pacote de privilégios para toda a sua
família e a de seus pares, o ebola do escárnio, a ser pago por todos os
brasileiros, pelos professores sem aumento, pelos grevistas condenados pela
Justiça a voltar ao trabalho. Os deuses da In-Justiça se burlam de todos nós.
É o gozo sobre a nossa miséria e
impotência. O desembargador José Aquino se apoia na decisão imoral do CNJ. Ao
invés de recusá-la, apontar sua iniquidade de origem, a aceita e se lambuza. É
uma zombaria!
É provável que os membros do alto Poder
Judiciário não saibam o que são transporte e escolas públicas, o SUS e falta de
saneamento, entre tantas paisagens, porque, também e provavelmente, as
desconheçam ou as borraram da memória num ato de assepsia e alheamento. É
provável que alguns desprezem os diversos professores que passaram por sua
formação. Mas também é provável que outros tenham cabulado as aulas sobre
cidadania, humanismo e justiça.
O Estado se transformou em um paraíso para
a desfaçatez e a manutenção de privilégios, covil preferencial de delinquentes
bem falantes e engravatados, de corporações, empresas, igrejas e latifúndios.
Condomínios protegidos de privilégios e áreas públicas ao abandono.
O cinismo, a retórica e a dissimulação são
os valores preferenciais desta elite brasileira. O temor como arma de coação. O
privilégio sempre é injustiça.
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