Começa a ficar
clara a resposta a uma dúvida crucial do escândalo histórico da Petrobras: o
ovo ou a galinha? Um cartel de empreiteiras aliciou políticos, ou partidos do
governo manipularam um cartel de empreiteiras? A Polícia Federal, o Ministério
Público e a Justiça Federal começam a desvendar o mistério com o nome nada
sutil da nova fase da Operação Lava Jato: A Origem.
O início de tudo
isso não foi um cartel de empresas desses que existe desde sempre, nem foi uma
corrupção, digamos, trivial. A verdadeira origem da sangria da Petrobras foi um
esquema armado por partidos e políticos no poder a partir de 2003.
Primeiro, a Lava
Jato prendeu doleiros, ex-diretores da Petrobras e grandes executivos de
empreiteiras, deixando de lado os parlamentares, que têm o foro privilegiado do
Supremo Tribunal Federal. Comeu pelas bordas, até chegar no ponto central, ou
na "origem": os políticos.
Sem poderes para
botar a mão em senadores, deputados e governadores, a Justiça Federal do Paraná
chegou ao chamado "cerne da questão" por vias indiretas: prendendo na
sexta-feira três ex-deputados, ou seja, três políticos sem mandato e sem foro
privilegiado: André Vargas, ex-petista, Luiz Argôlo, do Solidariedade, e Pedro
Corrêa, o reincidente do PP, já preso pelo mensalão.
Essas prisões vão
definindo os sujeitos e compondo a narrativa com calma e clareza, com
princípio, meio, fim. Também ampliam o raio de ação, que deixa de ser
unicamente a Petrobras e suas contratadas, chega à Caixa Econômica Federal e
atinge a própria administração direta, com o Ministério da Saúde no foco.
Como sempre, as
quantias são de tirar o fôlego: R$ 40 milhões para cá, R$ 80 milhões para lá...
De uma coisa não se pode acusar os bandidos de colarinho branco no Brasil: não
são nada modestos. Tudo é na casa de milhões, senão bilhões.
Enquanto isso, a
presidente Dilma Rousseff investe na sua "agenda positiva" e é capaz
de tirar fotos fazendo coraçãozinho com as duas mãos e até de dizer que a
Petrobras está uma beleza. Agora, além de entrega de casas populares, ela
ganhou de presente do Facebook o "Banda Larga para todos", muito
importante, aliás.
Bem, Dilma tem
mesmo de correr atrás do prejuízo, dando uma entrevista atrás da outra para a
mídia estrangeira e encontrando-se com o presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, no Panamá, para marcar a viagem a Washington ainda neste semestre,
tentar recuperar a confiança, atrair investimentos e reabrir vias comerciais da
maior potência e do maior mercado do planeta. Não era sem tempo. E como o
Brasil anda precisando!
Isso remete a um
regime parlamentarista. Dilma como chefe de Estado, ou "chanceler",
enquanto o vice Michel Temer e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como chefes
de governo, dividem os dissabores da crise econômica e política e disputam as
glórias de primeiros-ministros.
Para Fernando
Henrique Cardoso, a liderança de Dilma "está abalada". Para Aécio
Neves, a entrega da política para Temer foi "renúncia branca". Mas
não custa lembrar que o PSDB surgiu em 1988 com a bandeira do parlamentarismo
e, nesse regime, quem cai não é o presidente, não é Dilma.
Se o ajuste fiscal
e a economia derem com os burros n'água, Levy cai. Se a política explodir,
Temer explode junto. Mas a presidente - ou "rainha da Inglaterra",
como definem os mais ácidos - só renuncia se quiser ou se sofrer um impeachment
à moda presidencialista, o que parece muito improvável.
Dilma está jogando
nacos de poder às feras, mas não é dessas de renunciar. E, como admitem gregos
e troianos, oposicionistas e governistas, o impeachment não depende só de Lula,
PT, PMDB e muito menos só de PSDB, DEM e PPS. Depende das ruas.
As manifestações de
rua são atos que dão luzes, ou rumos, ao governo, aos políticos e aos
analistas. Cabe observar. E aprender.
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