Neste mundo globalizado, neste tempo em que o fato ocorrido no mais
remoto rincão da Terra chega instantaneamente ao conhecimento geral, neste
nosso tempo, a influência de um povo sobre outro povo, de uma cultura sobre
outra cultura é fenômeno que não pode ser evitado. O intercâmbio de
experiências é mesmo salutar para o progresso de todos. Não obstante essa
realidade, cada país tem o direito de escolher seu caminho.
O país que tem a liderança econômica, política e militar, hodiernamente,
tende a praticar um tipo de imperialismo diferente do que foi adotado em outras
fases da História. Prefere colonizar culturalmente. Decreta a verdade, as
escolhas políticas, econômicas, jurídicas, o modo de pensar, vestir, o lazer, a
música nos países que estão sob sua égide.
Creio que a mais eficiente forma de nos defendermos da invasão
estrangeira consiste na valorização da Cultura Brasileira. Emprego aqui o termo
cultura no sentido sociológico (cultura espiritual), e não na acepção
antropológica (cultura material).
Temos sim no Brasil uma Cultura que nos singulariza como povo. Foi à
identificação e ao registro dessa cultura que Câmara Cascudo dedicou sua vida.
Esse Cascudo que, segundo Carlos Drummond de Andrade, “fez coisas dignas de louvor, em sua contínua investigação de um sentido,
uma expressão nacional que nos caracterize e nos fundamente na espécie humana.”
A Cultura Brasileira é a síntese da alma nacional, síntese a que se
chega pela soma e fusão de nossas culturas regionais e locais.
Todos os Estados da Federação podem comparecer com seu quinhão de oferta
na edificação dessa cultura. Universidades que se espalham pelo território
nacional podem todas trazer sua contribuição para a reflexão coletiva. Jornais
publicados em todo o nosso espaço geográfico devem ser lidos, rompendo as
fronteiras estaduais (hoje inclusive com o auxílio da internet).
Livros que vêm à luz ali e aqui, alguns sob a chancela de pequenas
editoras, merecem circular amplamente. A jurisprudência dos tribunais e as
decisões de primeiro grau, venham de onde vierem, fazem jus a cuidadosa
análise. Na televisão é preciso que haja uma maior regionalização dos
programas. Mesmo os fatos nacionais devem ser interpretados e discutidos à luz
das realidades locais, por jornalistas locais, por pessoas da comunidade.
Essa consciência de que os frutos do espírito brotam de norte a sul do
país enriquecerá o cabedal de nossa riqueza cultural e contribuirá para o
fortalecimento da nacionalidade.
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