O Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA divulgou o resultado de pesquisa que enseja
conclusões preocupantes, uma vez que revelariam a face bruta do estado cultural
e emocional de parte da sociedade.
Segundo a pesquisa,
quase dois terços dos entrevistados consideram merecedoras de violência sexual
as mulheres usuárias de “roupas que mostram o corpo”. Número pouco menor de
entrevistados atribui o estupro a certos comportamentos das mulheres.
Pode-se discutir a
metodologia da pesquisa e até mesmo atacar o seu potencial indutivo, já que aos
entrevistados eram apresentadas proposições com as quais deviam concordar, ou
não. Contudo, feitas as correções, resta a percepção de que expressiva parte de
nossa sociedade se guia por conceitos nefandos sobre a natureza da sexualidade
e da liberdade femininas.
Basta vermos as
manifestações de concordância que infestaram as redes sociais horas após a
instalação do debate na internet, bem como a tentativa de desqualificação da pesquisa.
Não sei se o IPEA
informou aos entrevistados sobre a natureza criminosa dos atos para os quais
olhavam com complacência quando dirigidos às mulheres cuja conduta e vestuário
censuravam. Sabe-se da obviedade do caráter criminoso da violência sexual em
suas variadas formas, mas seria igualmente didático advertir os entrevistados
de que sua concordância com a violência implicaria na aceitação de um
crime.
Tivesse havido esta
advertência ficaríamos mais seguros para desenvolver o argumento de que admitimos
descumprir a lei quando ela e seus pressupostos morais nos parecem
superáveis.
Deve-se perguntar:
a partir do resultado, poderíamos afirmar que, embora saibam da ilegalidade
criminosa do estupro, 65% dos entrevistados admitem-na como forma de punir a
mulher que abusa de sua liberdade e da liberdade de nossos costumes? – Isto não
me parece claro. Talvez as respostas revelem o reconhecimento da possibilidade,
mas não, necessariamente, a admissibilidade. De todo modo, embora se vislumbre
um laivo de manipulação metodológica, a pesquisa suscita o bom debate.
Por essa
interpretação da pesquisa seria possível afirmar que qualquer de nós, se não
submetidos aos limites éticos do processo civilizatório (que se dá por ritos
educacionais), admitiria a hipótese da violência como forma de punir a mulher
pelo simples fato de ela exercer sua autonomia e usar o seu corpo como lhe
parecer conveniente.
Estaria em nossa
natureza, então, o germe da barbárie e da aniquilação do outro, a quem se nega
qualquer liberdade – inclusive sobre o próprio corpo - se esta não se alinhar
aos nossos desígnios.
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O estupro é um ato de violência. As pessoas formadoras de opinião que expressam a opinião de ser culpa da mulher o fato de ser estuprada está contribuindo para que mais e mais mulheres sofram este tipo de violência.
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