terça-feira, 30 de junho de 2015

Mais de 30% da Muralha da China desaparece

A Grande Muralha, construção da Dinastia Ming, não é uma estrutura única, integrada, mas sim uma construção por seções que se estendem por milhares de quilômetros.
Mais de 30% da Grande Muralha da China desapareceu ao longo do tempo devido às condições meteorológicas adversas e atividades humanas irresponsáveis, como a retirada de tijolos para construção de casas, noticiou ontem a imprensa local estatal.
Em alguns trechos, o monumento, considerado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), encontra-se bastante degradado, equivalente a cerca de 9 mil quilômetros. A estimativa é que o comprimento total da muralha seja de 21 mil quilômetros.
A Grande Muralha, construção da Dinastia Ming, não é uma estrutura única, integrada, mas sim uma construção por seções que se estendem por milhares de quilômetros a partir de Shanhaiguan, na Costa Leste de Jiayuguan, atravessando as areias do deserto de Gobi.
A construção teve início por volta do século 3 a.C., mas cerca de 6,3 mil quilômetros foram construídos durante a Dinastia Ming, entre 1368 e 1644, incluindo os setores mais visitados ao Norte da capital, Pequim. Desse total, 1.962 quilômetros desapareceram ao longo dos séculos, divulgou a agência AFP citando o jornalBeijing Times.

O turismo e as atividades locais também são fatores que têm contribuído para o desgaste. Os residentes da região de Lulong, no norte da Província de Hebei, os mais atingidos por dificuldades financeiras, têm o hábito de recorrer aos tijolos da muralha para construírem as suas casas.
Somam-se ainda o hábito de retirarem as “placas que contêm inscrições chinesas para venderem por 4,30 euros por peça”, informou a agência citando testemunhos dos residentes, acrescentando que a regulamentação chinesa prevê multas de 5 mil yuan (0,73 euro) para quem praticar semelhantes atos.
“Não existe nenhuma organização específica para garantir o cumprimento da lei”, e, quando os atos ocorrem e as autoridades são chamadas, é difícil resolver a questão já que existem zonas situadas entre fronteiras e, por isso, com diferentes jurisdições, declarou uma representante da proteção oficial de Relíquias e da Cultura, Jia Hailin.
“A exploração (turística) das seções incompletas da Grande Muralha, uma atividade popular em crescimento nos últimos anos, tem atraído mais turistas do que é possível comportar, originando um desgaste ainda maior”, acrescentou.
Agência Lusa.
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Economia, liberdade e democracia

A economia reage! Empresas diminuem a capacidade ociosa de seus respectivos parques industriais; a taxa de desemprego, mesmo elevada, se estabiliza; investimentos vão sendo gradativamente retomados; o comércio sai das cinzas às fagulhas e lentamente se aquece com a retomada do consumo; a sangria desatada da inflação é estancada e o salário vai retomando a passos de cágado, seu poder de compra; o Banco Central ensaia reduzir juros o que implica positivamente no crédito e; o megacartel bancário, este poder paralelo de leis e rumos próprios, que tem como esporte preferido o constrangimento e a intimidação das autoridades monetárias do país vê sua estrategia de intensificação da especulação sendo alterada.
O governo combina austeridade interna com captação de investimentos para o país. A China consolida sua posição de principal parceiro econômico do Brasil e os Estados Unidos ciosos por não perderem influência na América Latina, propõe estreitar relações com o Brasil, principal economia do subcontinente. Eis a razão e o sentido da atual visita de Dilma Roussef ao império do norte.
Sem falsos otimismos ou sem enredar em auto-enganos, mas o país vai inteligentemente costurando saídas para a crise que, de uma forma ou de outra, criou, é parte e vítima.
O mundo da política, um mosaico difícil de ser compreendido, é partido cotidianamente, ora pelas investidas da neoconservadora direita brasileira e que, dizendo a que veio, não abre mão do seu “vale-tudo” contra o quarto governo do PT, ora pela esquerda que sempre autoritária, segue em um patético modelito liberal, evidentemente fracassado e superado em todo o mundo e sem retomar bandeiras importantes para o seu protagonismo social e político e, sobretudo, para a transformação estrutural da sociedade brasileira.
Fato é que o que muitos dos “chocados cidadãos de bem” e que tresloucadamente vociferam na imprensa, escrita ou falada, de que o Brasil está um caos, uma bandalheira e, definitivamente, carente de rumos ainda não entenderam que o que está acontecendo é exatamente o exercício da democracia. Se não sabem, democracia é exatamente a manifestação livre de pensamento, de posições e oposições.
O que essa “boa gente” ainda não percebeu é que estes acirramentos são, linhas gerais, positivos. De fato, a democracia precisa ser testada, exercitada e posta em causa. Por enquanto, apesar da taxa de juros, da mídia e do judiciário, nossa democracia persiste.
Agora, é claro que excessos acontecem freneticamente. Venhamos e convenhamos, mas aquela dos movimentos neonazistas tupiniquins clamarem e conclamarem golpes militares, intervenções ianques no país e bobagens similares é de uma estupidez sem-tamanho. É preciso ter claro que liberdade na democracia existe para potencializar a democracia. Não pode haver liberdade para enfraquecer a democracia, para torna-la frágil, piorada, amiudada. Essa, de fato, não serve e jamais servirá para a democracia e o seu necessário aprofundamento, de modo que esses excessos devem ser combatidos com os rigores e as penalidades da lei.
Não tem cabimento! Não pode ser liberdade para depredar, destruir e enfraquecer o público, para aquilo que serve ao público e que, de outra forma, eleva a própria vida do público para níveis ou condições melhores e superiores. É nesse sentido que o próprio sentido da democracia precisa ser melhor compreendido, reafirmado e posto no cotidiano da vida social, política e econômica.

