quarta-feira, 2 de março de 2011

Admirável Mundo Novo







O título não é original. Reproduz o nome de uma das mais memoráveis obras literárias do séc. XX, de Aldous Huxley. Uma ficção que anteviu significativos sintomas deste novo milênio, especialmente as relações pessoais líquidas, voláteis, cada vez mais pautadas pela busca do prazer, o que também decorre do uso de remédios que induzem cada pessoa a uma sensação inabalável de felicidade e bem-estar.
Este mundo futurista de Huxley é calcado na idéia de ordem e estabilidade, onde cada indivíduo ocupa um lugar pré-determinado na sociedade. Todos são condicionados, permanentemente, a aceitar o seu status quo, imutável. A sociedade limpa, perfeita e acabada. Ado, ado, cada um no seu quadrado!
Aldous não conseguiu prever o fenômeno da internet. Menos ainda a voracidade veloz da comunicação internética. Infinitamente distante ficou das redes sociais. O bolo é que o apanágio de um mundo estável ruiu, feneceu, implodiu. A grande bomba é a internet e as redes sociais.
Trata-se de uma força invisível, virtual, real, com inúmeros agentes, muitos com inúmeras máscaras. É o que se quer ser. Ou não. Esta seiva é forjada por pessoas e seus avatares, num espaço cibernético sem dono, sem limites, sem opressão, sem censura. Claro, os ditadores e patifes de todo o gênero tentam controlar, mas o esforço tem sido inócuo. Que assim continue.
Para o bem ou para o mal? Como qualquer instrumento (uma faca, por exemplo), pode ser utilizado para um fim ou outro. A questão é que movimentos virtuais tem se concretizado em turbilhões reais antes inimagináveis. Mobilizam pessoas. Derrubam governos. Transformam a sociedade.
Do alto de quarenta séculos de história, parodiando Napoleão, o Egito viu um regime despótico sucumbir, após 30 anos da dominação mubarakiana. Antes foi a Tunísia. Agora, o Iêmem, o Bahrein e a Líbia tremem com a força dos protestos. Os tiranos estão com as calças nas mãos!
Muammar Kadafi, há 40 anos no comando da Líbia, faz de conta que nada ocorre. Com a maior cara-de-pau faz passeatas com o seu séquito, melhor, com a sua escória parasitária, como todo ditador petulante. Diz governar uma República (pasmem! São mais de 300 mortos até agora!), cujo lema é liberdade, socialismo e unidade. Liberdade para quem? Hipocrisia pura, o que é natural aos déspotas de todo o gênero.
Enquanto isso, os norte-americanos estão rebolando. Após apoiar grande parte de regimes ditatoriais do séc. XX (Iemen, Egito, Bahrein, Brasil, Argentina, Chile... etc...etc...etc...), se vêem forçados a apoiar as mobilizações populares, que desestabilizam aliados e inimigos. Também não imaginam muito que fazer com o seu pragmatismo.
O que virá? Não se sabe. Ao menos, será muito melhor do que era. É o que se deseja, se a vontade das massas em alvoroço se concretizar. Talvez Arnaldo Jabor tenha razão: são revoluções sem líderes, logo, sem similar na história humana.
Eis a internet, já acusada de enclausurar as pessoas na frente de uma tela reluzente, forjando uma cidadania crítica e atuante, aproximando pessoas, corações e almas. Que esta turba virtual varra todos os quadrantes terrestres. Que se espalhe e alcance as pagas ditatoriais da América e do mundo. Que continue a tecer consciências e a impulsionar ações transformadoras. Olha, Aldous Huxley, neste aspecto, é um admirável mundo novo! Voalá! Como dizia Freddie Mercury em uma imortal música: The show must go on! (O show não pode parar). Vale a pena ouví-la.

Por Giovani Corralo.


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