domingo, 12 de setembro de 2010
Relacionamento social, poder e vaidade
Uma análise mais aprofundada da formação da alma brasileira indica que, ao invés de “descobertos”, fomos invadidos.
Em sua origem, nossa história foi, e é até hoje, permeada por um processo psicossocial que denota formas de dominação no bojo de suas relações, tendo em vista a opressão e o desprezo do conquistador ibérico frente a um povo desconhecido, visto como inferior e selvagem. De fato, ocorreu a projeção de uma cultura sobre outra, consolidada por uma sombra dominadora em ação. Esta dificuldade marca decisivamente nossa raiz, com conseqüências psicológicas para a constituição do caráter de nosso povo, cuja cultura inicial foi massacrada.
Essas características, em seus novos moldes, permanecem, de conformidade com os atuais imperativos das forças produtivas, eis que as relações mais arcaicas do campo se repetem na concepção moderna de economia com o sistema caminhando para uma concentração da renda, propriedade e poder.
Os representantes dessa elite privilegiada aboletam-se em seus altos cargos e, vaidosos, consideram-se os “eleitos” por Deus, sem qualquer consideração ou, mesmo, algum resquício de preocupação com a situação e o destino de milhões de homens e mulheres, pais e mães de famílias, cujos filhos necessitam de um sério planejamento governamental que lhes proporcione geração de oportunidades nas áreas do emprego, renda, educação e ascensão social.
A “nata” da sociedade sabe que já tem garantida a colocação de seus rebentos em funções estratégicas das instituições nacionais, como é o caso, muito em moda nos dias de hoje, de políticos ainda em gozo de seus mandatos já enfiarem goela abaixo do povo seus filhos e parentes próximos para cargos eletivos, consolidando seu “clã”.
Cada vez mais, os movimentos sociais se organizam e preparam seus líderes para construírem uma nova história: com a valorização da perspectiva de processo, nada está pronto e acabado. A construção coletiva coloca em discussão a questão do poder decisório e dos diferentes níveis de organização e instâncias de competências da vida em sociedade.
Os apanigüados digladiam-se para obtenção de empregos e sinecuras em altos escalões e divulgam aos quatro ventos suas conquistas obtidas com as facilidades propiciadas pelo livre trânsito nos corredores do poder. Ostentação e vaidade. Mostram com extravagância seus pontos positivos e escondem seus pontos negativos com máscaras, buscando criar imagem de trabalhadores, populares e bem-intencionados para, deliberadamente, transmitir às comunidades que podem representá-las à altura de suas inúmeras necessidades.
Mas, felizmente, o povo se encontra num irreversível processo histórico de aprendizado que nos levará a todos, mais cedo do que muitos gostariam, à uma prática consciente e consistente de uma Democracia sem sofismas e à cidadania plena.
Dos textos bíblicos, um valioso alerta: "Examinai todas as ações que se fazem debaixo do sol; na verdade, não passam de vaidade e correr atrás do vento."
Antonio Alencar Filho.
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Postado por
William Junior
às
12:47
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