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Só o sol e a morte não podem ser olhados fixamente

Sobre nossa busca existencial, de encontro ideológico, o ser humano basicamente se encontrou em três formas: na busca espiritual, na ciência e na arte. Volta e meia, elas se cruzam dando mais sentido e significância ao nosso tempo, e de alguma forma aliviando essa dor que se encontra no “escuro da alma”, de que ninguém está completamente salvo. Mas o curioso é como essa terceira forma vem se destacado dentro da nossa civilização ultimamente.
Em toda história, a “Arte” como princípio de expressão visceral de contato com o mundo, sempre foi vista e recolhida através de migalhas no aspecto financeiro, mas sempre foi muito exaltada e reverenciada no campo espiritual e também, como sabemos, incomoda cada dia mais a ciência com suas formas de tratar e manipular o sentimento. Mas nesse caso, sim, a ciência como já vem acontecendo, vem utilizando cada vez mais a arte como um de seus pilares para trazer mais sentido e transparência para o ser em busca de respostas, e consequentemente nos levando a ser cada dia mais “Seres Espirituais”, o que torna uma civilização mais humana e com isso mais saudável mentalmente.
Entretanto, na arte, os artistas sempre se colocaram dentro de um respectivo palco para dar sentido a essa busca do encontro com si (mesmos), havendo assim uma transferência natural com o universo e com o mundo, com isso gerando ao mesmo liberdade e amor.
Só que o mais curioso hoje em nosso tempo (expressão redundante. Sugiro hoje em dia ou atualmente) é, justamente, a posição dos artistas perante esse posicionamento social. Como podemos nos conformar vendo toda essa vulgarização de artistas repletos de sede e fome por palcos e de serem escutados? O que está acontecendo com essa expressão tão sublime?
O grande problema é que determinada classe de músicos perdeu completamente a noção de como devem ser escutados, então se blindam à força popular e se rendem a uma pequena parcela de público, e não só se contentam com migalhas como se posicionam e se estimulam com elas, o que faz de um ato sublime, um circo! Não tem nada demais em se sustentar com migalhas, ora! os pombos, símbolos de fé para a maior religião do mundo, se sustentam de migalhas, mas a grande diferença é que eles sabem voar alto, e reconhecem o valor desse ato, sendo assim não perdem o valor de sua grandeza.
Hoje, de tanto ser martirizada, quase não levamos mais a arte a serio, e com isso os lamentos artísticos se tornam contraprovas de como andamos em um mundo muito acelerado em retrocesso, um mundo civilizado por pessoas tímidas, sim, tímidas de expressão, inibidas no sorriso, no choro, e os artistas como papel representativo estão sendo vulgarizados e se nublando em um mundo com muita informação, pouca busca e muito pouca assimilação, deixando assim uma das grandes formas de responder a nossa eterna pergunta distante:
qual o sentido da nossa existência? o que realmente nos pertence? A culpa é nossa em viver em um mundo embriagado ou estamos embriagando o mundo com essa sede toda em busca de sentidos frágeis e rasos?
Como artista, posso afirmar que a arte não é uma escolha, mais sim uma condição. Então, creio que a reflexão só é bem-vinda com a ação, pois precisamos estar em movimento para enxergar as melhores formas de nos somar com o universo e com nos mesmos, sendo assim o exemplo só pode ser bem-vindo quando em direção certa, pois podemos perder o ângulo certo, e como ver o sol fixamente, ele pode nos queimar ou nos clarear.
Consciência é a palavra do nosso tempo, vigor é a palavra que nos falta e o amor anda perdido por aí nesses becos sujos onde a escuridão esconde o olhar e venda o espírito, nos tornando cada vez mais consumistas de nossas pérolas feitas em aço nesses museus, agora sem tantas novidades.
Xeque-mate para todo dia.
Cheque mate para todo dia.
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segunda-feira, 29 de junho de 2015

