segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Paz no trânsito do País




“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Morreu na contramão atrapalhando o público
Morreu na contramão atrapalhando o sábado”
Chico Buarque

Deste sábado (18) até o próximo (25) todos somos convidados a refletir profundamente sobre o grave problema do trânsito brasileiro. Neste lapso de tempo comemora-se a Semana Nacional de Trânsito, prevista no corpo do próprio Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 326. Um diploma legal, cuja essência se fundamenta na defesa da vida e na preservação da incolumidade física dos cidadãos e que nos desafia a concebê-lo como corolário de nossos deslocamentos, de nossa mobilidade, sobretudo em seus aspectos comportamentais, dos nossos direitos e deveres quando vivenciamos as cidades e as nossas interações cotidianas.
Enquanto procuramos por estas linhas alertar para tão grave conflito, a matança traduzida na violência contínua se alastra pelas ruas e estradas do Brasil. Agora mesmo contabilizamos 37.290 mortos e 118.142 feridos hospitalizados nos últimos 363 dias, conforme o site www.chega de acidentes.com.br liderado pelas entidades civis ANTP, CESVI, Abramet e AND. Tal tragédia representa custos da ordem de R$33,1 bi, o equivalente à construção de 663 hospitais de reabilitação, de acordo com o mesmo site de pesquisas.
São números cruéis mesmo, que maculam o sentido de civilização, de democracia, de paz social, de cidadania. Significam 102,7 pessoas mortas/dia; 325,4 hospitalizados/dia. Ou seja, enquanto escrevo este texto, ao seu fim, mais 4,2 cidadãos morrerão e 13,5 se ferirão em consequência desta absurda guerra, já considerada como epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E pensar que as estatísticas de acidentalidade no trânsito do Brasil ainda não refletem a realidade em razão das deficiências do sistema...
Faz-se necessário repensar as políticas públicas adotadas na administração da mobilidade dos brasileiros. A ONU aponta para um programa especial elegendo o próximo decênio (2011-2020) como a década das ações para a segurança no trânsito em todo o mundo, afinal morrem aproximadamente 1,3 milhão de pessoas em acidentes de trânsito em todo o mundo. Com isso, pretende chamar a atenção das sociedades e das autoridades para o grande número de acidentes e mortes no trânsito, e o impacto econômico que esse cenário provoca.
Mas e aqui neste Brasil? O que fazer para reduzirmos essa progressiva morbimortalidade que compromete gerações? Estamos a ocupar a 5ª posição mundial em quantidade de mortes no trânsito, atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos e Rússia em números absolutos.
Não cabe nesse cenário resignar diante da barbárie que experimentamos a cada dia. Nesta oportuna semana é preciso aprofundar sobre os dados alcançáveis, atualizar o entendimento da questão e levar às ruas, aos parlamentos, às universidades, às mídias cidadãs, aos governos e poderes constituídos esses graves números. Mobilizarmos a nossa capacidade de reação em defesa da vida, sobretudo ousar nas políticas públicas de modo a transformá-las em ferramentas capazes de reverter o quadro sombrio.
Paz no trânsito do Brasil somente surgirá no horizonte se houver um comprometimento de todos, pois do contrário nos acostumaremos a contabilizar estatísticas e lamentá-las a cada ano, certamente nas Semanas Nacionais de Trânsito que virão. Afinal, daqui a um ano, se insistirmos no comodismo e na banalização desta peculiar violência, estaremos a refletir (mais uma vez) sobre as razões que produziram mais 38 mil mortos e 119 mil feridos internados em nossos hospitais.


Pedro Wilson.

Comente o texto, participe!

Um comentário:

  1. Boa noite! O trânsito aqui em aracaju é bem complicado. Tem muito carro, bicicletas, motos e muita falta de atenção e educação.
    Carla Fernanda

    ResponderExcluir