
É muito fácil se sensibilizar com a tragédia dos outros. A dor alheia, por pior que pareça, é suportável. A distância se transforma num abismo imperscrutável para a existência fática dos tormentos não experimentados. Difícil mesmo é vivenciar e suportar as tragédias da vida, ainda mais quando deixam cicatrizes abertas e profundas.
Para o Brasil meridional, localizado no outro lado do mundo, o drama japonês apresenta esta característica, pois está distante, o que não ocorre com São Lourenço, imersa por uma forte enxurrada na semana passada. Impactos mundialmente distintos para tragédias distintas. Para muitas famílias, trata-se da mesma dor e sofrimento, lá e aqui.
Neste mesmo lapso de tempo escândalos sacodem o sul do Brasil com fortíssimos indícios de licitações fraudadas para o favorecimento de empresas fornecedoras de controladores eletrônicos de velocidades. São os famosos pardais e caetanos. Agentes públicos são flagrados fazendo sacanagem, juntamente com representantes de algumas empresas. A sociedade gaúcha entra em alvoroço.
A indignação também obedece a mesma lógica da suportabilidade das dores. Quanto mais próximo do fator desencadeador, maior a indignação. Isso é humano e natural. E assim deve ser diante de situações que remontem a qualquer forma de corrupção ou utilização indevida de recursos públicos. O cidadão tem que acompanhar o que acontece na sua cidade. Tem que cobrar austeridade dos homens públicos.
A questão crucial reside no achincalhamento indistinto de todos os que se encontram na vida pública. Diante de algum escândalo é fácil – para muitos é bom demais – encher o peito e esculhambar os políticos. Reaparece o jargão: “nenhum político presta” ou “todos são iguais” (no sentido pejorativo, é claro). Eis algo que “enche o saco”! Cada vez mais se entende a razão de muita gente correta e ética não querer participar mais ativamente da vida pública!
A política é como toda e qualquer atividade humana: há os bons e há os sacanas. A diferença é que cabe à população fazer as escolhas. É o povo quem escolhe, logo, boas escolhas repercutirão em bons homens públicos. Infelizmente, não é o que sempre acontece. A questão é que há, sim, o joio (planta poácea e nociva que nasce nos trigais) e o trigo.
Investigar e combater toda e qualquer forma de corrupção e malversação de recursos públicos, sim. Fazer sensacionalismo, aparecimentos teatrais e acusações levianas, não. O fato de haver sacanagem em alguns municípios nas contratações das lombadas eletrônicas e pardais em hipótese alguma pode levar a ilações de ilegalidades em todos que possuam tais contratos.
Por ora, é isto. A François Miterrand, grande estadista francês da segunda metade do séc. XX, a referência pelo uso do título de uma clássica obra de sua autoria, da década de 70, intitulada “O joio e o trigo”, formada por dezenas de textos esparsos. Vai bem a citação deste exemplar líder político, cuja retidão, probidade e realizações o colocam no panteão dos grandes homens públicos do século passado.
Por Giovani Corralo.
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Tenho amigos em São Lourenço do Sul. Alguns perderam tudo. Felizmente estão bem de saúde.
ResponderExcluirSobre a corrupção, vejo como um problema cultural muito grave.
Parabéns pelo artigo e pelo blog!