Não temos a pretensão e nem o direito
de dizer que todas as pessoas estão doentes e precisam de ajuda; entretanto,
não podemos negar que no mundo atual diante de tanta violência, há um número
que se eleva dia a dia de pessoas que precisam buscar ajuda profissional (uma
boa psicoterapia) para melhorar a si mesma e com isso melhorar ou ajudar na
melhora daquelas que estão a sua volta.
Como temos coloca em nossos
textos sobre as fugas psíquicas, observamos cada vez mais pessoas fugindo de si
mesmas. Como nos coloca Chico Buarque quando diz que “solidão é quando perdemos
a nós mesmos e em vão procuramos nossa alma”. Hoje os maiores refúgios dessas
pessoas estão no álcool e nas outras drogas tidas como ilícitas, mas que é
usada em qualquer lugar, como, por exemplo, a maconha e, porque não, também a
cocaína.
Tenho dito aos meus pacientes
no início do tratamento que comigo eles têm duas opções durante o tratamento:
‘ou eles se curam, ou eles se curam’, não costumo dar a eles uma terceira
opção; mas muitos deles na verdade não procuram terapia para se curar ou se
melhorar; mas apenas para dizerem que estão se tratando, motivo esse do porque
muitos abandonam o tratamento ou ficam pulando de galho em galho – a cada mês
está com um profissional diferente ou buscando tratamentos alternativos que
apenas mascaram a dor e o sofrimento; mas não chegam à raiz do ‘problema’.
Trabalham os sintomas; mas não buscam a causa real do transtorno.
Também não podemos negar que um
tratamento psicoterápico requer um tempo maior, ou seja, não inferior a seis
meses. Assim com os custos que a priori está fora do orçamento; porém, os
custos serão ainda maioria quando chegar ao corpo físico e necessitar também de
terapia medicamentosa. Embora cada caso seja um caso.
Nem todas as pessoas têm
recursos internos iguais para lidar com situações adversas e superá-las;
aspectos biológicos e socioculturais influem nessa preciosa habilidade de
sobreviver aos desafios do mundo atual. As dores psíquicas sempre acompanharam
os seres humanos. Porém foi praticamente a partir de Freud que essas dores
foram melhores estudas e hoje grandes profissionais da área têm buscado maiores
recursos para melhorar ajudá-los.
A psicoterapia breve holística
faz uso de uma dinâmica maior no tratamento e o profissional não é mais aquele
do século passado que fica apenas olhando para o paciente a espera de
informações e dados. Existe uma interação real entre psicoterapeuta e paciente.
Algumas pessoas possui uma
estrutura de personalidade que poderíamos chamar de “personalidade resistente”
às mudanças. São pessoas que vivem em função do ego e se caracterizam dentro de
padrões por ele mesmo criado. São, na maioria, egoístas, arrogantes,
intransigentes, orgulhosos, etc.; mas ao mesmo tempo está nos pontos opostos do
que chamamos de “QI” ou possui um ‘QI’ muito elevado ou fica a desejar quanto
ao nível de intelectualidade. São também pessoas com desvio de caráter. Pessoas
ansiosas, calculistas, materialista ao extremo – apegadas.
Essas pessoas não procuram
ajuda quase nunca; pois se veem como melhores do que as outras e jamais admite
ter que dividir suas ‘intimidades’ com um desconhecido. Esquecem que são
desconhecidas delas mesmas. São as mesmas pessoas que projetam no outro tudo
aquilo que não quer enxergar em si mesmas. Nada é para ela ou dela; mas do
outro. Estão sempre devolvendo ao outro qualquer tipo de sugestão para um
tratamento psicoterápico: “Eu não preciso de ajuda!”. “Você é que precisa desse
tipo de ‘médico’”. “Eu não estou doido, apenas tenho personalidade forte e
ninguém vai me mudar”. Etc.
Não raro, os psicoterapeutas,
psicólogos, psicanalistas recebem em seus consultórios os doentes de
desesperança, “pessoas capturadas pela reação terapêutica negativa, que
procuram ajuda, mas ao mesmo tempo resistem como se empreendessem uma ‘greve
psíquica’” – Fátima Flórido Cesar.
