segunda-feira, 14 de março de 2011
Demitida, transexual alega discriminação em faculdade
De calça jeans e camisa de malha, o auxiliar administrativo Heverton Sousa, 19, era um funcionário como outro qualquer. Desde 2007, trabalhava na tesouraria da Universidade Fumec, uma das principais faculdades de Belo Horizonte. Começou atuando como menor aprendiz e foi contratado quando atingiu a maioridade. Em novembro do ano passado, três meses depois de ganhar uma promoção, Heverton diz ter atendido seus impulsos femininos e passou a trabalhar vestido de mulher.
Assumiu o nome de Giselle Vuitton e, pouco depois, acabou demitido. Agora transexual - assim se apresenta, apesar de não ser operada -, Giselle Vuitton diz que sua demissão, em fevereiro passado, foi motivada por preconceito. "Vou provar, tenho testemunhas", diz ela ao anunciar que irá acionar a universidade na Justiça.
A jovem transexual cursa o terceiro período de administração de empresas na Fumec e acredita que tenha perdido a bolsa estudantil concedida pela instituição também por discriminação.
"Cancelaram a bolsa de 20% que eu recebia, mas isso é errado, pois a renovação acontece semestralmente", disse. A faculdade confirma o cancelamento da bolsa e alega que o benefício termina assim que o funcionário se desliga da empresa.
Sem emprego, Giselle diz que ainda não sabe como irá pagar a mensalidade de R$ 850. "Espero arrumar um emprego, mas geralmente as empresas não aceitam os trans".
A Fumec nega que a demissão tenha ocorrido por preconceito. O gerente de relações institucionais, Lucas Couto, informou que a instituição não reconhece a nova identidade de Heverton Sousa. "Não conheço Giselle, conheço o Heverton", disse.
Em nota, a faculdade informou que o motivo da demissão foi insuficiência no desempenho profissional da "pessoa com nome fantasia Giselle". Uma advertência emitida em julho de 2009, alega a universidade, já apontava para a necessidade de "maior concentração e foco nas atividades" do funcionário. A instituição explicou que a promoção dada a Giselle um ano depois da advertência foi uma forma de incentivo profissional e um reconhecimento pela evolução no trabalho.
Giselle conta que durante o tempo em que trabalhou na universidade se comportou com discrição e os colegas só souberam de sua orientação sexual quando ela passou a usar batom.
"Depois que comecei a ir de batom percebi que os coordenadores do setor se afastavam de mim. Eu queria me sentir mais atraente", justifica o transexual.
CONSTRANGIMENTO
"Temos que usar o banheiro masculino"
A transexual Giselle Vuitton relata que tem sido alvo de constrangimentos no cotidiano da faculdade. Um deles, segundo ela, é não poder usar o banheiro feminino. "Tenho que ir ao toalete masculino. Isso é, no mínimo, incômodo".
Para ela, a Fumec não está preparada para lidar com travestis ou transexuais. "A faculdade não orienta (os funcionários). Lá tem outras trans que também reclamam", diz Giselle.
No momento da chamada em sala de aula, alguns professores continuam chamando as transexuais pelo nome masculino.
O Diretório Central de Estudantes (DCE) confirmou que há outros alunos travestis, mas nenhum caso de preconceito chegou ao conhecimento dos representantes dos alunos. "Iremos apurar o caso", informou o presidente Uirislan Schiebe. No antigo ambiente de trabalho, segundo ela, o medo de demissões impede que os funcionários comentem sobre o caso. A reportagem tentou ouvir a opinião de ex-colegas de Giselle, mas ninguém quis comentar a denúncia.
Para a jovem, o problema vivido na universidade revela um preconceito muito forte, principalmente no ambiente acadêmico. "A faculdade deveria ser um lugar de respeito às diferenças". Mesmo com os transtornos, a universitária diz estar satisfeita com a decisão que tomou. Ela disse, no entanto, que não pretende fazer a cirurgia de mudança de sexo. (RRo)
Publicado no Jornal OTEMPO.
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Postado por
William Junior
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21:32
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Não tenho nada contra o facto de cada um assumir-se como entende, mas que há muito carnaval, isso há.
ResponderExcluirAcho muito bem que se derrubem preconceitos, mas muitas destas pessoas fazem gala, em se sentir perseguidas, descriminadas.
Tudo para dar nas vistas