segunda-feira, 7 de março de 2011

Um povo à procura de um país ou um país à procura de um povo?



Ao assistir aos programas dominicais “Pequenas Empresas e Grandes Negócios e Globo Rural” fica-se com a sensação de orgulho por sermos um povo altaneiro e empreendedor. Mostra a televisão, homens probos de condutas dignificantes, pessoas simples, de idéias mágicas e não raro guardamos imagens de tais programas para o resto do domingo. O Brasil antes de ter sido designado assim era chamado Pindorama (em guarani = terra das palmeiras). Terra das palmeiras de um país encantador, pindorama a mãe dessa gigante chamada Brasil. Uma terra extraordinária que, segundo Pero Vaz de Caminha, “onde se plantando, tudo dá”. Terra gigantesca, de belezas naturais apaixonantes, terra rica, paraíso, concorrente ao que seria o ponto de encontro de todas as nações, de todas as tendências, de todos os costumes.

País de recursos privilegiados, esculpido a dedos mágicos e com tudo para dar certo. O que poderia dar errado num país tropical, terra de prodígios extraordinários? Era só seguir o curso de um rio que, sem atropelos, desaguaria no mar da prosperidade e da bonança. A essa terra inebriante o destino sorria se não houvesse um fator, o fator humano a desviar as rotas caudalosas em direção ao nirvana.

Primeiro os portugueses, donos dos mares, uma espécie de Estados Unidos da América à época da conquista espacial, remeteram degradados e marginais para a colonização do novo mundo. Depois, irmanados, expulsamos os franceses e holandeses de nossas costas. Ainda, massacramos os nativos e os que sobraram foram domesticados e evangelizados para depois, traídos, oferecemo-los à colônia espanhola. Depois, no século XIX, expulsamos os judeus instalados em Recife e estes foram para o norte, onde fundaram e desenvolveram Manhattan.


L.F. Veríssimo, brilhante, escreve que Tiririca e Sarney, imagens do Congresso, são as nossas caras representadas. São dos nossos votos que eles emergiram e perpetuaram. Foram escolhidos por nós. Nas eleições a gente erra e acerta, a gente perde e ganha. Uns perdem, outros ganham. A exceção foi a eleição de Collor onde todos perdemos. Nunca fui pesquisado por nenhum tipo de instituto, tipo Ibope ou Datafolha. Acho que não sou do povo, afinal, erro muito de meus votos e minha pessoa não é acessada a questionários. E, ainda,muitas vezes, não acompanho os votos da maioria.


O livro A Cabeça do Brasileiro (Carlos Alberto Almeida – Editora Record) ouvindo 2363 pessoas em 2002, relata resultados de pesquisa que demonstra que a gente é tolerante em relação à corrupção, ao jeitinho, é hierárquico, é patrimonialista, não confia nos amigos, não tem espírito público, é a favor da censura e é a favor de mais intervenção do Estado na economia. Mas, é claro que você e eu, caro amigo, não fazemos parte dessa pesquisa. Afinal, somente os outros foram pesquisados.
No Brasil moram dois tipos de pessoas: os indecentes e pessoas que nem nós, eu e você, leitor, pessoas do Globo rural e Pequenas Empresas. Os indecentes são mostrados de domingo a domingo em todos os telejornais e revistas.


São imagens repetitivas de pessoas maculadas e que deveriam nos agredir, agredir as pessoas de bem. Mas, a gente sempre vota nos mesmos caras e eles solertemente vão dirigindo nossas vidas e destinos e os destinos de nossos filhos. Pensei neste berço esplêndido à luz de um sol profundo, terra florão da América seria habitada somente por gente de igual quilate, gente esplêndida.


Nós, pessoas decentes, procuramos um novo país, um país que possibilite o desenvolvimento de todas as potencialidades, que possibilite a emersão dos talentos inatos. No entanto, pelo que se apresenta, se Pindorama pudesse, talvez, saísse por aí procurando um povo para habitá-lo, um povo à altura de sua beleza e de sua graça.

por Jorge Anunciação.

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