Jay Olson,
pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Universidade McGill, em Montreal,
Canadá, acredita que as pessoas não são donas de suas escolhas
Em
geral, nós gostamos da ideia de sermos donos de nossas próprias escolhas. Mas
será que somos mesmo? Jay Olson, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da
Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, acredita que não. “O que a
Psicologia está descobrindo cada vez mais é que muitas decisões que tomamos são
influenciadas por fatores dos quais não temos consciência”, explica.
Recentemente,
Olson desenvolveu um engenhoso experimento que demonstra como é fácil manipular
alguém mesmo com uma persuasão quase imperceptível.
Praticante
de truques de mágica desde os sete anos, Olson notou, quando começou a estudar
Psicologia, que muito do que aprendia sobre a mente humana casava com aquilo
que seu hobby já o tinha ensinado principalmente no que se refere à atenção e à
memória.
segundos
Em seu
mestrado, ele realizou vários truques com voluntários, mas um em particular o
ajudou a concluir fatos importantes sobre a influência e a persuasão.
A
mágica consiste em rapidamente manipular um baralho na frente de um voluntário
e depois pedir para que ele escolha uma carta qualquer. O ilusionista, então,
tira uma carta idêntica de seu bolso – para a surpresa e deleite da plateia.
O
segredo do mágico é já escolher ele mesmo uma carta e passar alguns milésimos
de segundo a mais com ela na mão enquanto o baralho é manipulado. Isso
influencia o voluntário a pegar justamente aquela carta.
Olson
percebeu que conseguiu direcionar 103 de 105 participantes. Mas foi a segunda
parte da experiência que mais surpreendeu o psicólogo. Quando interrogou os
voluntários depois, viu que 92% deles não tinham ideia de que estavam sendo
manipulados e acharam que estavam no total controle de suas próprias decisões.
O
pesquisador também descobriu que aspectos como a personalidade do voluntário
não tinham relação com o quanto ele pode ser influenciado – todos pareciam
igualmente vulneráveis.
Mensagens
sutis
As
implicações dessa experiência vão muito além do palco e deveriam servir para
reconsiderarmos nossas percepções sobre nossa vontade própria. Apesar de termos
uma grande sensação de liberdade, nossa capacidade de tomar decisões
deliberadas pode ser uma ilusão. “A liberdade de escolha é só um sentimento –
não está ligada à decisão em si”, afirma Olson.
Não
acredita nele? Lembre-se quando você for a um restaurante. Segundo Olson, o
cliente tem mais chances de pedir o prato que está no topo ou na parte de baixo
do cardápio porque essas são as áreas que mais atraem o olhar. “Mas se alguém
perguntar o porquê da sua escolha, você dirá que está com vontade de comer
aquilo, sem perceber que o restaurante deu uma forcinha”, diz.
A
psicóloga Jennifer McKendrick, da Universidade de Leicester, na Grã-Bretanha,
concluiu, em um estudo, que o simples fato de um supermercado tocar uma música
ambiente francesa ou alemã fazia as pessoas comprarem vinhos desses países.
Segundo
membros da campanha de Al Gore à Presidência dos Estados Unidos em 2000, seus
rivais republicanos faziam a palavra “RATS” (“ratazanas”) aparecer por
milésimos de segundos em anúncios que traziam imagens do democrata, o que teria
espantado muitos de seus eleitores.
O
psicólogo Drew Westen, da Emory University, em Atlanta, criou um candidato
fictício e inseriu a suposta mensagem subliminar em seus anúncios, notando que
voluntários o avaliavam negativamente.
Outra
experiência mostrou ainda que representantes de vendas por telefone registraram
uma performance melhor apenas por ter visto a foto de um atleta ganhando uma
corrida – mesmo sem se lembrarem dela depois.
manipulação
Evidentemente,
esse tipo de conhecimento pode ser usado para a coerção se cair nas mãos
erradas. Por isso, é importante saber quando outras pessoas estão tentando
convencê-lo de algo sem que você perceba.
Com
base em artigos científicos, aqui estão atitudes manipuladoras fáceis de
identificar: O poder do toque, um tapinha nas costas seguido por um contato
visual pode levar uma pessoa a baixar mais a guarda. É uma técnica que Olson
usa em seus truques, mas que pode funcionar no cotidiano.
A
velocidade da fala, Olson diz que mágicos sempre tentam apressar seus
voluntários para que eles escolham a primeira coisa que vem à sua mente – em
geral a ideia que ele plantou. Uma vez que a pessoa fez sua opção, o performer
passa a falar de maneira mais relaxada. Ao se lembrar da experiência, o
voluntário tende a pensar que o tempo todo foi livre para tomar suas próprias
decisões, em seu ritmo.
Atenção
a seu campo de visão, ao passar mais tempo manipulando uma determinada carta de
baralho, Olson a torna mais “saliente”, fazendo-a se fixar na mente do
voluntário sem que este perceba. Há muitas outras maneiras de fazer coisas
semelhantes: colocar um objeto na linha do olhar da outra pessoa ou mover algo
ligeiramente mais perto de um alvo, por exemplo. Pelos mesmos motivos, acabamos
escolhendo a primeira coisa que nos é oferecida.
Algumas
perguntas plantam ideias, quando alguém faz uma sugestão e pergunta aos demais
coisas como “Por que você acha que isso é uma boa ideia?” ou “Na sua opinião,
quais as vantagens disso?”, está, na realidade, deixando os outros se
convencerem a respeito de certas questões por conta própria.
Pode
parecer óbvio, mas fazer com que as pessoas reflitam a partir de ideias
embutidas nas perguntas significa que elas ficarão mais confiantes em tomar
decisões de longo prazo – mesmo não tendo sido ideia delas.
Da BBC Future.
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