sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Amor é relacionamento?



Encontrei um amigo que se revelou abatido pela razão maior de "ter terminado um relacionamento". Revelou apresentar pequenas decepções profissionais, um grau de estresse na vida social, um desencanto na vida de gremista. Nada maior, no entanto, que o sentimento de perda com o "término do relacionamento". Ouvi atentamente todas as suas lamúrias e educadamente perguntei-lhe a razão de referir-se ao suposto amor terminado como "relacionamento". Brinquei, psiquiatricamente - relacionamento? Fale mais sobre isso!
Será que amor é, simplesmente, relacionamento?
Estava pensando que ao longo dos tempos a gente viveu sob muitas variáveis. A gente tinha pátria por que lutar, a gente tinha um ideal político (branco ou colorado), a gente tinha um forte cunho religioso católico cristão que perdeu força para o viés evangélico, para a visão espírita (dizem que o Brasil tem a maior comunidade espírita do mundo) e restou a família, tanto como célula-mater da sociedade no que tange à instalação e fortificação da moral e dos bons costumes quanto ao abrigo aquecido de um lar.
Acontece que a família vem sofrendo modificações estruturais ao longo dos anos e hoje apresenta estruturas diversas. É a mãe solteira que também faz o papel do pai, é a união de pessoas do mesmo sexo que adotam crianças, é o pai separado numa nova relação criando filhos não biológicos, é filho que passa a vida tentando descobrir as identidades de seus pais. A família tradicional, a da célula-mater, está em cheque e tendemos (elucubração pessoal) a estabelecer novas matrizes. O casamento, por exemplo, mais parece uma ameaça do que uma nova proposta de vida. Ameaça porque tem edital, tem testemunhas, tem assinaturas e - olha lá o que você vai fazer com a vida da minha filha! O cara estava apenas tentando juntar os trapos e se sente judicialmente sujeito a leis que o obrigam ou o ameaçam. Ele quer somente casar por amor, não quer se sentir ameaçado.
O bom é que a lei da separação mudou, até por uma exigência dos tempos, e estabelece forma mais rápida de separação ou divórcio. Então, o neguinho casa, recebe uma orientação judicial rápida de que o casamento não é só amor e que tem uma série de implicações legais e imediatamente recebe como conforto a legislação sobre as facilidades de encaminhar processos de separação, caso algo venha a falhar (anatomicamente ou socialmente).
Então, se a família tradicional também está em cheque, resta o amor. O amor incondicional, amor hormonal como última flâmula (lembram das flâmulas?).
Mas, isto também está acabando porque para grande parte das pessoas o amor está deixando de sê-lo para ser apenas um "relacionamento". E se isso é assim, apenas relacionamento, as pessoas nem deveriam ficar entristecidas pelo fim dos relacionamentos. Estes não são eternamente duráveis, são frágeis, estão sujeitos ao balançar das ondas, perecem. O amor de verdade é durável, firmemente estruturado e quando findo, porque também pode findar, causa profundo abatimento nas pessoas.
Meu amigo disse - "é isso que eu perdi, era amor". Se meu amigo perdeu um amor é uma pena. É provável que ele tenha transformado ao longo dos tempos o amor em um relacionamento. O amor vira relacionamento quando envelhece, quando não é regado diariamente. Se é somente relacionamento pode ser rompido a qualquer momento com um acordo judicial ou extrajudicial. As leis estão aí também para consertar os desatinos de nossas decisões, apressadas decisões, muitas vezes. Se não sou apto a escolhas corretas e não a manter os sonhos de felicidades que a vida a dois pode proporcionar resta o caminho legal, onde o togado bate o martelo depois de tentar reconciliar. Se é relacionamento amaecido, talvez até haja remédio. Se é amor que foi embora, talvez nem com banda de música. E, então, transitado em julgado, confortavelmente, cheio de papéis do Fórum em nossos bolsos podemos comemorar e comunicar que estamos abertos a novos "relacionamentos" até que a Justiça nos separe.


Jorge Anunciação em ONacional.

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4 comentários:

  1. Olá William!
    Lamentavelmente é isso mesmo que voga hoje em dia!Eu, ainda preservo o amor naquele espaço essencial da vida, onde dou importância para a sua duração e crescimento. Eu acho que quando um casal apenas se relaciona, facilmente cai na rotina, assume a postura dos deveres e obrigações e deixa de curtir o melhor sentimento humano! Por isso não quis casar! Gosto de pensar que estamos juntos porque o amor ainda é amor, ainda é o fator principal que move a nossa união.
    Grande beijo,
    Jackie

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  2. Meu caro amigo William, boa noite!!!
    O amor nunca pode ser confundido como um simples relacionamento, este último temos com qualquer pessoa... o amor é muito mais do que isso, é o gostar em sua plenitude, a união de corpo e alma, onde não existe espaço para a rotina e nem incompreensão... amor é o mais sublime dos sentimentos, capaz de vencer qualquer barreira e transpor qualquer limite.
    Parabéns pelo excelente texto!
    Grande abraço e muita paz!!!!

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  3. Willian, belíssimo escolha para um post... e que verdade ele trata não é?
    Relacionamento acaba no vazio... o amor se redescobre no vazio de um relacionamento.
    Infelizmente hoje temos mais relacionamento que amor.
    Beijo no coração

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  4. BOA TADE AMIGO WILLIAN ; PRIMEIRAMENTE PARABENS PELO MAGNIFICO TEXTO, EU NÃO SEI TE DIZER SE EU SOU HOMEM CERTO VIVENDO EM UMA ÉPOCA ERRADA, OU SE A ÉPOCA É CERTA E O ERRADO SOU EU ;POIS EU VALORIZO MAIS O AMOR DO QUE TUDO SOU CASADO A 34ANOS E SEI QUE DUROU ASSIM POR CAUSA DO AMOR PORTANTO EU ACHO QUE OS JOVENS DE HOJE EM DIA SÓ ESTÃO QUERENDO FICAR,SE RELACIONAR E NÃO AMAR. TENHA UM ÓTIMO DIA E UM ABRAÇO.

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