sábado, 8 de maio de 2010

A falibilidade da ciência como prova



No nosso dia a dia, é comum ouvirmos dizer; “não se pode afirmar, ou mesmo crer, nisso ou naquilo, pois, tal ainda não fora comprovado pela ciência”. Poucos se lembram que as verdades científicas são efêmeras, incertas, mutáveis e passageiras. Não se pode também desconsiderar que as ciências, também, deixam se influenciar pelo seu tempo e época. A ciência renova-se sem cessar. Seus métodos, assim como suas teorias e cálculos, adquiridos com muitos esforços, desabam frente à uma observação mais arguta, mais profunda, ou mesmo, mais perspicaz.
Há exemplos de sobra registrados em nossa história: o átomo, como a menor partícula de da matéria, serviu de base para a Física e a Química por mais de 2000 anos. Eram tidos como fatos sobejamente comprovados – em duas ciências das mais exatas. Se alguém, hoje aparecer num congresso de Física ou de Química, defendendo tal idéia, seria no mínimo tachado de lunático ou de idiota.
Eu, mesmo, apesar de ainda não ter completado dois mil anos; como médico, já vivi alguns fatos que corroboram o início deste artigo. Formei-me em medicina em 1979; em cirurgia em 1982 e fui trabalhar na área de Cirurgia Digestiva. Naquela época, como hoje, ainda existe uma doença muito conhecida de todos: “úlcera do estômago ou do duodeno”, mais conhecida como úlcera gástrica, um verdadeiro inferno na vida dos doentes. Quem tinha tal problema estava condenado a conviver com a dor, com sangramentos de repetição, ou vômitos por conta de estreitamento no estômago, causado pela úlcera.
Na época, quando íamos aos congressos de cirurgia, assistíamos ao desfile dos grandes sábios de nossa especialidade, todos preceituando a necessidade de se retirar grande parte dos estômagos dos pacientes, para curá-los das úlceras. “Choviam as afirmações do tipo – foram feitos tais e tais trabalhos, nos Estados Unidos (e como nós, médicos brasileiros, gostamos de citar os americanos!); tais trabalhos comprovam, cientificamente: o único caminho para se curar esses doentes, é se retirar ou ressecar dois terços de seus estômagos”.
Na época, existia um famoso cirurgião paulista, estrela dos nossos congressos, que se vangloriava em realizar tal cirurgia em alguns minutos – sem dúvidas um ás da cura da úlcera. Claro, com tal rapidez e habilidade – amputava vários estômagos por dia – tudo baseado em fatos fartos e cientificamente comprovados, ainda mais: comprovados pelos deuses da ciência moderna – os americanos.
E o que virou de tais doentes operados? Uns, poucos, melhoraram; outros continuaram na mesma situação; e vários carregam até hoje, os resultados de uma cirurgia pior que a própria doença.
E o que ocorreu com a doença úlcera péptica? Nos anos cirúrgicos – descritos acima – a verdade científica afirmava que quem tinha tal doença, possuía um desequilíbrio na produção de ácidos no estômago, que como dissemos, só a cirurgia poderia corrigir. Até que há mais ou menos 20 anos, descobriu-se uma pequena bactéria – chamada Helicobacter pylori, que quando erradicada do estômago, com medicamentos – não mais com cirurgia – a doença ulcerosa péptica desaparecia. E quase ninguém mais se operou de úlcera daí em diante.
Esse achado foi tão marcante na vida das pessoas que os pesquisadores que descreveram tal germe foram, recentemente, agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina.
Daí, retiramos uma grande lição: a ciência, mesmo do alto de seu pedestal, não é infalível e não tem muita autoridade para afirmar, se isso, ou aquilo é verdadeiro ou falso. Simplesmente, porque sua visão é efêmera e transitória.
Está longe de ser uma verdade absoluta.


Luiz Carlos Martins de Morais.

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Um comentário:

  1. Achei bastante interessante e lúcido .
    Eu também penso assim . E vou mais adiante acho nossa ciencia um tanto materialista . O dia em que a ciencia admitir um outro elemento , alem do agua , solo e ar , ou seja o elemento fogo , que é a origem de tudo , ela estará caminhando para a evolução .

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