No mundo acontece no reino das
contradições. O militante partidário, hipnotizado pelo centralismo democrático
(não seria dogmático?), jamais admite. A contradição nos move sem notarmos, o
raciocínio patina (mesmo quando nos achamos revolucionários): o que almejamos
alcançar nos cega sobre o real. Nada de novo, sei por experiência como o
militante sectário se transforma rápido no babaca ridículo a vomitar asneiras.
Três singelos exemplos mostram a
complexidade do campo das contradições.
UM – Não há coisa mais abominável para o militante de partido no
poder do que a crítica, o livre pensar, a imprensa livre. Isso é fantástico, em
regra o cara que luta por democracia adora impor ditaduras quando assume o
comando. Contradição? Sim!
DOIS - Lançado em 1848 o Manifesto Comunista, escrito pelos fundadores
do socialismo científico Karl Marx e Friedrich Engels é tido,
historicamente, como um dos tratados políticos de maior influência
mundial. Após o golpe dado por Lenin na Rússia em 1917, o século passado foi
movido pela visão utópica embutida nas ideias do cara atormentado por
hemorroidas. Marx, após passar uma tarde sentado num banco duro da Biblioteca
Britânica teria dito que a burguesia ainda lamentaria suas hemorroidas. Até
agora apenas os fracos e oprimidos pagaram pelo veneno produzido pelas
hemorroidas.
Marx fez a cabeça (ainda faz embora os
crimes hediondos de seus seguidores) de miríades de intelectuais. Quando se
soma as experiências, chinesa, cambojana, cubana, russa, norte-coreana,
albanesa, ou seja, o resultado dos governos marxista-leninistas (mais de 100
milhões de mortos), ou governos só socialistas, ou algo derivativo, como
bolivariano ou as dezenas de experiências efêmeras como a República Socialista
dos Trabalhadores da Finlândia, as tentativas na Índia e na África, o Século 20
foi o maior laboratório para as ideias que visavam sepultar o capitalismo e
trazer o paraíso.
O que sobrou de positivo decorridos 177
anos dessa intoxicação ideológica? O que deu certo? Nada, absolutamente nada
foi produzido de útil por essas experiências. O que tivemos foi tirania em cima
de tirania, terror puro e simples, assassinatos em massa sem que a
intelectualidade aprendesse algo capaz de produzir nova utopia. É ou não é
terrível contradição?
TRES – O ministro Joachim Levy colocará nossa economia nos eixos? Sim,
se não atrapalharem! Tem currículo. É o homem certo no lugar certo. Foi
professor da Fundação Getúlio Vargas, atuou no FMI, foi vice-presidente
do BIRD e economista visitante no Banco Central Europeu. Foi
secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e economista-chefe
do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão de FHC (está entre os
responsáveis por entregar a economia redondinha ao Lula). Foi secretário
do Tesouro Nacional, secretário da Fazenda do Rio de Janeiro e
no Banco Bradesco ocupava o cargo de diretor-superintendente quando foi
nomeado ministro da Fazenda no segundo mandato do governo Dilma Rousseff.
O homem sabe o que faz!
Sacaram? No universo das contradições nossa
economia será salva (sem ironia, creio mesmo que Joachim Levy pode nos tirar do
buraco) por banqueiro (há “banqueiro de esquerda”?), o tipo mais odiado por
quem assumiu o governo sob a cantilena do socialismo. Ou, melhor ainda, pela
primeira vez o galinheiro estará salvo e voltará a ser produtivo sob os
cuidados do olhar aguçado da raposa? Salvem as contradições.
Resumo da ópera: para que serve militante
intoxicado? Apenas para engordar no poder os que traíram os princípios mais
comezinhos de determinado período histórico.
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