A difícil tarefa de dizer "NÃO" aos filhos

Já dizia o ditado “filho não vem com receita”. E não vem mesmo! Quem já passou pela experiência da maternidade ou paternidade sabe bem. E o que se pode observar na contemporaneidade é a mudança que os pais vêm vivenciando na difícil tarefa de educar.
Muito já mudou da forma como os pais de antigamente educavam e criavam seus filhos.

 Atualmente, é comum ouvirmos dos pais de primeira viagem a seguinte afirmação: “Vou dar ao meu filho tudo o que eu não pude ter” e isso muitas vezes acontece literalmente. A afirmação acaba saindo fora do controle dos pais e indo além do que é material, como o consumo exagerado por roupas de marca, celulares e iPhones de ultima geração, ultrapassa valores já constituídos, e instaura uma nova realidade, a ausência da responsabilidade educativa dos pais perante os filhos. 

Mas por que será que isto tem se tornado algo tão comum? Talvez, por que há uma grande dificuldade dos pais de frustrarem seus filhos, pois assim estariam frustrando a eles mesmos quando precisam impor limites, mais difícil do que suportar ver a frustração do filho, é ter que suportar sua própria frustração ao ter que privá-los de algo.

 Ao invés de aprenderem que não podem ter tudo que querem, as crianças ganharam a liberdade de participar de tudo, ouvir todo tipo de conversa, vivenciar cenas que não preservam sua integridade, sem nenhum tipo de cuidado e zelo, como se já tivessem a maturidade suficiente para compreender o que se passa no mundo adulto. Como refere a psicanalista Diana Corso no texto Parentalidade envergonhada, as crianças perderam o direito do tabu da infância, sem nenhum tipo de preservação, os pais acabam sem se dar conta, transferindo aos filhos a autonomia e o poder de decisão, eximindo-se da culpa de frustrá-los.

Porém, sabe-se que viver em sociedade é frustrar-se constantemente, e saber lidar com isto é o que capacita as pessoas a continuarem convivendo com os outros indivíduos, e é papel dos pais inserir os filhos na realidade que irão vivenciar, ensinando que a impossibilidade de ter e fazer tudo que querem é normal, e que a falta faz parte da vida. Além do mais, a falta mobiliza, mexe as pessoas e faz com que elas busquem diminuí-la de forma saudável, podendo suportar a imperfeição e as frustrações da vida. Conseguir dizer não aos filhos além de educar também é um ato de amor e preservação.

Por Lucimara Falcão

Comente este artigo.