domingo, 14 de junho de 2015

Parlamentarismo caboclo

Em 1993 o Brasil realizou um plebiscito consultando a opção da sociedade brasileira pelo regime de governo presidencialista, parlamentarista ou monarquista. O resultado foi amplamente favorável à continuidade do presidencialismo, com 55,4% contra 24,6% pelo parlamentarismo. Agora vemos o segundo governo Dilma se desintegrando junto com o Partido dos Trabalhadores, e o avanço tortuoso de um parlamentarismo caboclo pautando a gestão capenga.

Vamos ver. O presidente do Senado tem conduta própria, e não respeita as regras da coligação que apóia o governo. O presidente da Câmara dos Deputados age independente também e ainda confronta o colega presidente do Senado. Ambos são do mesmo partido, o PMDB, mas estão construindo espaços próprios usando o poder de chefes do Poder Legislativo pra criar caminhos individuais à presidência da República em 2018.

Já o vice-presidente da República foi nomeado para ser o conversador junto ao Legislativo, depois que os burocratas do Palácio do Planalto deram com os burros n´água sucessivas vezes em que votações importantes para o governo foram derrotadas por inabilidade de conversar. Ainda que o PMDB tenha se tornado uma colcha de retalhos de interesses políticos individualizados ou de grupos, o fato é que ele colonizou o governo e dá as cartas, mesmo sem uma unidade de comando.

 Apesar disso, engoliu o arrogante PT de ontem e acena para o governo com a mão esquerda e o chicoteia com a mão direita.

A economia do país, por sua vez, foi entregue a um neo-liberal, contrariando todas as premissas ideológicas do PT e do governo, numa desesperada tentativa de perder os anéis sem perder os dedos. Submisso, o governo tem a condução política entregue nas mãos do PMDB e a economia nas mãos de um estranho no ninho. Na prática, o esvaziamento da presidente da República que se tornou uma mera figura de retórica, um modelo de parlamentarismo acaboclado toma o governo e antecipa uma anêmica reforma política desejada e pouco possível.

Parece inevitável pensar que ao fim dessa experiência do governo partido entre o vice-presidente articulando a política, o Congresso Nacional pautando o governo, e um ministro estranho à ideologia petista, saia um regime parlamentarista acaboclado pra governar o Brasil no futuro.

Como diziam os antigos: “atirou no que viu e acertou no que não viu”.

Onofre Ribeiro.

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