Música e musicoterapia
"Música é um fenômeno acústico para o prosaico; um problema de melodia, harmonia e ritmo para o teórico; e o desdobrar das asas da alma, o despertar e a realização de todos os sonhos e anseios de quem verdadeiramente a ama..."
Kurt Pahlen
A vida é som. O homem nasceu num mundo repleto de sons. O trovão, amedrontando-o, tornou-se símbolo dos poderes celestiais. No ulular dos ventos, percebia ele a voz dos demônios. Os habitantes do litoral conheciam o bom ou o mau humor dos deuses pelo bramir das águas. Os ecos eram oráculos e as vozes dos animais, revelações. Grande foi sempre a influência da Música sobre a mente humana.
O homem primitivo dispunha apenas de poucas palavras. Quase somente o que ele via recebia um nome. Para exprimir os sentimentos, servia-se de sons e criava música que o ajudava a exprimir júbilo, tristeza, amor, instintos belicosos, crença nos poderes supremos e vontade de dançar. Para ele, a melodia e o ritmo faziam parte da vida, desde a canção de berço até a canção de morte, incluindo a dança ritual e a cura dos doentes.
Hoje, sabe-se muito bem que a Música age tanto sobre o indivíduo, quanto sobre a multidão; sua ação é percebida não somente na história das revoluções, como também nas psicoses de guerra. Por isso, a Música está presente à frente das tropas dos exércitos antigos, que marchavam para a luta sob determinado som: gaitas de fole, trompetes, tambores,... pois, nas mãos dos homens, a Música é um feitiço; o seu efeito se estende desde o despertar dos mais nobres sentimentos até o desencadeamento dos mais baixos instintos, desde a concentração devotada até a perda da consciência que parece embriaguez, desde a veneração religiosa até a mais brutal sensualidade. Por esta razão, assim se expressou Napoleão Bonaparte: Um povo pode ter um grande exército, mas se não tiver uma boa banda marcial nunca ganhará uma guerra.
Em aldeias indígenas, os pajés e curandeiros utilizam a Música como via de acesso para uma comunicação com os deuses e espíritos, buscando a cura de doenças e respostas para seus problemas.
Por volta de 1.500 anos a.C., já se pode perceber o efeito da Música no corpo humano, a partir de referências existentes em papiros médicos egípcios. Estes se referem à sua influência favorável sobre a fertilidade da mulher.
Relata-se também o efeito curativo da harpa de David frente ao Rei Saul como a primeira manifestação da Musicoterapia.
O homem primitivo acreditava que para cada ser humano existia um som interno próprio ao qual ele respondia, e era esse o som usado pelos médicos bruxos, para curar o homem enfermo ou exorcizar o espírito que habitava nele.
Os gregos também empregavam a Música com a finalidade de prevenir e curar as enfermidades físicas e mentais. "Aristóteles falava do verdadeiro valor médico da Música ante as emoções incontroláveis. Platão receitava música e dança para os terrores e as angústias fóbicas".
Podemos citar ainda que, no século XVII, muitos se esforçavam para provar que a Música atenua as espessas matérias da atrabilis, atuando diretamente no humor, e, no século XVIII, Lorry atribui à Música um efeito tríplice: excitante, calmante e harmonizante.
Todavia, antes de mais nada, é necessário que se distinga Musicoterapia de Educação Musical.
A Musicoterapia tem um fim, uma proposta terapêutica e não pedagógica. Seu objetivo é ajudar, atender ou tratar um indivíduo. Ela é um "processo de tratamento".
Já a educação musical visa desenvolver e aperfeiçoar os elementos musicais, a capacidade de leitura e escritas musicais. Sua finalidade é pedagógica e almeja uma melhor expressão estética.
O grande educador, criador da rítmica, Jacques Emile Dalcroze, falecido em Genebra em 1950, foi um dos marcos do sugestionamento ao surgimento da Musicoterapia, quando disse que "a música deve desempenhar um papel importante na educação em geral, pois ela responde aos desejos mais diversos do homem; o estudo da música é o estudo de si mesmo".
Segundo o teórico Benezon, "Dalcroze abriu as portas à terapia musical, permitindo o descobrimento e o contato direto com os ritmos do ser humano, único ponto de partida para a comunicação com o enfermo".
Desde a Primeira Guerra Mundial, os hospitais dos Estados Unidos da América contratavam profissionais músicos como ajuda, após terem comprovado o efeito relaxante e sedativo nos doentes de guerra produzido pela audição musical. Deste modo, foi preparado o caminho para a Musicoterapia, ao se criar a necessidade de um treinamento especial para transformar o músico em terapeuta.
O primeiro plano de estudos foi elaborado em 1944, em Michigan (EUA). Em 1950, foi fundada a Associação Nacional para Terapia Musical. Em 1968, aconteceu na Argentina, a Primeira Jornada Latino-Americana de Musicoterapia.
Os profissionais que dela participaram passaram a prestar serviços em centros diversos de enfermidades mentais, hospitais, institutos, escolas diferenciais e universidades.
Esta profissão, tão jovem e ainda com um longo caminho a percorrer, encontra embasamento teórico em diversas áreas do conhecimento científico, o que a caracteriza como transdisciplinar por natureza.
Porquanto, tendo a música como seu eixo principal, a prática da Musicoterapia fundamenta-se também na Psicologia, Biologia, Neurologia, Filosofia, dentre outras disciplinas. É uma combinação dinâmica em torno de duas áreas: Música e Terapia.
"...A música não tem sido dada ao homem com o objetivo de afagar seus sentidos, mas
sim para acalmar os transtornos de sua alma e os movimentos que experimenta um corpo cheio de imperfeições..."
Colaboração: Anna Rita Ludovico F. da Silva
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