Os consultórios
médicos têm paredes brancas para nos dar uma impressão de limpeza e, em alguns
países, as celas de uma prisão são pintadas de rosa na esperança de que a cor
diminua a agressividade dos detentos.
Somos capazes de passar horas escolhendo a melhor cor
para pintar uma sala ou um quarto de acordo com o astral que queremos para
aquele ambiente. Os consultórios médicos têm paredes brancas para nos dar uma
impressão de limpeza, lanchonetes apostam na vibração do vermelho e do amarelo,
e, em alguns países, as celas de uma prisão são pintadas de rosa na esperança
de que a cor diminua a agressividade dos detentos.
Achamos que sabemos sobre a influência de cada cor
sobre nossas emoções. A ideia de que o vermelho nos mantém em alerta e de que o
azul nos acalma está profundamente arraigada na cultura ocidental – tanto que
muitos consideram isso um fato comprovado. Mas será que as cores são mesmo
capazes de modificar o comportamento?
Se considerarmos as pesquisas científicas
existentes sobre o assunto, vamos descobrir que os resultados são bastante
variados e até disputados.
Associação x influência
O vermelho é a cor mais analisada e tende a ser
comparada com o azul ou o verde. Alguns estudos revelaram que as pessoas
executam melhor tarefas cognitivas quando cercadas da cor vermelha do que
quando expostas ao verde ou ao azul; mas outras pesquisas revelam exatamente o
contrário.
O mecanismo mais citado é o condicionamento: se uma
pessoa passa repetidamente por uma experiência enquanto é cercada por uma cor
específica, começa a associá-la com um determinado sentimento.
Um estudo chegou a mostrar que um indivíduo que
passou toda a vida escolar lendo as anotações em vermelho feitas pelos
professores cada vez que cometia um erro acaba por associar a cor ao perigo.
Já o azul é mais relacionado a situações de
tranquilidade, como olhar o horizonte do mar ou se deliciar com um céu limpo de
um dia ensolarado. Mas, enquanto associações são verdadeiras, a influência das
cores no comportamento é uma questão completamente diferente.
Alerta ou desejo?
Depois de tantos resultados conflitantes entre os
diversos estudos científicos, em 2009 pesquisadores da Universidade da Columbia
Britânica, no Canadá, tentaram esclarecer a questão de uma vez por todas.
Eles pediram para voluntários se sentarem diante de computadores cujas
telas mudaram de azul para vermelho e para uma “cor neutra” e os testaram em
várias tarefas. Quando trabalharam diante da tela vermelha, as pessoas se
saíram melhor em testes de memória ou correção de texto, que requerem atenção
para detalhes, mas quando a tela se tornou azul, elas tiveram melhores
resultados em tarefas criativas.
Os cientistas especularam se o vermelho sinalizaria “cuidado” e se por
isso os voluntários teriam mais atenciosos, enquanto o azul incentivaria um
comportamento de “aproximação” que os encorajava a serem mais livres para
pensar.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores pediram para os mesmos
voluntários resolverem anagramas de diferentes palavras relacionadas aos dois
comportamentos. Eles pareceram descobrir as palavras de “cuidado” mais
rapidamente com a tela vermelha e as de “aproximação”, na tela azul, sugerindo
que as cores e os comportamentos estavam associados em suas mentes.
De qualquer forma, agora essas descobertas estão sendo contestadas.
Quando o mesmo teste foi aplicado em um grupo maior de voluntários, os
cientistas perceberam que não houve diferença por causa das cores.
Outro estudo, conduzido originalmente por Oliver Genschow, da
Universidade da Basiléia, na Suíça, ofereceu a voluntários um prato de
salgadinhos e os orientou a comer quantos julgassem necessários para poder
avaliar seu sabor.
Novamente, a cor vermelha parece ter servido como um alerta, já que as
pessoas que receberam salgadinhos no prato vermelho se serviram de menos
unidades. Mas outro estudo, nos Estados Unidos, realizou a mesma experiência e
comprovou o contrário, que as pessoas com pratos vermelhos comeram mais.
Prisões cor-de-rosa
Obviamente, estudar o efeito das cores é bem mais difícil do que parece
– ou talvez as cores não tenham o efeito que se esperava. Mas estamos tão
convencidos de que elas têm influência que países como Estados Unidos, Suíça,
Alemanha, Polônia, Áustria e Grã-Bretanha decidiram pintar algumas celas de
suas prisões de rosa.
No ano passado, a equipe de Genschow realizou um teste em uma prisão de
segurança máxima na Suíça. Detentos que foram punidos depois de violar regras
internas foram colocados aleatoriamente em celas totalmente rosa e outras com
paredes cinza e teto branco. Depois de três dias, todos eles se mostravam menos
agressivos do que quando entraram. Ou seja, a cor das paredes não fez diferença
alguma. Os autores admitem que um estudo mais amplo poderia ter encontrado
diferenças, mas se a cor só muda o comportamento de poucas pessoas, as
autoridades talvez precisem reavaliar se vale a pena o custo de pintar as
celas.
Os pesquisadores questionaram até o fato de as paredes rosa terem um
efeito negativo caso os prisioneiros se sintam emasculados por ter uma cor tão
feminina nas paredes. Portanto, as cores podem até surtir um efeito, mas até
agora esses resultados têm sido difíceis de comprovar com consistência – ou nem
mesmo existem.
Estudos com melhor controle estão surgindo aos poucos, mas pode levar
algum tempo até que tenhamos uma ideia melhor sobre como as cores nos afetam. E
mais ainda para entendermos os mecanismos exatos pelos quais isso acontece. Ou
seja, por enquanto, a cor das paredes deveria ser uma escolha baseada
inteiramente em gosto pessoal e instinto artístico.
Da BBC Future.
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