quinta-feira, 6 de maio de 2010

Alimentação emocional - II



No artigo anterior enfatizei um caminho que os empresários do ramo da alimentação têm para melhorar os resultados de seu empreendimento. Propus o que apresentei aos empreendedores brasileiros na Restaubar Show 2010, no dia 27 de abril passado: A implantação do conceito “Alimentação emocional” dentro das empresas. Com o objetivo de ampliar a nossa compreensão, se fez necessário acrescentar a definição de mais dois conceitos: “Atendimento emocional” e “Inteligência emocional”.
“Alimentação emocional” é um conceito que venho desenvolvendo no campo da Psicologia e que se fundamenta em minha experiência clínica e acadêmica. Busquei o alicerce teórico através de algumas manifestações emocionais do ser humano, sedimentadas no cotidiano e investigadas por estudiosos. São elas: a busca desmedida da autoestima, a acentuada instabilidade emocional, a inaceitável insignificância do ser, a incômoda certeza da finitude e a subjetiva angústia existencial.
Para falar de “Alimentação emocional” é importante buscar o conceito de alimentação, que em sua definição primária é o processo pelo qual os organismos obtêm e assimilam alimentos ou nutrientes para as suas funções vitais. Na linguagem vernácula, alimentação é o conjunto de hábitos e substâncias que o homem usa, não só em relação às suas funções vitais, mas também como um elemento da sua cultura e para manter ou melhorar a sua saúde. No mundo psíquico, podemos dizer que alimentação é o processo pelo qual a psique obtém e assimila nutrientes para o seu desenvolvimento.
Com o intuito de manter o nosso organismo em funcionamento precisamos de um alimento que atenda as nossas necessidades físicas e para manter a nossa psique em funcionamento precisamos de um alimento que atenda as nossas necessidades psíquicas. O alimento físico é aquele que consegue nutrir o nosso organismo e o psíquico o que consegue nutrir a nossa psique. Resumidamente, necessitamos de dois tipos de alimentação, uma orgânica (física) e outra emocional (psíquica). A aquisição dos alimentos orgânicos se dá através da pesca, caça, agricultura, pecuária e outros métodos eleitos pela cultura, enquanto a aquisição de alimentos psíquicos se dá através dos acontecimentos que o nosso campo perceptivo consegue abarcar.
No mundo onde a depressão está prognosticada pela (OMS) Organização Mundial da Saúde a ser a maior doença do planeta em 2030, onde a insegurança é uma constante, a infidelidade se tornou uma rotina, a competição se transformou em lei e a insensibilidade é utilizada como defesa é evidente que a nossa “fome emocional” não vai abrandar.
Perceba que não é difícil chegar à conclusão de que não satisfazemos de forma completa nosso cliente quando lhe fornecemos somente a alimentação física. Para o empresário que quer ir além, não basta só saciar a fome orgânica do seu cliente, é necessário suprir a sua fome emocional, ocultada por ele e até então desentendida por nós.
Para saciar o cliente em sua fome emocional só possuímos um caminho a ser percorrido: o “atendimento emocional”. Trata-se de uma postura subjetiva daquele que atende, que possuído de uma sabedoria emocional consegue entender que a transparência e a fidelidade são normas naturais desse encontro.
A empatia é outro fator singular para o alcance do “atendimento emocional” e ao mesmo tempo algo difícil de ser executado. Difícil, porque quanto mais vemos no outro suas deficiências, e que se assemelham às nossas, mais temos predisposição em desconsiderá-lo e de evidenciá-las de forma pejorativa, pois evidenciando nele estaremos negando em nós. Por outro ângulo podemos perceber que encontrando alguma deficiência no outro temos a predisposição de exaltá-las, pois assim conseguimos ocultar as nossas. Veja o quanto é difícil o exercício da empatia, pois estamos sempre – de forma inconsciente – procurando nos outros seus defeitos com o objetivo de assim esconder os nossos. Mas o hábito de aceitar e entender a nossa condição de imperfeitos e eternos aprendizes faz com que saibamos assumir nossas falhas e assim nos abastecemos de sabedoria para suprimi-las. Aceitando nossos defeitos e nossas qualidades nos tornamos mais propensos a aceitar os defeitos e as qualidades dos outros, e essa é a via da empatia.
Por último vamos falar da tão conhecida e difundida “Inteligência Emocional”, conceito indispensável ao nosso entendimento para a introdução da “alimentação emocional” e a aplicação do “atendimento emocional”. Trazemos o conceito de “inteligência emocional” apresentado por Peter Salovey & John D. Mayer em 1990 e atualizado no ano de 2000 em uma definição mais clara: “... a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.”
Eles dividiram a inteligência emocional em quatro domínios, a saber:
1. Percepção das emoções – inclui habilidades envolvidas na identificação por estímulos, como a voz ou a expressão facial, por exemplo. A pessoa que possui essa habilidade identifica a variação e mudança no estado emocional da outra.
2. Utilização das emoções – implica na capacidade de empregar as informações emocionais para facilitar o pensamento e o raciocínio.
3. Entendimento das emoções – é a habilidade de captar variações emocionais nem sempre evidentes.
4. Controle (e transformação) das emoções – constitui o aspecto mais facilmente reconhecido da inteligência emocional, é a aptidão para lidar com os próprios sentimentos.
É importante compreender que na teoria, inteligência emocional se parece muito com o céu, tudo é divino, lindo e maravilhoso, mas quando levamos para a prática começamos a ver uma contradição infernal e nos abestalhamos em nossas inter-relações. Primeiro é necessário entender o que se passa dentro de nós e a partir daí saber lidar conosco, para depois saber lidar com o outro.


Renner Cândido.

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