No texto Análise terminável e
interminável, de 1937, Freud questiona seu método veementemente, reconhecendo a
importância da psicanálise como teoria, mas desconfiando de seu valor
terapêutico. Nesse mesmo texto, Freud se refere a resistência poderosa de
algumas pessoas à mudança: a reação terapêutica negativa. Estudos de 1923
nomeados de ego e id. Vê-se nessas pessoas uma ordem invertida: é buscado o
desprazer. Também podemos ver essas pessoas na relação de pulsão de vida e
pulsão de morte. A lógica que se supõe em tais casos é que a pessoa se agarra
ao sofrimento, que repetem dia-a-dia suas mágoas, que se recusam a melhorar – é
denominada de “lógica do desespero, da desesperança”. Os nomeio também como:
“síndrome do vitimismo”.
Tais comportamentos ou tipo de
pensamentos estão muito presentes nos viciados em álcool e outras drogas.
Pessoas resistentes à mudança.
São doentes de desesperança que
atacam a nossa própria esperança: Pierre Fédida denomina-os de “casos
difíceis”. J. B. Pontalis, de “casos intratáveis”. Eu de “casos desafiadores”.
São pacientes que desafia o próprio profissional quanto a sua posição (do
profissional). Para eles nós teríamos que ser “deuses” para poder tratá-los,
pois qualquer erro nosso é motivo para questionamento deles em relação a nossa
tentativa de ajudá-los. Entretanto, somos chamados, atraídos pelo sofrimento
alheio, enquanto questionamos, tal como fez Pontalis: “Que loucura é esta que
nos acomete de quer mudar os outros?”. Fato que não é visto por mim, pois não nos
cabem “Cientistas da alma” pensar que para ajudar o outro é preciso que nos
tornemos “deus”, mesmo porque não cabe ao profissional in loco mudar o outro,
pois como é sabido, ninguém muda ninguém; mas podemos sim ajudar o outro a
encontrar a si mesmo e melhor se adaptar à vida e fazer melhores escolhas para
estar em paz consigo mesmo.
Em detrimento do número de
informação que as pessoas têm atualmente, cada dia requer do psicólogo e/ou
psicoterapeuta larga experiência profissional e pessoal, isso não quer dizer
que o profissional não pode errar e ter “problemas”, enquanto formos espíritos
em evolução erraremos e teremos problemas.
No texto de Joan Riviere temos:
“Há falta de esperança extrema, a proposta de cura analítica, ou seja, ficar
bem e feliz, é sentida pelo paciente como equivalente ao abandono de seus
objetos internos”. Uns amam a dor; outros o amor!
Nesse caso o profissional deve
trabalhar com astúcia para fazer com que o paciente (inconscientemente)
abandone esses objetos internos amados pelo amor a si mesmo. Colocando a si
próprio em primeiro lugar, os “destrói”, em vez de ajudá-los. Essa
resistência tão poderosa é marcada pelo amor aos objetos internos, que provoca
culpa e dor intoleráveis – e pede o sacrifício de sua vida. Motivo pelo qual a
pessoa vai suicidando lentamente, na maioria, através dos vícios. Funciona como
uma autopunição. O profissional ‘já desperto’ trabalha então os objetos
internos primários, pois o paciente não se cura em autossacrifício.
“O que constitui a mola da
reação terapêutica negativa é uma paixão, de curar a mãe enlouquecida no
interior de si mesmo”. Pontalis.
O re-agir corresponde a uma
ação circunscrita ao território das origens, a recusa é uma tentativa de
libertação de mandatos parentais; é como se o paciente dissesse: “Reajo, logo
existo”. Tenho que assumir a responsabilidade sobre meus atos e ações, não
posso mais culpar ninguém pelos meus fracassos e sofrimentos; mais cômodo é me
manter doente.
Como nos coloca Eurípedes
Barsanulfo: “É fácil curar a doença; mas difícil é curar o doente”.
Para esses pacientes eles não
são quem são; mas o que fizeram dele e como os outros (começando pelos pais) o
“construíram”: uma pessoa fraca e doente. Não há cura para mim; mas eles têm
que pagar pelo que fizeram e conservando minha doença os deixo culpados e me
vingo.
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