sábado, 29 de maio de 2010

O MELHOR INIMIGO DO BRASIL



Neste momento, tudo é Copa do Mundo. Passamos pelas vitrines do shopping e o verde-amarelo predomina, bolas de futebol abundam, cartazes trazem o logotipo da Copa Sul-africana – a primeira naquele continente. Criam-se produtos temáticos de cama, mesa e banho; também álbuns, canetas, cadernos, porta-retratos etc. TVs são oferecidas e vendidas a rodo. E, por falar em vendas, os comerciais de qualquer produto nos remetem ao futebol, seja para ofertar canos hidráulicos, computadores, alimentos... Mas, principalmente, cerveja.

E foi assistindo as propagandas de cerveja que algo chamou minha atenção: os publicitários deixaram as mulheres gostosas um pouquinho no banco de reservas e escalaram um novo centro-avante. Seu nome, Argentina. Mais especificamente, a Seleção Argentina. Ou, quem sabe, a passional torcida do país vizinho. Em cima do lance me dou conta: ao escolhermos essa esquadra como nossa maior vítima (sim, os comerciais ridicularizam los hermanos), prestamos uma homenagem às avessas. Mais um dos tantos exemplos de uma relação de amor e ódio com a nação platina que, ainda agora – dia 25 de maio –, completou os duzentos anos de independência da Espanha.

A Argentina é, historicamente, o melhor inimigo do Brasil. Nascido e criado no extremo sul, vivo tal realidade de forma mais próxima. As fronteiras rio-grandenses com os demais países do Prata estavam conflagradas até quase ontem. Lutas fratricidas deixavam em campos opostos os gaúchos e os gauchos, cada um zelando pelos interesses econômicos de sua nação. Diz que o Terceiro Exército, na hora de simular uma guerra, avança na grande área Argentina pedalando feito Robinho. Teorias conspiratórias associam a construção de Itaipu com sua localização militarmente estratégica na tríplice fronteira. Sei lá...

Certo mesmo é que, durante muitos anos, os brasileiros se ressentiram de um inegável predomínio argentino na América do Sul: economia forte, cultura, educação e qualidade de vida superior ao gigantesco vizinho lusófono. Quando um europeu se referia a Buenos Aires como sendo nossa capital, morríamos por dentro. Porém, os últimos cinquenta anos foram cruéis com a Argentina. Governos populistas, para não dizer outras coisas, foram concomitantes com o avanço verde e amarelo. O Brasil está muito longe de ser uma nação equilibrada em termos de distribuição de riquezas, mas, ainda que tarde, assumiu de vez a dianteira na política e na economia latino-americana. Hoje, o estado de São Paulo, sozinho, já é mais do que a maioria dos países com os quais o Brasil faz fronteira. Isto já é goleada.

Voltando para o futebol, nada é mais saboroso para um brasileiro do que curtir uma vitória sobre a Argentina e, desconfio, vice-versa. E secar, então? Que delícia! Assim, uma criança já nasce com dois uniformes para idolatrar: um por amor, outro por aversão. Muito por aí, associar este prazer à cerveja nem chega a ser uma ideia brilhante. Mesmo assim, é como uma piada que não perde jamais a graça – seguimos tocando flauta e as cervejarias faturando. Parece Grenal, Flaflu, Bavi, Atletiba e os tantos embates clubísticos que inflamam nossos estádios.

O que ninguém fala é da ironia do destino: a forma aguerrida e passional que o técnico Dunga dita aos canarinhos nada mais é do que uma leitura gaúcha de como jogar bola – sistema consagrado nos gramados uruguaios e argentinos. E, ao elevarem para um patamar de deus o craque Maradona, ao apostarem as fichas na genialidade do Messi, nossos irmãos curvam-se diante do futebol arte, tradição na pátria do Rei Pelé. De tanto andarem juntos (mesmo que aos empurrões), veja só, Brasil e Argentina, esses melhores inimigos, confundiram as próprias pernas. Será pênalti?


Rubem Penz.

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8 comentários:

  1. bah eu nem tinha reparadon nisso
    mas confesso q prefiro os atacantes q as gostosas kkkkkk
    fato é q copa é um belo marketing
    beijo grande guri

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  2. A unica coisa que espero é não ter que ver o Maradona pelado.
    Meu carinho

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  3. São abusados, os nosso hermanos argentinos
    Mas somos melhores. deixem fazer suas troças que nós vamos jogar futebol

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  4. Eu não entendo nada de futebol. Já fui duas vezes a Rosário e Bariloche - inesquecível. Acho o futebol algo muito rentável por estar vinvulado a muitas coisas: artes, famosos, outros espoertes. Realmente, a Argentina é algo sério. Prefiro que continuem a deixá-los sem graça nas propagandas, do que a relação mulher, cerveja e boa. Nunca sabemos se falam da cerveja, da mulher ou de ambas.
    Bela postagem!

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  5. Verdade, reparei nisso mesmo, parece que quando a Argentina está quietinha o Brasil vai lá e dá um pontapé nele pra manter a briga viva :D

    Conspiração @@

    Otima postagem ;D

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  6. Eu acho o seguinte, se o episodio da Copa de 90 se repetir não pela figura de Maradona, mas sim de um Messi, daí sim eu gostaria de assistir às propagandas argentinas de cerveja, ou qq outro produto, pós-Copa!

    Abraços

    Daniel
    www.ideiascorporativas.wordpress.com

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  7. Marx disse que a religião é o ópio do povo, isso naquela epoca, hoje seguramente ele mudaria de opinião, caso tivesse honestidade intelectual

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  8. essa broca com os "do outro lado" da fronteira é não é apenas alegoria. Nós gauchos, odiamos quando eles "invadem" nossas praias (traduzindo: Capãp da Canoa, Torres e todas as terras paradisícas de Sabta, mais ao Norte) e estouram todas as vagas em hotés, restaurantes, shopings, cinemas, boates, levando ocusto do veraneioa na estratosfera...tomara que o nosso Real$ esteja sempre forte, para mante-los bem longe daqui...

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