Nos
últimos dois anos, o mundo foi testemunha de um festival de acidentes aéreos.
Centenas de vidas ceifadas em tragédias que mexem com as pessoas, fazem-nas
pensar. Qual o valor da existência? Para onde vamos, de onde viemos? Que
destino esdrúxulo é esse que interrompe violentamente a trajetória de quem
ainda tinha muito a oferecer? É de se pensar como a vida é efêmera e como
os problemas são pequenos perante o iminente fim.
Uma
tragédia pode acontecer com qualquer indivíduo. Cruel realidade. Ainda mais na
medida em que surgem os nomes das vítimas. Pessoas comuns, pais, mães, filhos.
Não sabem o vazio imenso que deixam para trás. A tristeza dos familiares é
perenizada em milhares de flashes fotográficos. A biografia dos mortos se
valoriza. Busca-se saber quem eram, como viviam, que opiniões nutriam a
respeito de nossa sociedade. Nesse entremeio, devotos reforçam sua fé,
agradecendo por cada dia neste planeta histriônico.
É
poético fugir do óbvio e pensar que um dia tudo o que é material vai se
desmantelar e que, em outro espaço, em outro tempo, todos se encontrarão de
novo, unidos pela certeza, não pela dúvida. Essa consciência só é despertada
pela notícia que chega de diferentes veículos e meios de comunicação. A
informação faz refletir, aguça nossa curiosidade e nosso medo. A tristeza pelo
desastre também é inerente. A humanidade se solidariza com a dor dos
familiares.
A
negação, inequivocamente, permanece sendo nosso maior senso de retidão. É por
causa dela que saímos todos os dias às ruas sem pensar nos incontáveis meios
pelos quais podemos deixar esse mundo. Caso contrário, as pessoas ficariam
embaladas em casa, lacradas hermeticamente. Seria impossível viver assim. Viver
é enfrentar os perigos do mundo e tentar subsistir a eles. Nem todos têm tamanha
sorte. Vai ver cada um tem uma linha traçada, não se sabe.
Lamentavelmente, os planos que as pessoas têm pela manhã, às vezes, não chegam
à noite. E não se trata de um argumento fatalista, mas, sim, da mera observação
da realidade. Se da tragédia sai uma lição, certamente é esta: cada dia é uma
bênção.
Você aí
que reclama da vida, se desanima com o mero nascer do Sol, sinta o prazer que é
continuar respirando, lívido e sagaz. Aproveite as oportunidades de recomeço,
conviva com as pessoas, diga que as ama. No final, não haverá arrependimentos.
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