terça-feira, 27 de outubro de 2009

O desafio de viver


Desafio, isso é o que me motivou a escrever este post. Porque a vida é um constante desafio. O maior deles é vencer a nós mesmos, vencer a nossa condição humana. Somos os poderosos e os mais frágeis de toda a natureza. Os mais sábios e no mesmo instante em que reinventamos constantemente a vida, somos capazes de destruí-la com o mesmo vigor.

Podemos tratar a questão da destruição sob várias ópticas e várias ciências. A social, a psicológica, a psicossocial, a ecológica... por que não dizer que todas as ciências têm como objetivo final compreender a própria vida, o que a sustenta e como torná-la melhor, mais digna e mais longa?

Nosso objetivo, nesse texto, é refletir sobre o que tratamos em nossas leituras como um todo a resgatar, talvez, a nossa maior incompreensão humana: a destruição do outro e de si mesmo - Homicídio e suicídio.

Se levarmos em consideração alguns ensinamentos da psicanálise, da psicologia, veremos que oscilamos entre "dois mundos" dentro de nós mesmos. De um lado e do outro as nossas pulsões, instintos, desejos e a nossa consciência, ou inconsciência, moral, ética, estética. Nelas é que se traduzem em emoções dois instintos: os da vida e os da morte, a agressividade e a sexualidade. Tais pulsões não podem ser consideradas más ou boas, são instintos de sobrevivência, que garantem, se bem vividos, nosso equilíbrio e nossa existência.

Quando uma emoção (pulsão, instinto) se manifesta, nossos princípios, adquiridos socialmente, estão dispostos a reprimir ou não. Acontece que, muitas vezes, não nos conhecemos o suficiente para saber o que estamos reprimindo. Isto nos deixa como que insatisfeitos, porque um lado de "mim mesmo" desejou e "outro" anulou sem escolher sua decisão. Esta frustração causou desequilíbrio e começa a viver como quem não se reconhece.

A agressividade positiva que me leva a conquistas como, por exemplo, a lutar pelo que quero, gosto desejo (meu estudo, meu trabalho, minha realização) que me faz também me proteger do que faz mal ou impede minha realização (quando frustrada e não compreendida, porque não reconheço minha emoção e não me reconheço nela) acaba por ser mal usada, mal colocada contra "mim mesmo" ou contra o "outro". Torno-me destrutivo. Posso ser levado, literalmente ou implicitamente, ao ato de matar-me ou matar alguém, destruir-me ou destruir. Tais atos, atitudes, aparecem no "atacado" como suicídio e/ou homicídio (acidentes graves de trânsito, por exemplo), ou no "varejo", como o "uso" ou prática de ações destrutivas, como o uso de drogas, a irresponsabilidade no trânsito ou, diria também, com a incapacidade de construir-se e construir. Quantas pessoas vivem ao nosso redor somente destruindo e autodestruindo-se? Não conhecem a si mesmos. Frustram-se e não controlam seus próprios instintos.

Um dos autores que estudou o homicídio e o suicídio foi Menninger (1870). Entre outras "falas" nos espanta quando indica quantas vezes, por patologias das mais diversas, tenta-se destruir-se. Idealizamos, assim, nossa própria morte. Algumas patologias levam a várias tentativas. Parece haver nestas pessoas um continuum, um desejo maior que os levará a completar o ato quando isso não for tratado, não auxiliado. Porém, devemos lembrar que a doença (patologia) e o tratamento nem sempre vencem o "desejo" interior de matar-se ou matar. Menninger nos diz, por exemplo, que é possível que o suicídio esteja ligado a um desejo maior de voltar ao útero.

Não quero aqui fazer uma abordagem científica, mas sim dividir nosso conhecimento e nossa preocupação com esse ato humano, talvez o de maior incompreensão para todos nós.

Ao retomar o pensamento freudiano, podemos dizer que ninguém se mata sem que esteja ao mesmo tempo matando um objeto com o que se identificou, e também voltando contra si mesmo um desejo de morte antes dirigido contra alguém. Suicídio é, antes de tudo, um homicídio de si próprio. Todo suicida, a nosso ver, é um homicida em potencial e vice-versa, dependendo da forma de buscar ou praticar o ato em si. Ser morto, então, pode ser compreendido como uma forma de submissão, e matar, um ato de extrema agressão.

Todo sujeito que se relaciona com a morte é um representante da falta. Seja qual for sua história, haverá sempre uma perda irreparável, uma desestruturação de sua própria mente. Quando não podemos nos ver como um ser, mas apenas como um objeto, de dor, incompreendido, espectador de algo ou alguém que não reconhecemos ou compreendemos, nada mais resta do que sua destruição.
Não é nossa intenção esgotar esse assunto, que continua incompreendido e inaceitável. Queremos, sim, lembrar que homicídio e suicídio acabam nas folhas de jornais, nas cadeias e objetos da "ciência" que lhes julgará, o Direito. Será que o Direito, as leis, poderão tratar de um assunto isoladamente das outras ciências?

Sinto, por exemplo, uma enorme indignação diante de fatos como de pais que matam seus próprios filhos, que se matam diante de quem os ama. Sento indignação com os suicídios coletivos. Sento repulsa com tantos acidentes de trânsito e com o excessivo uso de drogas, levando à destruição de tantos jovens...

Será que o Direito poderá dar conta das implicações que geraram estas questões? Também no Direito, a vida é o bem maior, e cabe ao Estado a sua proteção. Mas como dar conta de uma prática tão complexa?