As crianças de hoje

Essa expressão tornou-se um clichê generalizado na sociedade brasileira. Interpretada literalmente seria uma obviedade, mas o sentido figurado quer dizer que as crianças de hoje são mais difíceis de lidar do que as de outras épocas.

Essa visão também era a mesma que tinham os pais há 20, 40, 60 anos em relação às crianças da época. Sempre entende-se que as crianças de outrora eram mais educadas, mais dóceis e gentis.

Muitos pais costumam dizer que, “no meu tempo, bastava um olhar de minha mãe, do meu pai”. Nem tanto ao céu nem tanto ao inferno. Esse olhar era o bastante, significava a escola entre a obediência irrestrita – e, às vezes, nem isso adiantava mais – ou castigos físicos impiedosos. Não era respeito. Caso desobedecessem, as surras seriam impiedosas, torturantes; violência ao extremo.

Certo ou errado, tratava-se de um valor positivo consolidado. Hoje, os pais estão perdidos, como estavam também há uns 30, 40 anos. Tanto que era comum se ouvir muita gente afirmar com galhardia que “não era pai, mas um amigo para os filhos”.

Esse modelo progrediu para um vale-tudo, para pais que não são nem pais nem amigos. Hoje estão confundindo liberdade com libertinagem; desrespeito com criatividade, com falta de limites; e demonstração de fraqueza com virtude. O resultado é pais totalmente dominados pelos filhos.
Qualquer um gosta de demonstrar força frente a alguém detentor de poder. A criança começa a dominar os pais, em tenra idade, pelo choro tolo, aparentemente inocente, para ganhar coisas, conseguir ficar onde precisa, deixar de fazer o que deve e determinar o que os pais devem ou não fazer. Espalhar brinquedos para os pais recolherem é a atitude mais comum.

Dominados os pais, a necessidade de expandir território leva à tentativa de sujeitar parentes e amigos aos seus caprichos e birras. Como dominar é bom, continuam na busca do domínio total sobre todos.

Uma vez que, em casa, esse domínio é encarado com naturalidade, a criança esperta passa a se comportar em qualquer lugar do mesmo modo. Sempre a demonstrar sobreposição aos pais. Sobe no sofá e risca a parede da casa do vizinho. Nesse momento, meio com caras de desentendidos, os pais dão risinhos e passam a olhar a reação dos presentes. E repetem a justificativa de que aquela criança é demais, incontrolável mesmo, como a dizer que, “se ele fosse seu filho, você também não o educaria”.

Os mais mancomunados costumam pedir para não fazer aquilo “porque fulano/beltrano não gosta”. Atire a primeira pedra quem gosta de ter uma parede riscada por alguma criança, descontrolada, do melhor amigo.

Quase todos os pais que não educam os filhos tentam passar a impressão de que o seu pupilo é incontrolável; os outros tiveram sorte de ter filhos bonzinhos; e não se dão conta de que criança nenhuma é tola e que qualquer um se aproveita de quem se deixa dominar.

Essas transgressões progridem. Quando maiores, começam a não ir às aulas, ficam na rua sem horário de retorno, e os mais enérgicos mandam os pais calarem a boca ou coisa pior. Poucos passos adiante e a sociedade sofrerá as consequências de um delinquente, matando na direção de um carro ou, nos casos mais graves, de arma em punho.

Nesse ponto, chega-se à frase de que “ninguém perde filho para as ruas, são perdidos em casa”. E pouco a pouco, de forma progressiva.

