quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A síndrome da pressa



Se você fala, anda e come muito rápido, não tira o olho do relógio, tem a escrita abreviada, interrompe a fala de terceiros, reclama com frequência que o seu tempo não dá pra nada, não sabe esperar e tem vontade de atropelar quem anda mais lento que você, cuidado, esses traços são típicos dos portadores da síndrome da pressa.
Nos dias atuais ser apressado passou a ser uma característica padronizada da maioria das pessoas, pois vivemos submetidos a prazos e horários. Estamos inseridos em uma cultura que pratica exigências opressoras e como consequência nos encurrala para um ritmo cada vez mais acelerado. O trânsito caótico, a competitividade, o medo e outras configurações do modo de vida das metrópoles funcionam como estimuladores da pressa.
A síndrome da pressa não é reconhecida e nem classificada na psiquiatria, mas pode-se constatar que ela é estudada desde a década de 80. De acordo com um estudo realizado pelo International Stress Management Association do Brasil (Isma-BR), instituição que busca compreender os efeitos do estresse, esse transtorno já atinge 30% dos brasileiros. Para a entidade ele não constitui uma doença, mas uma série de comportamentos que altera significativamente a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Para a psicóloga Lúcia Novaes, professora de Terapia Comportamental do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IP/UFRJ), a síndrome da pressa é a denominação utilizada pela mídia, mas seu nome verdadeiro é Padrão Comportamental tipo A, fruto de uma pesquisa, na década de 50, de dois cardiologistas que analisaram pessoas com determinados comportamentos.
De acordo com a psicóloga Dra. Katie Almondes “a pressa do dia-a-dia é pontual, direcionada para um momento. Já na síndrome, a pressa acompanha o indivíduo nas 24 horas. Ele acredita que é pouco tempo para dar conta de suas demandas, acumula cada vez mais funções e se sente culpado se não faz mais coisas”.
Alguns especialistas alertam para o fato de que a síndrome da pressa apresenta sinais semelhantes ao do estresse em estágio avançado, e pode ser confundida com ele. Enquanto o estresse avançado é uma reação física e psicológica a um evento angustiante novo, a síndrome da pressa é desencadeada por um padrão de comportamento em que o próprio indivíduo traz o estresse para si.
Determinados sinais característicos da síndrome da pressa são visíveis no cotidiano e podem ser facilmente confundidos com o comportamento de urgência natural do enfrentamento da vida. O termômetro que nos faz traçar o diagnóstico correto se baseia na quantificação e na intensidade de algumas dessas manifestações. Tensão, ansiedade, impaciência, sono agitado, fala atropelada, valorização da quantidade em detrimento da qualidade, problemas de memória e irritabilidade fácil são alguns desses sinais. A psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do Isma-BR, acrescenta dizendo que “outro sintoma é a agressividade, pois a pessoa que está sempre com pressa quer que todos sigam o seu ritmo".
A qualidade de vida das pessoas acometidas por esse tipo de comportamento fica comprometida. Normalmente suas buscas são por tarefas quase sempre impossíveis de serem alcançadas e com isso o indivíduo geralmente fica com a autoestima baixa, pois não consegue atingir seus objetivos a contento e acaba tendo uma avaliação negativa de si mesmo. Frustrado e se sentindo ineficiente a sua autoconfiança é afetada e outros sintomas negativos são desencadeados. É frequente nessas pessoas o aparecimento também de angústia acentuada, insônia, mau humor, dores musculares, fadiga e as doenças psicossomáticas.
A professora Lúcia Novaes afirma que a síndrome da pressa é um estresse excessivo e como tal é um facilitador para as doenças. Ela lembra que o estresse gera uma série de alterações psicofisiológicas que afeta todo o sistema, incluindo o imunológico. Assim, a pessoa fica vulnerável às doenças. Algumas desenvolvem transtornos psicológicos, como a síndrome do pânico e a depressão, ou então, problemas cardíacos, conclui.
Podemos constatar que a velocidade se tornou peça chave para a sobrevivência em um mundo tão dinâmico e competitivo como o nosso e se apresenta como comportamento imprescindível em algumas profissões. Os desportistas, por exemplo, são em sua maioria dependentes da pressa para alcançar seus objetivos, assim como os policiais, médicos e outros profissionais afins.
Às vezes somos primariamente contaminados por esse tipo de funcionamento, e em outras situações, quando já possuímos essa predisposição, somos estimulados. Tanto de uma forma quanto da outra o importante é que tenhamos o bom senso de nos auto-avaliar e perceber se estamos sendo vítimas de um estilo de comportamento nocivo à nossa vida.
Aprendi cientificamente que o remédio se transforma em veneno quando excedemos a sua dosagem. Não podemos viver acreditando que o nosso ritmo de vida está à mercê de um acaso que nos protege ou de um tipo de personalidade que não conseguimos mudar. Faz-se necessário assumir um compromisso em defesa de uma melhor qualidade de vida, “dosando” adequadamente a nossa velocidade a um estilo de vida saudável.

Renner Cândido Reis.(psirennerreis@ig.com.br)

Comente o texto , participe!!!

4 comentários:

  1. Sou da seguinte opinião: Eu faço e determino meu tempo, e dificilmente deixo que ele me controle.
    Muito bom seu texto amigo.
    Abraços forte

    ResponderExcluir
  2. É verdade, ter pressa como diz o ditado popular, faz-nos comer o cru. Sem tempo hábil de preparo, de posicionar-nos nas situações da vida, porque muitas vezes, são condições impostas e não temos o controle do tempo, assim, geram-se as doenças, os desquilíbrios, as síndromes. Eu procuro levar a minha vida com intermediários; como diz um amigo meu, o lado artístico é muito bom, a inspiração é fundamental, mas meu trabalho só sai, quando meu editor fica ao telefone. Comigo não é diferente, sempre tem alguém para me pressionar, para reduzir o meu tempo, acelerar-me na execução dos meus projetos. Eu pondero. Assumo as prioridades e, quando vejo que não dá, não mais me estresso. Tenho feito como o cantor: ando devagar porque já tive pressa... Belo Post. Beijos, B.B.

    ResponderExcluir