Talvez, uma saída, seria implantar nas escolas, Detrans, delegacias, pronto-socorros, presídios equipes multidisciplinares formadas por médicos, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, a fim de estudar os conflitos gerados e solucionar problemas, bem como para o estudo de acidentes graves de causas desconhecidas. Evitaríamos a reincidência de atos, transgressões, infrações, delitos... muitas vezes cometidos por pessoas portadoras de transtornos mentais e drogaditos, inclusive em diagnóstico e sem tratamento. Para ratificar, já estivemos em presídios como o Carandiru, em São Paulo, e alguns no Rio Grande do Sul. Após visitar estes locais, todos constatam que os presídios são como "sanatórios"; a diferença está na violência e no uso de drogas que ali estão presentes, igual ou pior do que encontramos fora dos muros destas prisões. Por isso, da importância de se fazer anamnese exames na admissão e na saída dos detentos, pois eles ficam no presídio planejando tudo o que vão fazer quando sair, pois segundo a pesquisa, 85% aproximadamente voltam aos presídios por crimes. Será que o presídio é melhor do que a família ou sociedade.

A extensão deste tema nos convoca a propor que todo ato suicida e homicida seja estudado multidisciplinarmente. É necessário que as ciências se "encontrem" para melhor compreensão dos distúrbios humanos. É necessário também que as escolas e as famílias estejam mais atentas às crianças e aos jovens e que lhes sejam oferecidos profissionais capazes de reconstruir suas vidas quando a significação, que está comprometida.
Enfim, ciências e fé, devem ser devolvidas ao ser humano, para isso é que foram criadas.
A humanidade tem a tarefa de resignificar-se e somente poderá fazê-lo se objetivar trazer de volta o verdadeiro sentido de viver, Ser.

Certamente, este é o grande desafio da Vida. Na prevenção da violência e a criminalidade com educação, saúde, segurança e justiça.


Este artigo foi baseado em Marisa Potiens Zilio, uma das autoras do livro Ser humano - O desafio!

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8 comentários:

  1. Gostei muito. parabéns.

    abçs

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  2. Por mais que tentemos não conseguimos nem ao menos conhecer a nós mesmos, então viver realmente é um desafio, as vezes nem entendo porque ainda estamos vivos se temos tantas formas de se matar.

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  3. Oi Willian,
    Parabéns pelo blog, pois é excelente.
    Esse post é muito bom.
    Sem dúvida vivemos constantemente, inconscientemente, uma luta interior.
    Nosso lado bandido tenta nos seduzir a corromper as normas e regras ditadas pela sociedade. Ao mesmo tempo, nosso lado policial vigia e nos faz lembrar a todo instante da moral e as consequências de infringir.
    É meu amigo, essa briga de ego, id e superego é eterna.
    Mas somos seres movidos às paixões, emoções e sentimentos.Importante, ou fundamental, é conhecer-se o melhor que possa, afim de tornar-se detentor dos próprios passos.
    Um forte abraço

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  4. Por isso eu digo: Que o bem e o mal são um e ambos habitam dentro de nós. Cabe a cada um de nós se conhecer e buscar o equilirio. O bem não é bem se quer se afastar do mal. Até mesmoo homicida,o drogado e o ladrão tem direito a uma reintegração na sociedade assim como o mendigo tem direito a um pedaço de pão. Parabéns pelo seu artigo. Assim diz a máxima dos filósofos: "conhece-te a ti mesmo e conhecerás o mundo e os deuses"

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  5. Olá!

    Viver, é um desafio muito grande, principalmente levando em conta tantos obstáculos e dificuldades que encontramos no nosso cotidiano. Um bom vencedor passa por todos os obstáculos sem prejudicar ninguém, vencee na vida dessa forma deve ser o objetivo de todos.

    Abraços

    Francisco Castro

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  6. Já foi dito nos comentários acima e no próprio texto que viver é um desafio e eu concordo. É preciso sabedoria pra obter resultados favoráveis. Porque, muitas vezes, nós complicamos tanto!

    Bjs

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  7. William,

    Divagando agora um pouco... um dia li sobre o que os astrólogos chamam de o verdadeiro ciclo astrológico da vida positiva e da vida negativa (pois pra mim não há morte). Na matemática, o nada é o zero, entre o negativo e o positivo. Acho q a vida e a morte são esse lados opostos, vistos de um determinado referencial.

    Portanto, acho q agressividade e resignação, atividade e passividade, vida e morte, avanço e retrocesso são ciclos naturais da evolução, e todos estamos suscetíveis a eles, cedo ou tarde, nesse mundo. Não há como escapar, por mais técnicas e filosofias mirabolantes q inventemos para escapar à lei do Furacão e da calmaria, eles virão, pois a Natureza Maior (da qual a humana é simples variante) é uma Lei.

    O ciclo astrológico do qual falei é o ciclo de Saturno, o ciclo da vida e morte, do destino e da fatalidade fundamental. Graficamente, é uma figura senoidal, como os desenhos das ondas de rádio, descrevendo altos e baixos, excessos e carências...pesquise o começo do cap. 12 do livro bíblico do Eclesiastes. Lá terás uma breve alegoria.

    Espero que isso contribua no seu desafio de sabedoria.

    Abraços do amigo,

    Ebrael Shaddai.

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  8. Muito bom post, me fez até elaborar um texto em meu blogger, na qual coloquei o título de: A Dualidade da vida.

    Dá uma lida.

    Fica com Deus.

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