quinta-feira, 5 de março de 2015

O surpreendente lado ruim de ser bonito


É praticamente impossível para a maioria das pessoas imaginarem que ser bonito demais pode ser algo negativo, a ponto de prejudicar vários aspectos da vida de alguém

É praticamente impossível para a maioria das pessoas imaginarem que ser bonito demais pode ser algo negativo, a ponto de prejudicar vários aspectos da vida de alguém. Mas para uma dupla de psicólogas da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, nos Estados Unidos, que analisaram centenas de estudos sobre o assunto realizados nas últimas décadas, a beleza traz suas maldições.
Diante das evidências coletadas, Lisa Slattery Walker e Tonya Frevert perceberam que, de maneira superficial, a beleza é algo que carrega uma espécie de aura. “Quando vemos alguém com um atributo positivo, nosso subconsciente, por associação, acredita que aquela pessoa também tem outras qualidades”, explica Walker. “Isso é uma característica que identificamos nas primeiras interações de um bebê com o mundo”.

Para a Psicologia, essa associação intuitiva explicaria o fenômeno coletivo da premissa de que “tudo o que é bonito é bom”. Walker e Frevert descobriram uma grande quantidade de estudos que mostraram que alunos mais bonitos em escolas e universidades tendem a ser julgados por professores como os mais competentes e inteligentes – e isso se reflete em suas notas.
Além disso, a influência dessa premissa tende a aumentar com o passar dos anos. “Ocorre um efeito cumulativo: ao ser bem tratado, você se torna mais autoconfiante e tem pensamentos mais positivos e mais oportunidades para demonstrar sua competência”, afirma Frevert.

  “Efeito penetrante
No ambiente de trabalho, seu rosto pode realmente selar o seu destino. Considerando-se todas as variáveis, foi descoberto que as pessoas mais atraentes tendem a ganhar melhor e a subir mais rápido na carreira do que aqueles considerados fisicamente pouco interessantes.
Um estudo feito com alunos de um curso de MBA dos Estados Unidos mostrou que a diferença entre os salários dos mais bonitos e dos menos atraentes do grupo variava de 10% a 15% – o que significa um acúmulo (ou perda) de até US$ 230 mil ao longo da vida laboral. “As vantagens de uma pessoa bonita começam na escola e a acompanham durante toda a carreira”, conclui Walker.

Até nos tribunais, a beleza parece exercer seu fascínio. Réus mais bonitos têm mais chances de obter penas mais leves ou até serem absolvidos. Da mesma forma, se aquele indivíduo que entrou com o processo for mais atraente, é para ele que a balança da Justiça tende a pender, fazendo com que ganhe seu caso e consiga indenizações maiores. “É um efeito penetrante”, define Walker.
 Prejudicial à saúde
Apesar de a beleza ser algo favorável na maioria das circunstâncias, há situações em que ela ainda atrapalha. Enquanto homens bonitos podem ser considerados bons líderes, certos preconceitos de gênero costumam atrapalhar as mulheres atraentes, diminuindo suas chances de serem contratadas para cargos mais elevados, que requerem autoridade.

E, como é de se esperar, os bonitões também são vítimas de inveja. Um estudo revelou que se você é entrevistado para um emprego por alguém do mesmo sexo, corre mais risco de não ser considerado para a vaga se o recrutador achar que você é mais bonito do que ele.
Mais preocupante ainda é o fato de a beleza poder prejudicar a saúde: as doenças são encaradas com menos seriedade quando afetam os bonitões. Ao tratarem de pacientes com dores, por exemplo, os médicos tendem a descuidar das pessoas mais bonitas.

A “bolha” criada em volta da beleza também pode criar um certo isolamento. Uma pesquisa americana mostrou que as pessoas tendem a se afastar quando cruzam com uma mulher bonita na rua – talvez em um gesto de respeito, mas tornando a interação mais distante. “O fato de uma pessoa ser atraente pode transmitir uma noção de que ela tem mais poder sobre o espaço à sua volta, mas isso pode fazer com que os outros sintam que não podem se aproximar dela”, afirma Frevert.

Um exemplo interessante disso foi a recente informação, divulgada pelo site de encontros britânico OKCupid, de que pessoas que aparecem lindas em seus perfis conseguem menos pretendentes do que aquelas cujas fotos apresentam algumas imperfeições, e, portanto, são menos intimidadoras.
  Atalho “pouco confiável”
Por isso, como se pode imaginar, ser bonito ajuda, mas não é um passaporte carimbado para a felicidade. Frevert e Walker, no entanto, enfatizam que as influências da beleza são superficiais e não estão arraigadas em nossa biologia, como alguns cientistas já sugeriram.
“Temos um conjunto completo de padrões culturais sobre a beleza que nos permite dizer se alguém é ou não atraente – e por meio dos mesmos padrões, começamos a associá-la com competência”, diz Walker. De certo modo, trata-se de um atalho cognitivo para uma rápida avaliação. “Assim como muitos dos outros atalhos que usamos, esse também não é muito confiável”, rebate Frevert.
E é relativamente fácil diminuir o impacto da beleza – por exemplo, se um departamento de recursos humanos recolher mais detalhes sobre a experiência do candidato antes de fazer uma entrevista, sem se deixar influenciar tanto por sua aparência.

Infelizmente, Frevert ressalta que concentrar-se demais na aparência também pode ser prejudicial se isso criar estresse e ansiedade – mesmo entre aqueles que já são abençoados com esse atributo. “Se você ficar obcecado com a beleza, isso pode alterar suas experiências e relações”, afirma ela.
Da BBC Future


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