quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ensaio sobre a razão





Os animais são completos. Não têm falta. São preenchidos. E, por serem preenchidos, eles não têm espaço para se distanciar dos próprios pensamentos. Por isso, não conseguem enxergar os próprios pensamentos. Portanto, os animais sabem. Apenas não sabem que sabem. Quem sabe é inteligente. Mas só quem sabe que sabe tem razão.

Eu raciocino porque consigo movimentar meu pensamento. Movimentá-lo pra frente, pra trás, prum lado, pro outro, pra cima, pra baixo. Raciocino porque consigo me distanciar do que vejo sem sair do lugar. Movimento meu pensamento porque tenho espaço para isso. E só tenho esse espaço porque sou incompleto.
Minha razão se movimenta em virtude da minha incompletude. Minha razão é inerente ao que me falta. Mais que isso, minha razão equivale ao que me falta. Raciocino porque sou imperfeito. Meu raciocínio se desloca de um lugar para o outro. Ou seja, não ocupa dois lugares, logo, nunca vai me preencher. Ao contrário, meu raciocínio só tende a ampliar a minha falta.

A razão me encanta. Mas é da natureza da razão desencantar. A razão tenta decifrar nossos sentimentos, rotulando-os com palavras. A razão degusta nossos sentimentos com perversidade e assassina-os a sangue frio. A razão é fria. Mantém-se a 0 grau. A razão também é, muitas vezes, confundida com verdade. O que é um grande equívoco. Razoabilidade não é veracidade. A razão é apenas uma flexão da verdade.
Fato é que a razão é risível frente à força da natureza. Frente à força do acaso. Nenhum pensamento genial tornará um homem imortal na prática. O fato é que as civilizações são baseadas nas leis que são baseadas na razão. A natureza, porém, não precisa de razão para impor-se sobre todas as civilizações. Fato é que nunca poderemos dar uma resposta para nossa existência através da razão. Porque a existência não faz pergunta. A natureza não precisa falar para dizer quem manda.
O que mais posso dizer sobre a razão é que, uma vez raciocinando, é difícil aceitar a concepção de paraíso. Afinal, como seria o tão falado paraíso? Perfeito? Num lugar perfeito todos são perfeitos. Mas a imperfeição é a condição fundamental do meu raciocínio. Portanto, fatalmente, serei expulso de qualquer paraíso que me permita raciocinar. Não há razão no mundo perfeito.


Filipe Ret. eufilipefaria@hotmail.com

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Um comentário:

  1. William

    ¨ Não há razão no mundo perfeito ¨

    Mas parece existir uma razão para considerarmos o mundo perfeito

    Razão, é uma forma emergente de uma relação entre duas quantidades, ou entre dois números, em que o livro de razão, revela o deve e haver, apresentando um resultado.
    A resultante é a verdade, ou melhor a realidade de algo, que pela razão foi revelado.
    Mas como resultante de duas quantidades, só podemos entender a razão como dedução da diversidade, que é sempre subjetiva, e o que nos é revelado de fato, é um rácio, um número, que serve de referência, que varia de acordo com as forças em presença, e suas quantidades, que não qualidades.
    Não há razão no mundo perfeito, porque ele em si mesmo é a razão existencial.
    A razão de que o homem fala é extraída de vários pensamentos, que são sempre formas artificiais, de entender as coisas e o mundo.
    O mundo não é perfeito, nem imperfeito, nem no meu entender, está dividido entre o bem e o mal, entre o paraíso e o inferno, ele é tudo isso, e por isso ele é perfeito.

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