sábado, 22 de maio de 2010

Homens plantados que não nascem mais



O amigo certamente haverá de estranhar o fato de o título deste texto, envolver “homens” e a história estar relacionada a bichos, mais precisamente um “bando” abelhas nocivas (no pior sentido da palavra). Digamos que esse procedimento esteja relacionado às coisas permitidas pela liberdade poética.
“Homens plantados que não nascem mais” é a metáfora que encontrei para definir o sono eterno que todos os homens haverão de dormir um dia sob a terra quando a vida exigir de volta o corpo que lhes empresta durante a sua passagem por aqui. Nessa fase da existência, os homens são transformados em sementes ocas, que delas fogem a vida. É a carne que veio do verbo retornando ao pó. É sobre a terra que os homens nascem, florescem e frutificam: alguns de maneira sublime, outros de maneira perversa. E foi justamente essa frutificação perversa de alguns homens que gerou a história a seguir.
Tudo na floresta transcorria na maior normalidade. Cada bicho na sua rotina. Só que essa normalidade foi interrompida quando para lá se mudou um bando de abelhas com atitudes bem diferentes das abelhas que moravam na floresta. Eu poderia ter usado o coletivo enxame, mas recorri à palavra bando por causa das coisas que as abelhas estrangeiras aprontaram. Não houve bicho na floresta que não tomou conhecimento da chegada delas. Foi um barulho enlouquecedor, milhares de asas ruflando de modo diferente, como se fossem máquinas ligadas. Foi assustador. Muitos bichos fugiram de tão assustados.
Essas abelhas, ao contrário das que moravam na floresta, inventaram um jeito novo de produzir mel. Só que isso não durou muito tempo, devido ao caos que elas geraram. Ao contrário das que moravam na floresta, que realizam em média 40 voos diários na busca de néctar nas visitas a milhares flores, as estrangeiras eliminaram esse processo. Elas se diziam modernas e falavam aos bichos assustados com o aparecimento inesperado delas que iriam revolucionar a vida na floresta.
Trataram, então, de fazer uma parceria com as formigas saúvas, cuja tarefa era cortar as flores bem ao pé do talo e transportá-las até a porta das colmeias, que tomaram conta do oco de todas as árvores, deixando assim muitas corujas e outros bichos sem lugar para morar. As pobres saúvas só muito tempo depois, quando já não havia mais tempo para salvar a floresta, é que perceberam a letalidade da parceria. Isso após a morte de milhares delas por falta de plantas na floresta. As remanescentes foram as que mais sofreram: na ânsia de sobreviver, recorriam a folhas secas como alimento.
A tarefa das formigas era no sentido de poupar as abelhas estrangeiras do trabalho de voar inúmeras vezes durante o dia em busca de néctar. Elas queriam também ficar livres da tarefa de lamber milhares de flores diariamente e armazenar na garganta o néctar recolhido e depois vomitá-lo na língua de outras abelhas até que água do néctar evaporasse e se transformasse em mel. Deste trabalho, entretanto, elas não tiveram como escapar. A princípio até pensaram jogar tal incumbência às saúvas, mas perceberam a incapacidade das formigas para a função. Em pouco tempo, as saúvas cortaram todas as flores da floresta. Não ficou uma florzinha sequer viva. Foi aí que veio o caos. Afinal, não havendo flores, não há frutos; não havendo frutos, não há comida para os bichos que se alimentam deles; não havendo frutos, não há sementes; não havendo sementes, não há nascimento de plantas.
A floresta se tornou um grande cemitério de árvores secas...

Prof. Sinésio Dioliveira

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2 comentários:

  1. Percebo um tom metafórico, gritante, no texto. Há de se saber o que iremos plantar, bem como as parcerias que vamos formalizar. As mesmas podem nos alçar aos céus ou nos enviar ao inferno.

    Grande abraço.
    Ótimo final de semana.

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  2. HA vida não pode ser isolada temo que viver em comunidades,isolados ficaremos desatendido,mas tudo que se faz tem que haver sustetabilidade e responsabilidade com o meio que se vive.

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