sábado, 15 de maio de 2010
Quando perguntar é melhor que responder
Foi dito por tantos que foram as perguntas que alavancaram o desenvolvimento da humanidade. No começo havia o nada e, de repente, fiat lux (fez-se a luz). No começo nada se sabia, nada se havia, nada se respondia e tudo se era perguntado. Faltava luz a tudo e então o homem criou Deus e criou instantaneamente as religiões. E, assim, por decreto, magia, necessidade – fiat lux. As respostas estavam sobre a mesa, nada havia mais a ser perguntado porque não havia nenhuma necessidade de perguntas. E as respostas estavam postas. Nada havia a contestar.
E caminhamos no manto da proteção da fé incondicional, por comodidade, por inapetência de respostas, por medo de sermos queimados vivos, por pura opção ou pelo encontro com o Criador, por longos séculos até que alguém começou a observar a movimentação dos astros e compreendeu que a terra era quase nada. Se a terra era quase nada, quem era o homem e qual era o seu desiderato?
Descobriu-se, também, através das lentes dos microscópios, que dentro de nós viviam seres minúsculos, os microorganismos e as perguntas retornaram. Onde residia maior mistério – nas estrelas (fora de nós) ou no interior de nossos corpos? A ciência trazia mais e mais informações sobre doenças e curas, sobre os mistérios do universo, sobre a antropologia. Mas, a religião não tinha todas as respostas? Por que, então, continuava, o homem, inquieto?
Era possível conciliar religião (fé) e ciência ou eram excludentes?
Divididos, os homens continuaram debatendo. As argumentações metafísicas de testemunho pessoal, são subjetivas e carregadas de sentimentos, ora doentes, ora extremamente sadios. As elucidações científicas são, por vezes, complexas demais para entender. Muitas vezes, resta o silêncio e a sensação de pequenez. Ou, a aceitação pura e simples.
Um visionário (Aldous Huxley) escreveu sobre um Admirável Mundo Novo criado pela ciência e que viria resolver os milenares problemas que angustiaram os seres humanos, como a fome, as doenças, as desigualdades sociais e a morte. Nesse mundo novo, o homem teria dominado tudo, ninguém teria aborrecimentos porque a eternidade e a juventude fora conquistada e todos viviam felizes e sem necessidades. Era um visionário. Como poderia alguém aludir a um mundo sem necessidades e, portanto, sem a necessidade da presença divina?
Pois, estamos chegando lá. A ciência, através das células tronco renovando continuamente os tecidos falhos ou que envelhecem, a manipulação de cromossomas inibindo replicações defeituosas e a nanotecnologia que tratará de nossas imperfeições orgânicas em nível molecular, em cinqüenta anos promete a eternidade e juventude. Seria um adeus à morte física. Dominando seus temores através da ciência haverá necessidade de religião? É possível viver sem Deus? O tempo dirá.
No começo era o nada. Depois, veio a religião. Após, a ciência sem religião. Enfim, a ligação entre as duas. Talvez estejamos voltando a uma existência sem religiões e, finalmente, podendo sentar à mesa e conversar abertamente com Augusto Comte e seu positivismo. Neste o homem e seu meio evoluiria por si mesmo e pela ciência, sem Deus. Seria Amor por princípio, Ordem como regra e Progresso como fim, como escrito e eternizado na nossa bandeira.
O futuro que aí está a nossa porta, o futuro e o progresso esclarecerão e darão as respostas a tudo o perguntado. Será? Tão logo as tenhamos encomendaremos outros questionamentos porque a gente é assim, inquieto.
Jorge Anunciação.
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William Junior
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Dúvidas e respostas sempre haverão de existir.
ResponderExcluirAbraços forte
Querido William!
ResponderExcluirPrimeiramente, meus parabéns pela qualidade e riqueza de seu texto! Religião e ciência são dois pilares da existência humana. Sempre questionaremos porque, como você bem escreveu, questionar faz parte de nossa existência. Vejo a ciência como peça chave para os descobrimentos e explicações ligadas a nossa matéria, genericamente falando. A religião é o alento da alma. Ironicamente as duas coisas, ao mesmo tempo que são contrárias; se complementam. Seria um paradoxo pensarmos dessa forma? Claro que sim, aliás, a própria existência é paradoxal. Portanto, nunca deixaremos de indagar, nunca deixaremos de buscar sentidos que guiem os sentidos humanos...ou seria o contrário?
Grande beijo. Maravilha de texto! Parabéns!
Jackie