Domingo, 15 de março de 2015. Não foi o
registro de mais um movimento de protesto contra o governo. Foi diferente.
Assistiu-se ao estopim de um movimento de cidadania que tem tudo para mudar a
cara do país.
No dia em que o Brasil completou 30 anos da
redemocratização, pelo menos 2 milhões de pessoas foram às ruas em todos os
estados protestar contra o governo Dilma e o PT, defendendo a democracia, a
ética e o fim da impunidade. O maior ato ocorreu em São Paulo, onde cerca de um
milhão de pessoas tomou a avenida Paulista.
Vestiram-se as praças e avenidas de
verde-amarelo, diferentemente das marchas de centrais sindicais e movimentos
sociais na sexta-feira, quando o vermelho do PT predominou. O contraste, simbólico,
transmitiu um forte recado: o Brasil não é do PT, do PMDB ou do PSDB. É dos
brasileiros.
A corrupção, sem precedentes, despertou
algo que estava adormecido na alma dos brasileiros: o exercício da cidadania. O
povo percebeu, finalmente, que os governantes são representantes da sociedade,
mas não donos do poder. Assistimos ao estertor dos caciques ideológicos. A
força dos currais eleitorais diminui em proporção direta ao tamanho da crise.
Daqui para frente, os políticos serão crescentemente cobrados e confrontados.
Felizmente. Além disso, os brasileiros, mesmo os que foram seduzidos pelo
carisma do ex-presidente Lula, não estão dispostos a renunciar aos valores que
compõem a essência da nossa história: independência, paixão pela liberdade e a
prática da tolerância.
A independência é, de fato, a regra de ouro
da atividade jornalística. Para cumprir nossa missão de levar informação de
qualidade à sociedade, precisamos fiscalizar o poder. A imprensa não tem jamais
o papel de apoiar o poder. A relação entre mídia e governos, embora pautada por
um clima respeitoso e civilizado, deve ser marcada por estrita independência.
Um país não pode se apresentar como
democrático e livre se pedir à imprensa que não reverbere os problemas do país.
O governo petista, no entanto, manifesta crescente insatisfação com o trabalho
da imprensa. Para o ex-presidente Lula - um político que deve muito à liberdade
de imprensa e de expressão -, jornalismo bom é o que fala bem. Jornalismo que
apura e opina com isenção incomoda, irrita e "provoca azia". Está, na
visão de Lula, a serviço da "elite brasileira". Reconheço, no
entanto, que Lula e seus companheiros não são críticos solitários da mídia.
Políticos, habitualmente, não morrem de amores pelo trabalho dos jornalistas.
O que fazer quando um ex-presidente da
República faz graça com a corrupção e incinera a ética no forno do pragmatismo
e da suposta governabilidade? O que fazer quando políticos se lixam para a
opinião pública? Só há um caminho: informação livre e independente.
Além da defesa da liberdade de imprensa e
de expressão, as passeatas deram outro recado: o do repúdio à intolerância. A
radicalização ideológica não tem a cara do brasileiro. O PT tenta dividir o
Brasil ao meio. Jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, homos contra
héteros. Quer substituir o Brasil da alegria pelo país do ódio e da divisão.
Tenta arrancar com o fórceps da luta de classes o espírito mágico dos
brasileiros. Procura extirpar o DNA, a alma de um povo bom, aberto e
multicolorido. Não quer o Brasil café com leite. A miscigenação, riqueza maior
da nossa cultura, evapora nos rarefeitos laboratórios arianos do radicalismo
petista.
Está surgindo, de forma acelerada, uma nova
"democracia" totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões
de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia.
O Brasil eliminou a censura. E só há um desvio pior que o controle
governamental da informação: a autocensura. Para o jornalismo não há vetos,
tabus e proibições. Informar é um dever ético. E ninguém, ninguém mesmo,
impedirá o cumprimento do primeiro mandamento da nossa profissão: transmitir a
verdade dos fatos.
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