Nem maus-tratos nem mão de pelica. Educação requer esforço, compreensão, momentos para dizer sim, muitos outros para dizer não; noutros, um não definitivo. O chavão “que mundo queremos deixar para nossos filhos, mas que filhos queremos deixar para o mundo” precisaria ser encarado com mais realidade do que como mero clichê.
  


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A falta de líderes no Brasil

A capacidade de um país andar mais rápido depende da qualidade de seus líderes, perfis que abrem caminhos e desfazem obstáculos com sua condição de atrair, comover, inspirar, entusiasmar as plateias e mobilizar as massas. No passado, os rastros das grandes lideranças deixavam se ver nas trilhas abertas para libertar seus países da opressão e da miséria.
Eram tempos da política elevada ao altar da alta expressão. Atores políticos se revezavam na missão de debater, nas réplicas e tréplicas, argumentos e fundamentos sólidos do pensamento. O rebaixamento da qualidade na maneira de operar a política tem muito a ver com a crise da democracia representativa em todos os quadrantes. Nas últimas três décadas, o mundo foi arrastado por uma carga monumental de eventos, cujos efeitos se fizeram sentir nos instrumentos da representação: arrefecimento das doutrinas, pasteurização dos partidos, perda de força dos parlamentos e desengajamento das massas. Essa teia de situações contribuiu para a crise global de governabilidade.
Importantes mudanças passaram a balizar as frentes sociais e política. Uma nova consciência se instalou no meio de muitas sociedades. Partidos tradicionais, nascidos e desenvolvidos a partir de discursos assentados em eixos doutrinários - conservadores e liberais, de direita e esquerda - perderam substância com o declínio das ideologias e a extinção das clivagens partidárias, amparadas no antagonismo de classes. A expansão econômica e a diminuição do emprego no setor secundário em proveito do setor terciário estiolaram a força das estruturas de mobilização e negociação. Novos movimentos se formaram e os grupamentos corporativos cresceram na esteira de uma micropolítica voltada para a defesa pragmática de setores, regiões e comunidades.
Nessa moldura, a democracia representativa passou a ser também exercida pelo universo de entidades intermediárias, com forte prejuízo para a instituição política tradicional. Não é à toa que os nomes de candidatos prevalecem sobre partidos.

Emergem, nesse cenário, lideranças menos carismáticas, mais técnicas, com preocupações estratégicas que se repartem em algumas esferas: a estabilização macroeconômica; os programas de desenvolvimento e os ajustes fiscais; as redes de proteção social e as políticas públicas de saúde, de educação e segurança. Nos últimos tempos, o combate à corrupção assumiu prioridade.
Nesse terreno não vicejam mais líderes carismáticos e populares. Por aqui, Lula é o último líder de massas de um ciclo que se esgota com a intensificação da crise política. Na verdade, Lula se apresenta como a última instância produzida por um processo de acumulação de forças, que, há três décadas, vem operando sobre a esfera social, juntando ações coletivas e públicas, demandas por direitos e movimentos cívicos, canalizados com força a partir da Constituição de 88.
A corrupção deslavada, que deixa a cara do país mais parecida com uma gigantesca delegacia de polícia, está levando de roldão atores políticos para o lamaçal. A era Lula está no fim.
Desaparecendo o formato carismático e populista, teremos de conviver com grupos de políticos treinados nas artimanhas da articulação e dos entreveros partidários. Os brasileiros começam a não enxergar mais aquela aura que envolvia seus ícones e heróis, o líder glorificado, admirado por todos.
 Não há mais quadros que mereçam a admiração e o engajamento entusiasmado. É assim que o Brasil vai enxertando em sua galeria lideranças sem massas. Ou massas sem líderes.

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domingo, 28 de junho de 2015

Chineses comem 10 milhões de cachorros por ano

Na semana passada, cerca de 10 mil cachorros e diversos gatos foram mortos num festival anual no sudoeste da China para celebrar o dia mais longo do ano. Mas para a correspondente da BBC em Hong Kong Juliana Liu foi uma lembrança de um dos dias mais traumáticos de sua infância, na cidade chinesa de Changsha.
Quando eu tinha três anos, depois de passar meses implorando aos meus pais, eles finalmente me deram um cachorrinho.
Aquele dia em que meu tio, um caminhoneiro, trouxe um vira-lata amarelo da distante casa da minha vó, foi o mais feliz da minha até então curta vida.
Eu o chamei de “Cãozinho”. Imediatamente, nos tornamos inseparáveis.
Como filha única nascida em 1979 no início da política chinesa de um só filho, eu sempre fui sozinha e Cãozinho tornou-se meu melhor amigo. Ele amava correr para fora do nosso apartamento de um quarto, devorando qualquer sobra de arroz.
Mas esses dias felizes não duraram muito. Depois de apenas um inverno, meus pais me disseram que Cãozinho tinha que ir embora.
Em cidades chinesas no início dos anos 1980, ter um animal de estimação era considerado um comportamento altamente indesejável, burguês. Nenhum dos meus vizinhos tinha um. E também não era totalmente legal.
Não havia nenhum acesso a vacinas animais ou veterinários e, por isso, estes animais poderiam representar um risco à saúde pública.
Um dia, minha mãe disse que iríamos fazer compras – e, quando voltamos algumas horas depois, Cãozinho não existia mais. Ele havia sido pendurado pelas pernas em nosso quintal comunal e se transformado num ensopado.
Ninguém prestou atenção nas minhas lágrimas. Ouvi os vizinhos dizerem que logo eu esqueceria tudo isso.
Eles estavam em festa. Nos anos que antecederam o boom econômico da China, quando pequenas porções de comida ainda eram racionadas, era raro ter a chance de comer um animal inteiro.

Recusei-me a comer o cozido – e eu nunca comi cachorro na vida.


Na China, a tradição de comer cachorro vai além da história escrita. Por outro lado, não é o tipo de coisa que as pessoas comem diariamente. É uma especiaria, e acredita-se que dá força, vigor e virilidade a quem a come.
Cerca de 716 milhões porcos e 48 milhões de bovinos são abatidos no país por ano. O número de cães abatidos é bem menor – um grupo de direitos de animais calcula o número em cerca de 10 milhões.
Mas de onde vêm estes cães?
Uma investigação de quatro anos sobre a indústria de carne de cachorro pelo grupo Animals Asia concluiu que a maioria dos cães consumidos na China são roubados.
“Durante toda a investigação, não encontramos nenhuma evidência de quaisquer instalações de reprodução em larga escala, onde mais de 100 cães sejam criados”, disse o relatório publicado no início deste mês.
“A dificuldade da reprodução em larga escala de cães para alimentação e a ganância pelo lucro dão espaço a roubos e até mesmo a envenenamento de cães.”


Cães também estavam a venda durante festival – mas sociedade chinesa está se voltando contra a ideia de comer cachorros, diz ativista.

Mas Peter Li, da Sociedade Internacional Humana, diz haver uma crescente pressão sobre autoridades chinesas para que tomem medidas contra o hábito de consumir animais de estimação – e que a própria sociedade está se voltando contra a ideia de comer cães.
Havia muito menos barracas que vendiam carne de gato e cão no festival de Yulin neste ano do que em 2014, disse ele.
“A atitude geral é de ser contra o consumo de cães. A China tem 130 milhões de cachorros, dos quais 27 milhões são animais de estimação urbanos. Isso é um grande número de donos de animais”.
“A geração mais nova, nascida na década de 1990, não é tolerante a crueldade animal.”
Em 2014, ativistas de direitos dos animais interceptaram 18 caminhões que transportavam cães destinados a alimentação, resultando no resgate de cerca de 8 mil animais, disse ele.
 -Ativistas de direitos de animais deram a um cachorro uma bolsa com a mensagem: “Crianças à 
venda”



Li relaciona a ascensão do ativismo de proteção animal na China ao ano de 2011, quando, pela primeira vez na história, mais pessoas viviam em cidades do que no campo no país.
Moradores urbanos, diz ele, vêem cães e gatos mais como animais de estimação, e não como animais de trabalho – cães de guarda, por exemplo – ou fontes de carne.
Em maio, numa visita a Shanghai, vi uma cena que me encantou.
Enquanto caminhava, parei uma jovem turista chamada Yang Yang, que levava seu pequeno cãozinho junto ao peito – da mesma maneira que eu levo meu bebê “humano”.


“Desta maneira, eu posso levá-lo a restaurantes e em aviões”, disse Yang. “Caso contrário, ele não seria permitido comigo. Para onde eu vou, ele vai.”
Posamos para uma foto juntos – os três.

BBC Brasil.

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